dezembro 2024

Dalton Trevisan (1925-2024)
Literatura
Dalton Trevisan (1925-2024)
10 de dezembro de 2024 at 01:19 0
Eu devia ser ainda criança quando minha mãe me falou de Dalton Trevisan pela primeira vez. Ela tinha alguns livros escritos por ele em casa, fui ler e não levei muito a sério: não devia ser assim tão bom um escritor que falava só de bairros e lugares que eu conhecia. O bairro Barreirinha. A Praça Tiradentes. A Rua das Flores. O prazer que eu tenho com suas histórias é difícil de descrever. Até hoje, se leio um conto dele e vejo citado um lugar em que eu sempre passo, eu sinto um certo arrepio bom. Bobo, mas bom. Por uma dessas coisas que é difícil de explicar racionalmente, passei a sentir de uns dois meses para cá uma grande necessidade de ler seus contos – cheguei a contar para um amigo que estava com cada vez menos vontade de ler ficção, fora J.M. Coetzee e Dalton Trevisan. Comprei quatro livros dele recentemente, já li um – "Mistérios de Curitiba" - e, entre os outros três, um grosso volume chamado “Antologia Pessoal”. Não via a hora de começar a lê-lo. Não via a hora de escrever sobre os contos dos livros que comprei recentemente. Não costumo me abalar muito com a morte de quem não conheço pessoalmente, e não conheci pessoalmente o maior escritor que já nasceu na minha cidade. Mas me abalei MESMO com a morte de Dalton Trevisan. De uma maneira idiota e meio patética, no fundo eu achava que ele era meu amigo. Descanse em paz, gigante. (foto que acompanha o texto obtida na Banda B)
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“A ciência tem todas as respostas?”, de Sabine Hossenfelder
Filosofia, Religião
“A ciência tem todas as respostas?”, de Sabine Hossenfelder
8 de dezembro de 2024 at 15:49 0
Não muito tempo atrás escrevi aqui que "quanto a mim, poucas coisas me dão mais tédio do que cientistas ateus filosofando, tentando dar um sentido positivo à vida". No mesmo texto, comentei: "como disse a polêmica – e divertida – física alemã Sabine Hossenfelder  (...), cientistas frequentemente entram no campo da religião (...) quando falam das “grandes questões” (criação e o sentido da vida, eu poderia citar) e (...) não há nada de errado com isso, desde que eles assumam que estão fazendo isso". Minha curiosidade sobre Sabine Hossenfelder me levou a ler, recentemente, seu livro "A ciência tem todas as respostas?" (Editora Contexto, 257 páginas, tradução de Peter Schulz), que analisa vários aspectos da ciência, como o início do universo e da vida, por exemplo. A física alemã é ateia de quatro costados: ela defende, por exemplo, que não existe "livre arbítrio" porque nossos pensamentos, em última análise, são criados por átomos. Ela acha também que a física quântica não é tão surpreendente assim, e que a consciência não atua sobre fenômenos quânticos (não me peça para resumir a explicação dela, não a entendi direito!). Mas ela também acha uma bobagem quando cientistas defendem que Deus não existe, já que a ciência não pode dar esta resposta, simplesmente por falta de provas! Como ela escreve em seu brilhante livro,
"Não me leve a mal. Eu não tenho nada contra pessoas perseguem essas ideias em si. Se alguém achar que isso tem valor por alguma razão, tudo bem para mim - todos devem ser livres para praticar sua religião. Mas eu quero que cientistas estejam atentos aos limites de suas disciplinas. Às vezes, a única resposta científica que pode ser dada é 'nós não sabemos'. É por isso que me parece provável que, nesse processo de descoberta do conhecimento, religião e ciência continuarão a coexistir ainda por um longo tempo. Isso porque a ciência é em si limitada e, onde a ciência termina, buscamos por outros tipos de explicação. (...) Não é que eu queira ser simpática com pessoas religiosas pela única razão de ser agradável. Para começo de conversa, eu não sou exatamente conhecida como uma pessoa agradável. Mais importante do que isso, cientistas que afirmam, como fez Stephen Hawking, que 'não existe a possibilidade de um criador', ou como Victor Stenger, que Deus é uma "hipótese falseada", demonstram que não entendem o limite de seu próprio conhecimento. Eu sinto arrepios quando cientistas fazem essas declarações presunçosas."
O último parágrafo do livro mostra que nem sempre cientistas ateus dão preguiça quando escrevem sobre a vida:
"Então, sim, nós somos sacolas de átomos rastejando por um pálido ponto azul no braço espiral externo de uma galáxia incrivelmente ordinária. E, ainda assim, somos muito mais que isso."
"A ciência tem todas as respostas?" é, sem dúvida nenhuma, o melhor livro de divulgação científica que já li. E é divertidíssimo.
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