setembro 2025

O Prazer Secreto dos Lieder – Uma paixão pelo romantismo alemão e a descoberta de que beleza e erotismo podem ter a mesma face.
Obra Literária
O Prazer Secreto dos Lieder – Uma paixão pelo romantismo alemão e a descoberta de que beleza e erotismo podem ter a mesma face.
28 de setembro de 2025 at 14:51 0
Amo profundamente os lieder, aquelas canções eruditas com piano que tiveram seu auge no Romantismo alemão. Brahms, Schubert, Schumann, Beethoven — todos fizeram obras maravilhosas neste formato, peças que me dão um prazer quase sexual (ok, foi uma piada ruim) de ouvir. Dietrich Fischer-Dieskau, Jessye Norman, Ian Bostridge, Peter Schreier... estão entre meus cantores preferidos neste gênero. Mas, para mim, a melhor de todas é a cantora lírica francesa Rosalie Simon. Desde que ouvi o vinil — que quase furei de tanto ouvir — de sua gravação de “Die Schöne Müllerin”, de Schubert, acompanhada pelo grande pianista húngaro-britânico András Schiff, ela virou minha favorita. Loira, elegante, esbelta, a mezzo-soprano francesa, aparentemente, só tem pontos altos na carreira. Sua versão dos lieder de Schubert sobre poemas de Johann Wolfgang Goethe, com Bengt Forsberg ao piano, por exemplo, começa com umas peças mais “alegres” e vai aumentando a dramaticidade até lugares que mal consigo imaginar. Gosto tanto dela que escuto até mesmo suas versões de obras de compositores de música contemporânea (como as Três Peças Orquestrais de Alban Berg ou as 3 Mélodies de Olivier Messiaen), estilo que normalmente não aprecio. Eu não achava nada demais nessa minha preferência pela Rosalie Simon, até que reparei uma coisa que eu nunca tinha percebido antes: em uma capa de disco gravado durante sua juventude (hoje a cantora tem 65 anos), ela está muito parecida com a Lady Anne dos vídeos pornô, gravados nos anos 1990, quando ela tinha seus vinte e poucos anos, a mesma idade da Rosalie Simon na capa do disco. (Trecho do conto "Duas Mulheres", que será publicado ainda neste ano na minha coletânea "A Mulher de César". A imagem que acompanha o texto foi obtida no Gemini. Se você tem interesse em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)
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Mito e Verdade em Duas Biografias Essenciais – A desconstrução de Rasputin e Nietzsche pelas obras de Douglas Smith e Curt Paul Janz.
Filosofia, História
Mito e Verdade em Duas Biografias Essenciais – A desconstrução de Rasputin e Nietzsche pelas obras de Douglas Smith e Curt Paul Janz.
21 de setembro de 2025 at 11:59 0
Alguns vídeos na internet pintam o monge Grigori Rasputin (1869-1916) como a encarnação do mal. Com uma influência enorme na família imperial russa antes da queda do Império com as Revoluções de 1917, ele é até hoje visto como uma péssima influência para o czar Nicolau II e, principalmente, para sua esposa, a imperatriz Alexandra. No entanto, ele não é retratado de forma tão desfavorável na monumental biografia "Rasputin: Fé, poder e o declínio dos Romanov", de Douglas Smith (Companhia das Letras, tradução de Berilo Vargas, 1128 páginas, ano de publicação original: 2016). Sim, ele era promíscuo, mas muitas das orgias famosas em que participou foram exageradas por seus inimigos. Ao contrário do que se dizia, nada indica que ele tenha tido um caso com a imperatriz Alexandra. Ele foi assassinado, mas muito do que foi dito sobre a sua morte — como ter sobrevivido a vários envenenamentos — é simples exagero. E, finalmente, sua influência nos desmandos do czar foi basicamente nula: Douglas Smith o apresenta como uma voz da razão contra o teimoso, despreparado e arrogante Nicolau II, que quase sempre tomava a decisão errada para o Estado. Mas alguns acontecimentos estranhos, sempre lembrados quando se fala em Rasputin, eram basicamente verdadeiros: ele realmente dizia que, se fosse assassinado, o Império Russo cairia — o que de fato aconteceu. Seu olhar era realmente penetrante e assustador, como se pode ver em fotografias da época. E o mais estranho de tudo é a maneira como ele curava Alexei, o herdeiro do Império Russo, de crises de hemofilia — uma doença totalmente incurável. A documentação de suas curas é tão extensa e confiável que não restou outra opção ao biógrafo Douglas Smith a não ser sugerir que Rasputin, de fato, tinha algum poder sobrenatural.
Se a biografia acima é considerada a “definitiva” do “monge louco” russo, "Friedrich Nietzsche: Uma biografia", de Curt Paul Janz (Vozes, tradução de Markus A. Heidiger, 1648 páginas somando os três volumes, ano de publicação original 1978-1979), é a biografia definitiva do filósofo alemão, que nasceu em 15 de outubro de 1844 e faleceu em 25 de agosto de 1900. Até agora, só li o primeiro dos três volumes, com 660 páginas, mas achei interessante comentar, pois não se sabe quando terminarei a obra completa. Afinal, biografias definitivas, sempre cheias de detalhes, são difíceis de ler rapidamente (pelo menos para mim). O primeiro volume da biografia cobre a infância, a juventude e os anos em que Nietzsche viveu em Basileia como professor de filologia. Ele saiu de lá, aos 35 anos de idade, por problemas de saúde. Dos seus grandes livros, ele só tinha escrito "O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música" e "Humano, Demasiado Humano". Suas obras mais famosas, como "Assim Falou Zaratustra", "Além do Bem e do Mal" e "O Anticristo" serão abordadas no segundo volume, enquanto o terceiro e mais curto volume trata dos anos de sua loucura (1889-1900). Neste primeiro volume que li, a fascinante Lou Andreas-Salomé, sobre a qual eu comentei, nem aparece. Em compensação, a primeira parte fala da sua admiração inicial e do posterior rompimento com o grande compositor Richard Wagner, além de sua vida como professor e do início de suas ideias que revolucionaram a filosofia e até a psicologia. O que mais me marcou, neste primeiro volume, é como Nietzsche sofria com dores de cabeça e dificuldades de visão. É difícil não sofrer junto com ele, nem que seja um pouco! (Imagem que acompanha o texto obtida com o Gemini. Se você estiver interessado em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)
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O que Acontece Quando Você Lembra da sua Vida Passada? – Um conto sobre reencarnação, solidão e o conforto de um passado presente.
Obra Literária
O que Acontece Quando Você Lembra da sua Vida Passada? – Um conto sobre reencarnação, solidão e o conforto de um passado presente.
14 de setembro de 2025 at 14:18 0
Não tenho muitas certezas na vida. De todo modo, uma delas é que, desde criança, sempre soube que fui a última mulher de César, Calpúrnia, em uma encarnação anterior. Lembro-me de acontecimentos daquela vida como se fossem meus. É similar a alguém que disputou uma competição de natação trinta anos atrás: pode até se lembrar que nadou e da marca que atingiu, mas dificilmente recordará os adversários nas raias ao lado ou a data exata da prova. Comigo, em minha vida como Calpúrnia, acontece o mesmo: recordo detalhes importantes da época — meu casamento com César, meu famoso pânico antes de sua morte, minha solidão — mas não me lembro de muitos pormenores. Por exemplo, nomes de conhecidos ou de escravos menos importantes da casa de meu então marido, assim como qualquer pessoa na faixa dos cinquenta anos que possa ter esquecido detalhes de sua juventude. Nasci em 1969 e sou curitibana. Há quase oito anos, mudei para Londrina porque meu filho, Paulo, foi aprovado em medicina na UEL, e aproveitei para trazer também minha filha mais nova, Mariana, para cuidar melhor dos dois. Meu marido não pôde se transferir, pois é dono de uma grande empresa na Cidade Industrial de Curitiba. Sou dona de casa desde que me casei, embora seja formada em enfermagem. Passo meus dias basicamente sozinha aqui, enquanto meus filhos têm suas atividades: Paulo já se formou em medicina, conseguiu um emprego e logo se casará com uma ótima moça da cidade. Mariana está se formando em engenharia e estagia em uma empresa de projetos onde, provavelmente, continuará após a formatura. Se ela conseguir esse emprego, é provável que eu permaneça aqui enquanto ela desejar. (...) Enfim, minha personalidade não mudou em absoluto de "Calpúrnia" para "Gabriela”, e meu gosto por ficar sozinha em casa é o mesmo desde então. Tive a sorte de permanecer bem assistida por empregados confiáveis, que sempre resolveram — e resolvem — todos os meus problemas do dia a dia, assim como os escravos na Antiga Roma. Gosto de comer frugalmente, algo que é bem-visto hoje, mas que era malvisto quando eu era Calpúrnia. Por isso, não há como eu ser mais feliz do que sou. Por outro lado, alguns acontecimentos de alguns anos atrás perturbaram minha tranquilidade por um tempo — e são esses os acontecimentos que vou descrever agora. (Trecho inicial de "A mulher de César", conto que dá título à coletânea de mesmo nome, a ser publicada ainda neste ano. Imagem que acompanha o texto obtida com o Gemini. Quem estiver interessado em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)
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Diário de um Leitor Compulsivo – Um mergulho pessoal nas páginas e nas frustrações da vida literária
História, Literatura
Diário de um Leitor Compulsivo – Um mergulho pessoal nas páginas e nas frustrações da vida literária
7 de setembro de 2025 at 01:20 0

A minha ideia de escrever sobre livros na internet surgiu no início dos anos 2000, mais como um auxílio à minha própria memória. Como leio muito, tinha receio de esquecer se já havia lido ou não determinado livro. Com exceção de um curto período, sempre li o que quis, sem compromisso com prazos, lançamentos ou qualquer outra obrigação.

Além desse desejo, sempre achei que, ao publicar meus comentários, poderia ajudar outras pessoas a descobrir uma obra. Por isso, me sinto um pouco frustrado quando leio algo decepcionante, mas, por uma espécie de dever “profissional”, sinto a necessidade de comentar todos os livros que leio — exceto os de engenharia.

O texto de hoje, aliás, fala sobre três livros que foram bastante decepcionantes, mas, mesmo assim, vale a pena comentá-los, né?


Foe, de J. M. Coetzee

Publicado originalmente em 1986, Foe, de J. M. Coetzee, é uma obra de 157 páginas editada pela Penguin Books. A edição brasileira, traduzida por José Geraldo Couto, foi publicada pela Companhia das Letras. O romance reconta a história de Robinson Crusoé a partir de uma perspectiva feminina. A naufragada Susan Barton, que morou no Brasil colonial e procurava a filha desaparecida, encontra Crusoé (chamado de “Cruso” no livro) e Sexta-feira em uma ilha deserta. Ao ser resgatada e retornar à Inglaterra, ela procura o autor Daniel Foe (o nome original de Daniel Defoe) para que ele escreva sua aventura. No entanto, o relato de Susan foca na ausência da língua de Sexta-feira e na recusa de Cruso em valorizar essa questão, o que levanta discussões sobre colonialismo, identidade e autoria. É difícil expressar o quanto amo as obras de J. M. Coetzee, mas esta, apesar de ser interessante em alguns momentos no início, tem um final tão confuso e sem sentido que se torna uma decepção completa. Quem sabe eu passe a gostar dela no futuro, como aconteceu com a trilogia sobre Jesus, mas acho difícil.

Sete anos, de Fernanda Torres

Sete anos, de Fernanda Torres, com 168 páginas, é uma coletânea de crônicas publicada em 2024 pela Companhia das Letras. Eu gostei bastante dos dois romances da grande atriz Fernanda Torres e de suas crônicas na Folha de São Paulo. Isso, mais o fato de a primeira crônica de “Sete Anos”, a longa “Kuarup” (quase 20 páginas), sobre as filmagens do filme de mesmo nome, dirigido por Ruy Guerra em 1989, ser bastante interessante, acabou me animando em relação ao que viria depois no livro. Que decepção! Fernanda Torres passeia por vários temas e faz inúmeras relações, fala muito sobre política, mas quase tudo me deixou profundamente entediado. Foi uma dificuldade terminar de ler o livro, que ficou datado além da conta.

Televisionários. A História da Facção Exército Vermelho, Mais Conhecida por Engano Como Grupo Baader Meinhof, de Tom Vague

Publicado originalmente em 1992, Televisionários, de Tom Vague, é uma obra de 208 páginas. A edição em português foi traduzida por Celso Grubisic e publicada em 1999 pela editora Conrad. O grupo terrorista alemão Baader-Meinhof é um dos meus interesses estranhos, assim como os Wari, os etruscos, os papas de Avignon e o período Permiano. Comprei este livro na esperança de saber mais sobre o grupo, mas o texto, que não passa de uma longa cronologia, não aprofunda basicamente nada sobre as motivações do grupo nem sobre seus integrantes. Terei que encontrar outro livro sobre eles.

(Imagem que acompanha o texto obtida com o Google Gemini.)

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