Vladimir Nabokov

Livros que eu mais gostei de ter lido em 2021
Literatura
Livros que eu mais gostei de ter lido em 2021
16 de janeiro de 2022 at 19:52 0
  1. “Vulgo Grace”, de Margaret Atwood: a história de um assassinato real ocorrido no século XIX foi o ponto de partida para um livro fascinante, transformado numa série tão fascinante quanto.
  2. “O fim”, de Karl Ove Knausgård: o final da monumental série “Minha luta” mistura ensaios, principalmente sobre o nazismo, e problemas pessoais ligados ao sucesso de seus livros anteriores e ao casamento do autor.
  3. “Mundos paralelos – uma jornada através da criação, das dimensões superiores e do futuro do Cosmo”, de Michio Kaku: a estranha física moderna e valores humanos num livro afetivo e delicioso.
  4. “Os andarilhos do bem”, de Carlo Ginzburg: tudo é estranho neste livro de não-ficção que conta batalhas espirituais contra bruxas na Itália do século XVI.
  5. “O segundo tempo”, de Michel Laub: o narrador desta novela excelente não sabe se vai dar ou não uma notícia ruim a seu irmão mais novo durante um Grenal no estádio Beira Rio, em Porto Alegre.
  6. “O Outono do Patriarca”, de Gabriel García Márquez: só Gabriel García Márquez para conseguir fazer o leitor sentir empatia por um caudilho sanguinário.
  7. “Rei, valete, dama”, de Vladimir Nabokov: já Nabokov não consegue fazer com que o leitor sinta empatia pelos personagens deste romance, mas ele escreve tão bem que isso pouco importa.
  8. “A leitora do Alcorão”, de G. Willow Wilson: autora de HQs, criadora da super-heroína Kamala Khan da Marvel, G. Willow Wilson emociona na descrição de sua conversão ao Islã.
  9. “Amiga de juventude”, de Alice Munro: as histórias da canadense, Nobel de 2012, são pérolas da literatura.
  10. “A gafieira de dois tostões”, de Georges Simenon: conforme o comentário do leitor Heitor Vieira de Resende no site da Amazon, “o pior livro de Simenon é ainda muito bom”. E este certamente não é o pior livro de Simenon.
(foto: Karl Ove Knausgard, obtida no Rascunho)
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Os dois primeiros romances de Vladimir Nabokov
Literatura
Os dois primeiros romances de Vladimir Nabokov
5 de dezembro de 2021 at 20:22 0
Li recentemente os dois primeiros romances de Vladimir Nabokov (1899-1977), “Mary” (Record, 175 páginas, tradução de Pinheiro de Lemos, publicado originalmente em 1926) e “Rei, Valete, Dama” (Artenova, 196 páginas, tradução de Affonso Blacheyre, publicado originalmente em 1928). Os dois livros são da fase russa de Nabokov, um dos raros grandes autores que escreveram partes importantes de sua obra em dois idiomas diferentes  (russo na primeira parte da carreira, inglês na segunda); o próprio escritor ajudou na tradução dos dois livros para a língua inglesa: a de “Mary” foi feita por Michael Glenny e publicada em 1970, enquanto a tradução de “Rei, Valete, Dama” foi feita pelo próprio filho do autor, Dmitri Nabokov, e publicada em 1969.  “Mary” (lançada também em outras edições com o título “Machenka”, conforme o original russo) conta a história, em primeira pessoa, de Lev Glebovich Ganin, um emigrante russo que mora em Berlim. O maior tema do romance é a paixão do narrador por Mary, uma moça por quem ele era apaixonado na infância/adolescência, quando ainda vivia na sua terra natal. Ganin descobre que ela vai chegar em Berlim e sua obsessão pela garota vai tomando conta de todos os aspectos de sua vida. Mas o romance também descreve, com grande quantidade de detalhes, a vida de outros moradores da pensão, como um velho poeta russo, Anton Sergeyevich Podtyagin, uma jovem menina alemã, Klara, a senhoria, Lydia Nikolaevna Dorn, e seu vizinho, Aleksey Ivanovich Alfyorov. “Rei, valete, dama” conta história de um triângulo amoroso: Martha Dreyer é casada com um rico empresário, Kurt Dreyer, e acaba tendo um tórrido caso com o sobrinho do marido, Franz Bubendorf, um jovem pobre que trabalha numa loja do tio. O caso entre Franz e Martha vai tomando ares cada vez mais sinistros, e logo os dois pensam em arranjar um jeito de assassinar Kurt Dreyer.  É difícil ter alguma empatia pelos três personagens principais de “Rei, valete, dama”: Martha e seu amante são frios e calculistas, enquanto Kurt Dreyer é totalmente autocentrado, embora não tenha nenhum traço de maldade. Mas, como escreve Nabokov! Suas descrições são precisas, claras, parece que conseguimos ver tudo o que o grande escritor descreve. Um grande romance do autor russo - como sempre, aliás.
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Livros lidos recentemente
Literatura
Livros lidos recentemente
10 de janeiro de 2021 at 18:39 0
  • “O olho”, de Vladimir Nabokov (Alfaguara, 86 páginas, tradução de José Rubens Siqueira, publicado originalmente em 1965): quarto romance de Nabokov, ainda em sua fase russa, o livro discorre sobre Smurov, jovem russo pobre vivendo no exílio em Berlim e que se suicida logo no início da história. Se no início temos o Nabokov brilhante de sempre, o final do romance deixa um pouco a desejar.
  • “Madame Oráculo”, de Margaret Atwood (Círculo do Livro, 325 páginas, tradução de Domingos Demasi, publicado originalmente em 1976): uma escritora de romances açucarados só pode receber uma herança se emagrecer. O terceiro romance da autora de “O conto da aia” começa brilhantemente, mas, assim como o livro citado acima, se perde um pouco no final.
  • “Amiga de juventude”, de Alice Munro (Biblioteca Azul, 259 páginas, tradução de Elton Mesquita, publicado originalmente em 1990): comentei recentemente o seguinte sobre “A fugitiva”, outro livro de contos da escritora Prêmio Nobel de 2013: “já dá para perceber que a canadense, única pessoa a receber o Nobel de Literatura tendo escrito somente contos na carreira, tem um estilo todo próprio: o negócio então, para mim, é continuar lendo suas ótimas histórias, mesmo que o maravilhamento tenha diminuído muito da leitura de ‘Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento’ para cá”. Pois é, o mesmo vale para este “Amiga de juventude”.
  • “Philosophy, Pussycats, & Porn”, de Stoya (Not a Cult, 148 páginas, publicado originalmente em 2018): nesta coletânea de textos já publicados anteriormente em diversas mídias, a famosa atriz pornô Stoya fala sobre relacionamentos sexuais, apresentações ao vivo, questões relacionadas a trabalhadores do sexo, viagens de trabalho e, como diz o título, filosofia e gatos. Ela escreve muito bem, e o livro é de leitura extremamente agradável.
  • “O segundo tempo”, de Michel Laub (Companhia das Letras, 112 páginas, publicado originalmente em 2006): o narrador desta novela não sabe se vai dar ou não uma notícia ruim a seu irmão mais novo durante um Grenal no estádio Beira Rio, em Porto Alegre. O livro é tão bom quanto “A maçã envenenada”, do mesmo autor, sobre o qual eu tinha comentado aqui.
  • “A gafieira de dois tostões”, de Georges Simenon (Companhia das Letras, 150 páginas, tradução de Eduardo Brandão, publicado originalmente em 1931): antes de ser executado, o condenado Jean Lenoir confessa ao comissário Maigret que foi testemunha de um crime seis anos antes. Conforme o comentário do leitor Heitor Vieira de Resende no site da Amazon, “o pior livro de Simenon é ainda muito bom”. E este certamente não é o pior livro de Simenon!
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Os livros que mais gostei de ter lido em 2020
História, Literatura
Os livros que mais gostei de ter lido em 2020
31 de dezembro de 2020 at 15:16 0
  1. “Gengis Khan e a formação do mundo moderno”, de Jack Weatherford: provavelmente você não sabia que o grande imperador mongol (1158 – 1227) tinha uma mentalidade tão à frente do seu tempo.
  2. “Não me abandone jamais”, de Kazuo Ishiguro: poucos livros me perturbaram tanto.
  3. “O império de Hitler”, de Mark Mazower: sempre tive curiosidade de saber como os nazistas se comportavam como colonizadores, coisa que este livro monumental explica.
  4. “A destruição dos judeus europeus”, de Raul Hilberg: outro livro monumental, sobre o Holocausto neste caso.
  5. “O mapa e o território”, de Michel Houellebecq: fico mais feliz lendo uns autores do que outros, e Michel Houellebecq é um dos que me dão mais alegria na leitura.
  6. “Os testamentos”, de Margaret Atwood: continuação de “O conto da Aia”, não preciso explicar mais.
  7. “As luas de Júpiter”, de Alice Munro: tem gente que reclama do Prêmio Nobel de Literatura por causa disso e daquilo, mas eu provavelmente não conheceria autoras como esta canadense se não fosse a Academia Sueca.
  8. “A época da inocência”, de Edith Wharton: um amor mal resolvido e os preconceitos e costumes dos ricos americanos do final do século XIX e início do século XX numa obra-prima.
  9. “O dom”, de Vladimir Nabokov: Nabokov é Nabokov, e pronto.
  10. Deus, essa gostosa, de Rafael Campos Rocha: uma história em quadrinhos que comprova que God is a woman, como diz a Ariana Grande, uma favorita aqui da casa.
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Literatura
“O dom”, de Vladimir Nabokov
5 de abril de 2020 at 22:39 0
Vladimir Nabokov - The New Republic

Fyodor é um exilado russo em Berlim na primeira metade do século XX, e está tentando iniciar sua carreira literária. Lá ele conhece outros fugitivos da Revolução Russa e passa os dias entre os livros, algumas aulas particulares que ministra, e andanças pela cidade. O personagem principal de “O dom”, de Vladimir Nabokov (Alfaguara, 384 páginas) tem bastante em comum com o autor, também exilado russo que viveu em Berlim.

Composto por cinco longos capítulos, o romance, entre outras técnicas, usa metaficção – conforme notado por Paulo Nogueira em seu texto sobre o livro no Estadão, “a própria primeira frase é interrompida para a citação de um crítico a respeito de... primeiras frases” – alternância entre primeira e terceira pessoas na narração – e o leitor que se vire para saber o que está rolando. O quarto capítulo é composto por uma biografia meio debochada, escrita por Fyodor, de Nikolay Chernishevski, o autor favorito de Lênin.

Não acontece muita coisa em “O dom”, e boa parte da narrativa é composta por comentários sobre personagens, autores, romances, poesias e lembranças do próprio Fyodor (impressiona a história do pai dele, que era um entomologista muito famoso na Rússia de antes da Revolução - importante lembrar que o próprio Nabokov era entomologista profissional). O tipo de técnica utilizada faz com que às vezes seja meio difícil saber o que exatamente está ocorrendo; mesmo assim, o livro não é de leitura muito complexa.

Nabokov considerava “O dom” como seu melhor livro, e hoje a crítica o coloca no mesmo nível de seus romances mais importantes, como “Lolita” e “Fogo Pálido” (o meu preferido dele, aliás).

Quanto a mim, a cada novo livro fico mais impressionado com a incrível criatividade de Nabokov: “O dom” não se parece em nada com os demais romances dele que já li – uns muito diferentes dos outros, aliás.

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Melhores livros lidos em 2016
Literatura
Melhores livros lidos em 2016
28 de dezembro de 2016 at 19:46 0
  1. “Fogo pálido”, de Vladimir Nabokov: um poema relativamente curto e páginas e páginas de notas num romance que influenciou meu próprio romance.
  2. “A Morte do Pai”, de Karl Ove Knausgard: a adolescência, o início da idade adulta e a complicada relação com o pai deste escritor que tem obras tão envolventes que certamente são publicadas no Paraíso.
  3. “Linha M”, de Patti Smith: como o de cima, também de memórias e também com vendas garantidas no Paraíso.
  4. “Ligue os Pontos – Poemas de Amor e Big Bang”, de Gregório Duviver: os poemas de Gregório Duvivier, humorista conhecido por todo o mundo, são de uma beleza surpreendente.
  5. “O livro de Oseias”: Deus manda o seu profeta casar com uma prostituta. Não precisa falar muito mais.
  6. “O Jardim Secreto”, de Frances Hodgson Burnett: personagens deliciosos, um jardim cheio de belezas e mistérios.
  7. “Paraíso Perdido”, de Cees Nooteboom: uma história estranha que envolve duas mulheres, o Brasil, a Austrália e um monte de anjos.
  8. “O homem que amava os cachorros”, de Leonardo Padura: o assassinato de Trotski num verdadeiro tour-de-force literário.
  9. “Amanhã na batalha pensa em mim”, de Javier Marías: o homem errado, no lugar errado, com a mulher errada. Como consertar o que não tem conserto?
  10. “Vida de um homem: Francisco de Assis”, de Chiara Frugoni: a autora tenta nos contar quem era São Francisco de Assis, e do seu livro emerge um sujeito meio louco (louco de Deus?), profundamente bondoso, corajoso e bem-humorado.
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“Fogo Pálido”, de Vladimir Nabokov
Literatura
“Fogo Pálido”, de Vladimir Nabokov
20 de dezembro de 2016 at 16:40 0
No início do ano que vem lanço o meu primeiro romance, “Um amor como nenhum outro”. As influências mais marcantes são Philip Roth (especialmente o de “Complexo de Portnoy”), Morrissey (tanto pelas letras como pelo seu malvisto, mas muito bom, List of the Lost, pela temática e pelo tamanho), e Nabokov (1899-1977). É sobre este último que vou falar aqui. “Fogo Pálido” provavelmente seja o melhor livro do autor russo emigrado depois da Revolução Soviética de 1917 – ele era de família rica e “aristocrática liberal” e, como muitos de seus romances, este tem personagens na mesma condição que ele, russos tentando se virar no Ocidente. Mas não é essa a característica que influenciou a escrita do meu romance: foi o “narrador não-confiável”, presente em boa parte de seus melhores livros (“Lolita”, “Ada ou Ardor”, “Desespero”) e que chega à perfeição neste “Fogo Pálido”. Já pela própria estrutura o livro é muito original: consta de um prefácio de umas 10 páginas, escrito pelo próprio narrador, Charles Kinbote, de um poema de mil versos que ocupa cerca de 28 páginas, chamado “Fogo Pálido” e escrito por outro personagem, o poeta e professor universitário John Shade e, finalmente, das notas de Charles Kinbote, que ocupam as restantes das 236 páginas da minha edição do Círculo do Livro: em outras palavras, as notas ocupam mais de 85% do livro. O poema do personagem John Shade é autobiográfico e melancólico, falando de dilemas existenciais e da filha falecida, triste e solitária. Já as notas de Charles Kinbote são coisa de doido: refugiado de um país imaginário próximo da Rússia, Zembla, e vizinho de John Shade, Kinbote faz comentários sobre o poema que aparentemente não fazem o menor sentido. Ele relaciona versos que só parecem ter a ver com a vida do próprio poeta com os acontecimentos em Zembla, que passara por uma revolução nos moldes da Russa de 1917. Nas notas (que, na verdade, são o cerne do romance) o leitor fica imaginando o que tem de verdade e o que tem de mentira nas histórias malucas de Charles Kinbote – e Nabokov, genial como sempre, não deixa de dar sinais de que tudo aquilo não passa de uma maluquice de um sujeito com mania de grandeza. Ao contrário de Nabokov, com meu livro não pretendi dar um nó na cabeça de ninguém. Mas que não dá para confiar no que o meu Raul escreve, ah não dá não.
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Pnin, de Vladimir Nabokov
Literatura
Pnin, de Vladimir Nabokov
5 de julho de 2015 at 19:30 0
Jorge Luis Borges escreveu o seguinte: "Toda a boa literatura é uma forma de alegria, e nenhum autor me deu tantas alegrias quanto Chesterton". Acho que o "meu Chesterton" é Vladimir Nabokov. Não sei se outro escritor me diverte tanto. (mais…)
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