Fabricio Muller
5 de dezembro de 2021 at 20:22
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Li recentemente os dois primeiros romances de Vladimir Nabokov (1899-1977), “Mary” (Record, 175 páginas, tradução de Pinheiro de Lemos, publicado originalmente em 1926) e “Rei, Valete, Dama” (Artenova, 196 páginas, tradução de Affonso Blacheyre, publicado originalmente em 1928). Os dois livros são da fase russa de Nabokov, um dos raros grandes autores que escreveram partes importantes de sua obra em dois idiomas diferentes (russo na primeira parte da carreira, inglês na segunda); o próprio escritor ajudou na tradução dos dois livros para a língua inglesa: a de “Mary” foi feita por Michael Glenny e publicada em 1970, enquanto a tradução de “Rei, Valete, Dama” foi feita pelo próprio filho do autor, Dmitri Nabokov, e publicada em 1969.
“Mary” (lançada também em outras edições com o título “Machenka”, conforme o original russo) conta a história, em primeira pessoa, de Lev Glebovich Ganin, um emigrante russo que mora em Berlim. O maior tema do romance é a paixão do narrador por Mary, uma moça por quem ele era apaixonado na infância/adolescência, quando ainda vivia na sua terra natal. Ganin descobre que ela vai chegar em Berlim e sua obsessão pela garota vai tomando conta de todos os aspectos de sua vida. Mas o romance também descreve, com grande quantidade de detalhes, a vida de outros moradores da pensão, como um velho poeta russo, Anton Sergeyevich Podtyagin, uma jovem menina alemã, Klara, a senhoria, Lydia Nikolaevna Dorn, e seu vizinho, Aleksey Ivanovich Alfyorov.
“Rei, valete, dama” conta história de um triângulo amoroso: Martha Dreyer é casada com um rico empresário, Kurt Dreyer, e acaba tendo um tórrido caso com o sobrinho do marido, Franz Bubendorf, um jovem pobre que trabalha numa loja do tio. O caso entre Franz e Martha vai tomando ares cada vez mais sinistros, e logo os dois pensam em arranjar um jeito de assassinar Kurt Dreyer.
É difícil ter alguma empatia pelos três personagens principais de “Rei, valete, dama”: Martha e seu amante são frios e calculistas, enquanto Kurt Dreyer é totalmente autocentrado, embora não tenha nenhum traço de maldade. Mas, como escreve Nabokov! Suas descrições são precisas, claras, parece que conseguimos ver tudo o que o grande escritor descreve. Um grande romance do autor russo - como sempre, aliás.
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