setembro 2024

“Johann Sebastian Bach”, com Víkingur Ólafsson
Música
“Johann Sebastian Bach”, com Víkingur Ólafsson
8 de setembro de 2024 at 19:21 0
O nome da coleção era "Os clássicos mais populares do mundo", e era composta por doze LPs com gatinhos nas capas. Como o próprio nome dizia, as músicas apresentadas eram aquelas que a maioria das pessoas reconhece como "música clássica". O início da Quinta Sinfonia de Beethoven. Um trecho de "O Lago dos Cisnes", de Tchaikovski. Algumas coisas de Chopin. Quem comprou a coleção lá em casa não sei, até hoje, quem foi - imagino que tenha sido a minha mãe. Sei que não lembro de nenhum dia da minha infância sem aqueles doze (ou seriam dez?) discos por perto. "Os clássicos mais populares do mundo" foi provavelmente a maior contribuição para o meu gosto musical, desde que nasci até hoje. Eu ouvia aqueles discos diariamente e, com o tempo, fui percebendo que, fora uma ou outra coisa - tenho que citar a ária "Ombra mai fu", da ópera Xerxes, de Händel, uma das músicas mais bonitas que já ouvi -, eu gostava mesmo era de Johann Sebastian Bach. A Ária na Corda Sol. A Tocata e Fuga em Ré Menor. Alguns trechos dos Concertos de Brandemburgo. Algumas árias de cantatas. Este meu interesse por Bach acabou ficando tão intenso que acabei começando a comprar discos do compositor. Os concertos de Brandemburgo e peças para órgão, em dois maravilhosos exemplares da coleção "Mestres da Música", da Editora Abril (que descreviam com grande minúcia a vida e a obra de Bach nos fascículos que acompanhavam os LPs). Os discos de João Carlos Martins, com peças completas de Partitas, Suítes Francesas, Inglesas, e por aí vai. A Arte da Fuga executada no cravo. Uma série de cantatas. Com o tempo, a obra de Bach, que me impressionava pela beleza arrebatadora de peças como a Ária na Corda Sol, passou a ser para mim uma espécie de monolito respeitável, belíssimo e imponente. Eu me desfiz da minha coleção de LPs há muitos anos já, mas acho que tinha mais de duzentos discos do compositor. Uns poucos anos atrás, depois de ver um anúncio no Instagram, resolvi baixar um disco simplesmente chamado "Johann Sebastian Bach", com peças diversas de um pianista islandês chamado Víkingur Ólafsson. O álbum me impressionou tanto pela execução simplesmente inacreditável - suave e expressiva na medida certa - do instrumentista, como pela escolha das peças. O disco é uma compilação com as músicas mais bonitas para teclado de Bach - e mesmo algumas transcrições de peças que não eram originalmente para o instrumento, como a inacreditável  "Nun komm der Heiden Heiland", do Prelúdio Coral para Órgão BWV 659, transcrito por Ferruccio Busoni. Ouvindo esse disco me senti criança, maravilhado de novo com a capacidade melódica e expressiva de Johann Sebastian Bach.
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“Náufragos, traficantes e degredados”, de Eduardo Bueno
História
“Náufragos, traficantes e degredados”, de Eduardo Bueno
1 de setembro de 2024 at 14:51 0
Acompanho já há alguns anos o canal do YouTube Buenas Ideias, do jornalista Eduardo Bueno, e agora estou tentando tirar o atraso do podcast Nós na História, em que ele conversa - na maior parte do tempo sobre História mesmo - com seus amigos Luciano Potter e Arthur Gubert. Quem conhece o Peninha - apelido de Eduardo Bueno - sabe bem o que esperar do seu canal e do podcast: uma verve impressionante, um senso de humor depreciativo - contra si e contra todos -, e um conhecimento de História do Brasil impressionante. Dada sua franqueza frequentemente ferina, acho até natural que não gostem dele, mas dado seu sucesso é possível que ele seja mais amado do que odiado - estou entre os primeiros, aliás. "Náufragos, traficantes e degredados" (Estação Brasil, 176 páginas) é um edição revista e ampliada em 2016 da obra - já clássica - lançado em 1998. O estilo do livro - ao contrário daquele do podcaster e youtuber Eduardo Bueno - é sóbrio e conciso. Mas a história que ele conta é fascinante e inesperada: às vezes me pareceu estar lendo histórias que aconteceram numa realidade paralela. O livro conta, entre outros temas, a história das primeiras expedições de europeus no Brasil - algumas delas ocorridas antes do descobrimento oficial em 22 de abril de 1500 -, da luta pelo pau-brasil entre portugueses e franceses, da frustração dos exploradores em não encontrar ouro e pedras preciosas por aqui (quando havia fortes indicativos, mais tarde confirmados, de que havia quantidades enormes destes materiais no Novo Mundo), e das primeiras feitorias instaladas por portugueses em nosso país. Mas o mais inesperado e fascinante da obra são, efetivamente, os "náufragos, traficantes e degredados". Peninha conta muitas histórias de europeus que eram simplesmente largados por aqui por castigo ou por outro motivo, ou que naufragaram e não tinham mais para onde ir, ou que resolviam viver no Brasil para traficar pau-brasil e, mais tarde, indígenas. O que mais chama a atenção é que quase todos eles passaram a viver como índios, com grande número de mulheres e liderando comunidades. Um tempo estranho no qual as diferenças entre povos eram bem menores do que se acredita hoje.
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