fevereiro 2019

Séries
Outlander
24 de fevereiro de 2019 at 16:45 0
Jamie e Claire - fonte: Observatório do Cinema

Produzido pela americana Starz, a série britânico-americana “Outlander” é transmitida aqui no Brasil pela Netflix, que já apresentou três de suas quatro temporadas – que têm entre 16 e 13 episódios cada uma, com capítulos de cerca de uma hora cada.

Claire Randall (vivida por Caitriona Balfe) é uma enfermeira inglesa recém-casada que tinha trabalhado na Segunda Guerra Mundial. Em 1946 ela vai visitar Inverness, na Escócia, onde seu marido, o historiador Frank Randall (Hanan Tobias Simpson Menzies) vai fazer algumas pesquisas sobre as lutas pela independência da Escócia, organizadas pelos jacobitas, que acabaram sendo derrotados na Batalha de Culloden, em 1746.

Num passeio pelas proximidades, Claire visita umas pedras rituais e acaba voltando no tempo, em 1743, na Escócia ainda lutando pela sua independência. Lá ela se encontra e se apaixona pelo líder jacobita Jamie MacKenzie Fraser (Sam Heughan), bonito, charmoso, corajoso, inteligente, bom caráter - não é à toa que as mulheres costumam amar “Outlander”.

As aventuras que o casal Claire e Jamie se envolvem incluem uma passagem pela França de Luís XVI, um mercado de escravos na Jamaica, um emprego aparentemente sério em Glasgow, batalhas, torturas, muita violência e muito sexo não-explícito (um sujeito mais cínico poderia dizer que “Outlander” é uma espécie de “Cinquenta tons de cinza” com fundo histórico). São tantas as situações rocambolescas em que o acaso acaba resolvendo situações aparentemente insolúveis que o negócio frequentemente beira o absurdo – mas não esqueçamos que Claire é uma enfermeira do séc. XX se atrapalhando e se apaixonando no sec. XVIII, não dá para exigir tanta verossimilhança mesmo.

De todo modo, a série é muito bem produzida, e confesso que me diverti muito em boa parte de seus muitos e longos capítulos.

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Literatura
“O cavaleiro inexistente”, de Italo Calvino
17 de fevereiro de 2019 at 15:28 0
fonte: Stanford University

Agilulfo é um cavaleiro medieval do exército de Carlos Magno que porta o tempo todo uma armadura branca – o tempo todo mesmo, já que ele não existe. Quando abre a viseira do elmo, é o vazio que os demais veem dentro da armadura sempre imaculada. Agilulfo não se alimenta, nunca dorme e é um cavaleiro extremamente compenetrado, corajoso e detalhista. Seu escudeiro teve vários nomes, conforme o lugar do mundo em que morou, e agora é chamado de Gurdulu. Ele é deficiente mental, tem uma força descomunal e um excelente caráter – todo mundo gosta dele. Rambaldo é um jovem que quer lutar nas batalhas contra os “infiéis” muçulmanos para matar o emir Isoarre e assim vingar a morte do pai, o marquês de Rossiglione. Brabante é uma mulher que luta juntamente com os homens, gosta de fazer sexo com os demais soldados e se apaixona por Agilulfo. Já Torrismundo é um jovem cavaleiro que diz ter provas de que o cavaleiro inexistente não defendeu a virgindade de uma donzela quinze anos antes – defesa esta que permitiu a Agilulfo o título de paladino de Carlos Magno.

Os personagens acima são os principais de “O cavaleiro inexistente” (Companhia das Letras, 118 páginas), romance escrito em 1959 pelo escritor italiano Italo Calvino (1923-1985). Sobre o livro, Fernando A. R. de Gusmão escreve, por exemplo, que:

“(...) Em outra vertente, Agilulfo é, também, o homem pós-moderno, fracassado em seu projeto de ser alguém, de ser um ser específico, passando toda a vida como sujeito potencial, sempre reprimido, somente Ser enquanto subordinado aos interesses do Outro - social. Nesse sentido, podemos percebê-lo, também, como um ser-vitrine da atual sociedade/espetáculo, perdido em sua exterioridade, vivendo função de uma contemporaneidade artificial, descartável, que se cumpre na celeridade e na impessoalidade do fast-food, na qual ele não passa de mais um passante/intérprete/plateia do shopping/moda.”

Tudo bem, nada contra. Só que eu, por outro lado, não percebi sentido nenhum em “O cavaleiro inexistente”, que acho que seria um livro até divertido se tivesse apenas um quinto do seu tamanho. Do jeito que foi escrito, suas mais de cem páginas demoram uma eternidade para passar.

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Séries
Conversando com um serial killer: Ted Bundy
10 de fevereiro de 2019 at 17:19 0
Ted Bundy - fonte: The Independent

Ted Bundy (1946-1989) foi um assassino serial americano que assumiu o assassinato de 30 mulheres, quase todas jovens e morenas, entre 1974 e 1978 em seis estados americanos - mas que possivelmente matou ainda mais. Ele era bonito, charmoso, e conseguia passar uma imagem gentil e bem-sucedida, de tal modo que os membros da igreja em que frequentava na Flórida – o último estado em que cometeu crimes – fizeram uma campanha para inocentá-lo quando ele foi preso: eles não conseguiam se conformar que um rapaz tão inteligente e bem-apessoado pudesse ser incriminado por crimes tão horrendos – ele matava suas vítimas com requintes de violência, frequentemente as estuprando vivas ou mortas.

É este personagem sombrio, a primeira pessoa a ser chamada de “serial killer”, o tema da excelente série documental da Netflix “Conversando com um serial killer: Ted Bundy”, com quatro episódios de cerca de 50 minutos cada um. A base para o documentário são as cem horas de gravação que o jornalista Stephen Michaud fez com o assassino quando este já estava no corredor da morte. Ted Bundy passa boa parte destas muitas horas negando qualquer envolvimento com os crimes dos quais era acusado, mas quando o jornalista pede que ele descreva os crimes na terceira pessoa ele começa a descrevê-los de maneira “hipotética”.

O documentário alterna áudios das gravações com imagens de arquivo, entrevistas com amigos do assassino, vítimas, policiais e promotores. A história que se desenrola para o espectador é tão estranha que parece ficção: Ted Bundy teve uma infância aparentemente normal, estudou psicologia e depois direito, pediu para se defender em seus julgamentos, conseguiu fugir duas vezes depois de preso - e em cada uma delas conseguiu cometer mais crimes.

As muitas fotos em preto e branco das garotas assassinadas, enquanto ainda estavam vivas, dão um nó na garganta do espectador.

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Literatura
Trecho inicial de “O verão de 54 (novelas)”
4 de fevereiro de 2019 at 20:25 0
Clarice Lispector - fonte: InstitutoMoreiraSalles

Tudo começou quando a Valéria me contou que havia sonhado com a Clarice Lispector lhe dizendo que eu teria que escrever um livro chamado “O verão de 54”. Além deste, a escritora acrescentava que eu deveria, ainda, compor outra obra, sobre a Rússia. Bem, o Stálin é um personagem fascinante e a ideia de escrever uma espécie de monólogo interior sobre os dias dramáticos depois da invasão da União Soviética pela Alemanha, quando o ditador soviético aparentemente entrou em colapso nervoso, pareceu-me, de cara, uma boa ideia. É claro que eu teria que ler muitas biografias do ditador russo, fazer pesquisas, coisas que meu trabalho como engenheiro impossibilitaria – ou, no mínimo, dificultaria muito. Quem sabe um dia.

Assim como a ideia do hipotético livro sobre a Rússia, a ideia da história do “O verão de 54” me veio imediatamente à cabeça. Seria a paixão de um homem mais velho por uma mulher bem mais jovem, ele muito rico, ela de classe média baixa, aqui em Curitiba mesmo. O problema estava no título: “O verão de 54” significava que o livro deveria se passar, pelo menos em parte, muitas décadas atrás. Meus pais nasceram no início dos anos 40, poderiam me ajudar com alguma informação sobre aquela época. Minha sogra nasceu nos anos 20, também poderia contribuir com alguma coisa.

Meu protagonista seria rico e jornalista. Rico e jornalista, naquela época, até onde eu sei, só se fosse proprietário de uma grande empresa de comunicação. Ele poderia então ser filho do dono de um grande jornal – uma solução interessante, já que eu não imaginava meu protagonista com grande espírito empresarial. Claro que um empreendedor de primeira linha (o que combinaria com um fundador de um grande jornal) poderia se apaixonar por uma moça mais jovem, mas eu imaginava um protagonista mais passivo.

Tudo começou com um sonho que Paulo teve com Maria, secretária de seu pai. Pai e filho trabalhavam em salas contíguas e ela ficava na antessala dos gabinetes dos dois, juntamente com outras duas secretárias, Nicole e Amanda.

Comecei. Consegui criar um ambiente, um local – será que as coisas eram assim mesmo na sede de um jornal décadas atrás?

(trecho inicial do meu livro "O verão de 54 (novelas)", a ser publicado em meados deste ano)

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