“Johann Sebastian Bach”, com Víkingur Ólafsson
Música
“Johann Sebastian Bach”, com Víkingur Ólafsson
8 de setembro de 2024 0
O nome da coleção era “Os clássicos mais populares do mundo”, e era composta por doze LPs com gatinhos nas capas. Como o próprio nome dizia, as músicas apresentadas eram aquelas que a maioria das pessoas reconhece como “música clássica”. O início da Quinta Sinfonia de Beethoven. Um trecho de “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovski. Algumas coisas de Chopin. Quem comprou a coleção lá em casa não sei, até hoje, quem foi – imagino que tenha sido a minha mãe. Sei que não lembro de nenhum dia da minha infância sem aqueles doze (ou seriam dez?) discos por perto. “Os clássicos mais populares do mundo” foi provavelmente a maior contribuição para o meu gosto musical, desde que nasci até hoje. Eu ouvia aqueles discos diariamente e, com o tempo, fui percebendo que, fora uma ou outra coisa – tenho que citar a ária “Ombra mai fu”, da ópera Xerxes, de Händel, uma das músicas mais bonitas que já ouvi -, eu gostava mesmo era de Johann Sebastian Bach. A Ária na Corda Sol. A Tocata e Fuga em Ré Menor. Alguns trechos dos Concertos de Brandemburgo. Algumas árias de cantatas. Este meu interesse por Bach acabou ficando tão intenso que acabei começando a comprar discos do compositor. Os concertos de Brandemburgo e peças para órgão, em dois maravilhosos exemplares da coleção “Mestres da Música”, da Editora Abril (que descreviam com grande minúcia a vida e a obra de Bach nos fascículos que acompanhavam os LPs). Os discos de João Carlos Martins, com peças completas de Partitas, Suítes Francesas, Inglesas, e por aí vai. A Arte da Fuga executada no cravo. Uma série de cantatas. Com o tempo, a obra de Bach, que me impressionava pela beleza arrebatadora de peças como a Ária na Corda Sol, passou a ser para mim uma espécie de monolito respeitável, belíssimo e imponente. Eu me desfiz da minha coleção de LPs há muitos anos já, mas acho que tinha mais de duzentos discos do compositor. Uns poucos anos atrás, depois de ver um anúncio no Instagram, resolvi baixar um disco simplesmente chamado “Johann Sebastian Bach”, com peças diversas de um pianista islandês chamado Víkingur Ólafsson. O álbum me impressionou tanto pela execução simplesmente inacreditável – suave e expressiva na medida certa – do instrumentista, como pela escolha das peças. O disco é uma compilação com as músicas mais bonitas para teclado de Bach – e mesmo algumas transcrições de peças que não eram originalmente para o instrumento, como a inacreditável  “Nun komm der Heiden Heiland”, do Prelúdio Coral para Órgão BWV 659, transcrito por Ferruccio Busoni. Ouvindo esse disco me senti criança, maravilhado de novo com a capacidade melódica e expressiva de Johann Sebastian Bach.
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“Náufragos, traficantes e degredados”, de Eduardo Bueno
História
“Náufragos, traficantes e degredados”, de Eduardo Bueno
1 de setembro de 2024 0
Acompanho já há alguns anos o canal do YouTube Buenas Ideias, do jornalista Eduardo Bueno, e agora estou tentando tirar o atraso do podcast Nós na História, em que ele conversa – na maior parte do tempo sobre História mesmo – com seus amigos Luciano Potter e Arthur Gubert. Quem conhece o Peninha – apelido de Eduardo Bueno – sabe bem o que esperar do seu canal e do podcast: uma verve impressionante, um senso de humor depreciativo – contra si e contra todos -, e um conhecimento de História do Brasil impressionante. Dada sua franqueza frequentemente ferina, acho até natural que não gostem dele, mas dado seu sucesso é possível que ele seja mais amado do que odiado – estou entre os primeiros, aliás. “Náufragos, traficantes e degredados” (Estação Brasil, 176 páginas) é um edição revista e ampliada em 2016 da obra – já clássica – lançado em 1998. O estilo do livro – ao contrário daquele do podcaster e youtuber Eduardo Bueno – é sóbrio e conciso. Mas a história que ele conta é fascinante e inesperada: às vezes me pareceu estar lendo histórias que aconteceram numa realidade paralela. O livro conta, entre outros temas, a história das primeiras expedições de europeus no Brasil – algumas delas ocorridas antes do descobrimento oficial em 22 de abril de 1500 -, da luta pelo pau-brasil entre portugueses e franceses, da frustração dos exploradores em não encontrar ouro e pedras preciosas por aqui (quando havia fortes indicativos, mais tarde confirmados, de que havia quantidades enormes destes materiais no Novo Mundo), e das primeiras feitorias instaladas por portugueses em nosso país. Mas o mais inesperado e fascinante da obra são, efetivamente, os “náufragos, traficantes e degredados”. Peninha conta muitas histórias de europeus que eram simplesmente largados por aqui por castigo ou por outro motivo, ou que naufragaram e não tinham mais para onde ir, ou que resolviam viver no Brasil para traficar pau-brasil e, mais tarde, indígenas. O que mais chama a atenção é que quase todos eles passaram a viver como índios, com grande número de mulheres e liderando comunidades. Um tempo estranho no qual as diferenças entre povos eram bem menores do que se acredita hoje.
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Os Etruscos
História
Os Etruscos
25 de agosto de 2024 0
Eu não sei se foi no Discovery Channel ou no History em que assisti, alguns anos atrás, um documentário sobre os etruscos. Fiquei fascinado. Não tinha ideia de que aquele povo, que viveu aproximadamente entre os séculos VIII e V antes da Era Comum, era tão semelhantes aos gregos e romanos – não sei por quê, eu achava que eles deviam ser bem mais atrasados. Li recentemente três livros sobre este povo – “A civilização dos Etruscos”, de Philippe Azziz (Editions Ferni, 348 páginas, dentro da coleção “Grandes Civilizações Desaparecidas”, sem indicação de tradução, publicado originalmente em 1976), “Os Etruscos – uma civilização reencontrada”, de Attilio Gaudio, 205 páginas, Edições MM, tradução de Charles Marie Antoine Bouéry, publicado originalmente em 1969) e o clássico “Os Etruscos”, de Raymond Bloch (260 páginas, Editorial Verbo, traduzido por Maria Helena Pires Noronha e Fernando Noronha, publicado originalmente em 1958, dentro da coleção “Historia Mundi”) – e vou comentar aqui alguns aspectos sobre esta civilização fascinante. Como os gregos, os etruscos tinham divisão política em cidades-estado, que se reuniam com alguma regularidade e que às vezes guerreavam umas com as outras. Eles tiveram seu ápice entre os séculos VII e V a.C., e acabaram sendo invadidos, aos poucos, pelos romanos, que acabaram de conquistar todo o seu território – noroeste da Itália, onde hoje fica a Toscana – em 396 a.C. na batalha de Veios. Mesmo com a derrota, acredita-se que a nobreza etrusca foi absorvida pelos vencedores romanos, fazendo parte do Império. Sua língua, escrita com caracteres gregos, até hoje é um mistério para os pesquisadores: sabe-se que não era um idioma indo-europeu – origem comum de grande maioria das da Europa e muitas da Índia -, mas não muito mais do que isso. Sua literatura – que, aparentemente, era principalmente de cunho religioso, já que os etruscos eram famosos por seus rituais de adivinhação (o que continuou em Roma, mesmo depois da derrota final da Etrúria, já que os adivinhos toscanos eram os mais respeitados no Império Romano) – foi praticamente toda perdida. O maior texto escrito em etrusco que restou é um lençol mortuário encontrado no Egito: alguém, na época do Egito Romano, provavelmente, pegou aqueles tecidos cheio de textos – que ninguém sabia para que serviam e o que significavam – para embalar um morto, e o tecido foi preservado. O imperador romano Cláudio (cerca de 10 a.C. – 54 d.C.) tinha origens etruscas e escreveu uma História do Povo Etrusco e uma Gramática do Povo Etrusco, livros que se perderam, numa verdadeira tragédia para os estudiosos. A riqueza da região era principalmente derivada da mineração, e os etruscos fizeram fortuna extraindo ferro e outros minerais de seu território. Seus templos e residências eram em geral construídos de madeira, e por isso a grande maioria deles se perdeu. Por outro lado, como eram extremamente místicos e ligados à vida após a morte, construíram – no auge de sua civilização – túmulos em concreto, enterrados embaixo do nível do solo, que apresentam ilustrações da vida cotidiana dos seus nobres: grande parte do que se sabe atualmente dos seus costumes, inclusive, é deduzido destas pinturas. E o que mostram estas ilustrações nos túmulos? Basicamente, divertimento, música, banquetes, alegria. Para grande escândalo dos romanos e gregos, os etruscos banqueteavam com suas esposas, o que era impensável naquelas outras civilizações. Aparentemente, entre os povos mediterrâneos da época, em nenhum lugar as mulheres tinham tantos direitos como entre os etruscos. Os gregos e romanos criticavam os etruscos por excesso de indolência e de amor aos prazeres – dadas as pinturas nos seus túmulos e a sua derrota final para os romanos séculos antes de Cristo, é de se perguntar se seus adversários não tinham razão.
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Alain Delon (1935-2024)
Cinema
Alain Delon (1935-2024)
18 de agosto de 2024 0
Jean Gabin, Lino Ventura e Alain Delon eram os grandes nomes do chamado “filme polar”, a resposta francesa ao “filme noir”. A foto que acompanha este texto é uma reprodução do cartaz de “Os Sicilianos” (1969), no qual os três atuaram juntos. Lino Ventura era o ator que parecia ser um sujeito confiável e afetivo; Jean Gabin era classudo, imponente, carismático; e, com seus olhos claríssimos e pinta de galã, Alain Delon era frio e enigmático – e era realmente assustador quando atuava como vilão. Os meus filmes polar preferidos com Alain Delon, além do já citado “Os Sicilianos”, são “Borsalino”, em que faz um gângster em parceria com Jean-Paul Belmondo, e “Gângsters de casaca”  (1963), em que seu colega no mundo do crime é vivido por Jean Gabin. Assisti também com Alain Delon, muitos anos atrás, dois clássicos da cinematografia mundial, ambos dirigidos pelo grande Luchino Visconti: “O Leopardo”, de 1963 (baseado no romance de Lampedusa que inspirou meu próprio nome), e “Rocco e seus irmãos”, de 1960. Nos últimos anos, devido a graves problemas de saúde, Alain Delon queria morrer por suicídio assistido. Hoje (18 de agosto de 2024) ele faleceu, provavelmente de causas naturais, e o mundo do cinema fica mais triste.
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Dois livros sobre o cristianismo primitivo – André Chevitarese
História
Dois livros sobre o cristianismo primitivo – André Chevitarese
4 de agosto de 2024 0
Já comentei aqui e aqui sobre uma questão que me fascina: “o que será que os antigos romanos, com seus deuses imponentes e grandiosos, achavam de um pessoal – muitos compatriotas entre eles, inclusive – que achava que Deus era um pobre judeu que teve a morte mais humilhante possível, na cruz? Deviam achar estranho, no mínimo. Eu acho que também acharia.” Eu já tinha citado também o professor da UFRJ Andre Leonardo Chevitarese, um especialista mundial na área do Jesus histórico. O que a ciência tem a dizer sobre ele? Este é um assunto bastante polêmico em conversas por aí: Jesus existiu ou não? Conforme o grande Chevitarese não cansa de repetir, esta polêmica não existe na Academia. Segundo ele, nenhum pesquisador sério tem dúvidas sobre a existência real de Jesus, e apresento alguns links de vídeos no YouTube bastante didáticos a respeito: um do ótimo canal Estranha História, do Professor Henrique Caldeira, outro de André Leonardo Chevitarese e uma playlist de Jonathan Matthies. Li recentemente dois livros publicados recentemente pela Editora Menocchio sobre cristianismo primitivo: “Cristianismos no Império Romano”, uma coletânea de artigos coordenada por Chevitarese e Gilvan Ventura da Silva, e “Paulo – o que a História tem a dizer sobre ele”, escrita pelo próprio André Leonardo Chevitarese. A coletânea se concentra em quatro tópicos principais: como os romanos viam o cristianismo, como era a política e a religião no Império Romano, como a geografia explica este império e aspectos cotidianos da vida na Roma Antiga. Já o livro sobre Paulo se concentra nas sete epístolas que têm autoria reconhecida pelos historiadores como escritas pelo apóstolo. Embora em alguns trechos a leitura dos dois livros seja árida para leitores – como eu – leigos em História, eles são fascinantes e mostram o cristianismo sob uma perspectiva muito diferente daquele da teologia. Um dos temas principais em “Paulo – o que a História tem a dizer sobre ele”, por exemplo, é como o apóstolo modificou a mensagem original do Jesus histórico. Fascinante.
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Livros lidos recentemente
Literatura
Livros lidos recentemente
7 de julho de 2024 0
“O décimo homem”, de Graham Greene (Record, 176 páginas, tradução de Flavio Moreira da Costa, publicado originalmente em 1985): em uma prisão nazista na França durante a ocupação, dez prisioneiros são obrigados a fazer um sorteio, e o sorteado será executado. Aquele que “vence” a competição faz uma proposta insólita, a de trocar de lugar com outro detento por por toda a sua fortuna. Um dos presos aceita a troca, morre no lugar do outro, e a fortuna do sobrevivente vai para a família do falecido. O detento que comprou sua sobrevivência, agora pobre, volta para a casa onde morava, e aí começam os problemas. Extremamente bem escrito, “O décimo homem” é uma novela que justifica todo o sucesso que o inglês Graham Greene (1904-1991) fez como escritor. “O abismo vertiginoso – um mergulho nas ideias e nos efeitos da física quântica”, de Carlo Rovelli (Objetiva, 199 páginas, tradução de Silvana Cobucci, publicado originalmente em 2020): um dos efeitos mais conhecidos da física quântica é que o observador, apenas por olhar um experimento, muda o comportamento de partículas subatômicas. Meu maior objetivo em ler este livro do grande físico italiano era tentar entender este efeito estranhíssimo. De fato, como Carlo Rovelli comenta em sua obra, “a realidade dos quanta é muito mais estranha que todos os delicados, misteriosos, encantadores e intricados aspectos da nossa realidade psicológica e da nossa vida espiritual” Em seu ótimo livro, Rovelli descreve um experimento que qualquer um acharia maluco se não fosse real, com a mão do observador mudando parte dos fótons lançados por um equipamento. No livro também são apresentadas ótimas descrições dos principais cientistas envolvidos na descoberta da física quântica. A explicação que Carlo Rovelli dá para este efeito esquisito, por outro lado – baseado, grosso modo, na relação entre todas as partículas do Universo – não me impressionou muito. Quem sabe eu não a tenha entendido muito bem. “Clube da Luta”, de Chuck Palahniuk (Leya, 272 páginas, tradução de Cassius Medauar, publicado originalmente em 1996): não assisti ao famoso filme homônimo baseado neste romance, e confesso que agora estou bem curioso para saber como roteirista e diretor fizeram para colocar essa loucura toda nas telas. O livro, narrado em primeira pessoa por um funcionário de uma grande empresa, conta como um sujeito estranho chamado Tyler Durden convence vários homens, uma vez por semana, a trocarem socos no porão de bares. A loucura de Tyler vai se aprofundando e ele acaba criando o Projeto Ordem e Destruição, em que convence homens a, primeiro, fazerem pequenos atos de desordem, como cuspir em pratos que serão servidos para hóspedes ricos num hotel, para depois partir para um terrorismo em larga escala. Muita gente acha que “Clube da Luta” é um livro que representa as repressões masculinas, ou coisa que o valha, mas eu só achei que o livro é esquisito mesmo – como os dois do autor (“Maldita” e “Condenada“) que eu já tinha lido, aliás. E sim, eu gostei muito de “Clube da Luta”.
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Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet
Música
Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet
1 de julho de 2024 0
Lá em casa só tínhamos discos de MPB e alguma pouca coisa de música clássica – cuja coleção eu aumentei desde cedo, com minha paixão prematura por Bach. Havia bastante preconceito lá em casa – coisa da época – contra música americana, e eu mesmo fiquei chocado comigo mesmo quando percebi um interesse incomum numa nova série de fascículos-com-LP chamada “Gigantes do Jazz”, da Editora Abril, com Louis Armostrong no primeiro item da coleção. A série, pelo que dava para perceber pelo nome dos escritores dos textos, era francesa – é fato sabido que veio da França a seriedade com que o jazz é tratado hoje. Os textos do fascículos eram autorais, “sem papas na língua”. Por exemplo, nos exemplares sempre havia um box que tratava de um assunto correlato: num, uma entrevista em que o jornalista detonava o Ray Charles, que ficou furioso com ele; em outro, o jornalista defende por que Oscar Peterson não era lá essas coisas – e, até onde eu sei, não teve nenhum fascículo de Gigantes do Jazz com este pianista. Fui comprando os exemplares e logo percebi que não gostava tanto assim de jazz: achava interessante, mas de maneira geral só gostava de uma ou outra faixa. E acabei parando de comprar a coleção aí pelo número 10. Mas lá em casa também tinha a Enciclopédia Abril, provavelmente a maior influência na minha vida em termos culturais. No (longo) verbete desta enciclopédia sobre jazz, citavam um tal de Modern Jazz Quartet, que tinha influências de Bach. Opa! Aí sim! Quando o exemplar sobre John Lewis – o líder do grupo – apareceu nas bancas, comprei-o e amei o que ouvi. Os músicos sempre se vestiam a rigor e, além de Lewis e de Milt Jackson, comentado abaixo, o grupo ainda contava com Percy Heath – e depois Connie Kay, a partir de 1955 – no contrabaixo e Kenny Clarke na bateria. E, realmente, o Modern Jazz Quartet tinha nítidas influências do grande compositor Johann Sebastian Bach, e era jazz na sua melhor forma ao mesmo tempo. Só que tinha uma coisa esquisita: apesar de ser o compositor da maioria das músicas e ser o líder do grupo, o que se ouvia nas faixas, em maior destaque, era o vibrafone (um xilofone maior e mais sofisticado) de Milt Jackson. De fato, no box do exemplar de John Lewis do Gigantes do Jazz, o texto era sobre a força expressiva do vibrafonista. A verdade é que o segredo do grupo é a tensão entre o piano extremamente discreto de John Lewis e o vibrafone exuberante de Milt Jackson. Esta tensão devia ser grande mesmo: segundo a Wikipédia em português, “Em 1974, Jackson deixa o grupo, por razões financeiras, considerando que tocavam por pouco dinheiro, e por necessitar de mais liberdade musical. A sua saída leva ao fim do grupo. Em 1981, juntam-se de novo para tocar em festivais e, mais tarde, tocam regularmente durante um período de seis meses por ano. O seu último trabalho foi em 1993.” De lá para cá – a coleção Gigantes do Jazz começou a ser publicada em 1980, quando eu tinha doze anos – tive fases de ouvir muito jazz, e meus músicos preferidos – além do Modern Jazz Quartet – são John Coltrane, Chet Baker, Billie Holiday, Miles Davis e Charlie Parker. A série “Quem é vivo sempre aparece” é sobre sons retomados depois de muito tempo com músicos que eu nunca tinha citado no blog, e neste texto homenageio esta grande banda de jazz. E, se você nunca ouviu a banda, recomendo fortemente a faixa “Blues in C minor”, composta por Milt Jackson: quem sabe você curta – eu mesmo acho que é uma das melhores músicas já feitas. (foto que acompanha o texto obtida na Wikipedia em inglês)
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“Em agosto nos vemos”, de Gabriel García Márquez
Literatura
“Em agosto nos vemos”, de Gabriel García Márquez
9 de junho de 2024 0
A ideia de Gabriel García Márquez (1927-2014) era publicar cinco contos independentes com uma protagonista latina (acho que colombiana) com o mesmo nome da mulher de Johan Sebastian Bach, Anna Magdalena Bach. Só conseguiu terminar o primeiro conto, já que começou a ter problemas de memória no final da vida, que é este “Em agosto nos vemos” (Record, 130 páginas, tradução de Eric Nepomuceno, publicado originalmente em 2024). A protagonista vai, uma vez por ano, até uma ilha em que sua mãe está enterrada, para “conversar” com sua mãe morta no cemitério. Em uma destas viagens até à ilha ela se encanta com um homem, faz sexo com ele e volta meio perturbada – ela nunca tinha traído o marido, músico clássico de sucesso. Anna Magdalena Bach não sabe nem o nome do amante, e tem esperança de encontrá-lo na visita seguinte à ilha, e não o acha – mas acaba fazendo sexo com outro desconhecido. E assim a história de “Em agosto nos vemos” vai indo, e não dá para contar mais nada para não estragar a surpresa. Gabriel García Márquez reescreveu de maneira obcecada esta novela, e acabou concluindo que não valia a publicação. Seus filhos o “traíram” quando resolveram publicá-la. Sorte nossa: o livro é tão bom quanto qualquer outra coisa que o gênio García Márquez publicou em vida. E, como nota final, a novela se basta a si mesma: ficamos sem saber o que o Prêmio Nobel de 1982 tinha em mente para suas outras quatro novelas com Anna Magdalena Bach, mas isso não importa tanto. Só fico chateado de não saber o que aconteceu com a filha da personagem, Micaela, que tinha uma vida sexual ativa mas que, mesmo assim, estava próxima de se tornar uma Carmelita Descalça.
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