nazismo

“Quero Matar Hitler”, de Edward Moorhouse
História
“Quero Matar Hitler”, de Edward Moorhouse
22 de maio de 2021 at 15:07 0
Hoje qualquer um pode (e deve) ser antinazista. Na Alemanha entre os anos 1933 e 1945, por outro lado, a coisa era muito diferente. Pequenos deslizes, pertencer ao povo “errado”, opiniões divergentes do usual – qualquer coisa podia fazer a pessoa ser torturada e assassinada em algum dos muitos campos de concentração espalhados pelo território ocupado pelos nazistas. É por causa deste tenebroso pano de fundo que são tão admiráveis os muitos casos de bravura descritos em Quero Matar Hitler, do historiador Edward Moorhouse (Ediouro). Como o próprio nome sugere, o livre descreve diversas tentativas de matar o ditador, sejam individuais, sejam parte de movimentos maiores de resistência. Tendo em vista que Hitler se suicidou em 1945, desde o início se sabe que nenhuma destas ações conseguiu seu atingir seu objetivo. Os dois capítulos iniciais são também os mais tocantes. Eles tratam de duas tentativas individuais de matar o Führer, uma por parte do estudante suíço Maurice Bavaud e outra perpetrada por um comunista alemão chamado Georg Elser. Bavaud, católico fervoroso, tentou assassinar o ditador por diversas maneiras e por causa de uma delas acabou preso e posteriormente assassinado em um campo de concentração. O suíço chegou próximo de seu objetivo em 1938, quando Hitler passava por um carro aberto em um desfile em Munique enquanto Maurice estava armado com uma pistola automática na platéia. Neste dia o sanguinário ditador acabou passando mais longe do que o estudante previra e, por isto, este acabou não atirando. Já Georg Elser plantou uma bomba-relógio na cervejaria em que Hitler iria discursar, em 8 de novembro de 1939, também em Munique. A bomba explodiu conforme o planejado, às 21h20. Mas o sanguinário ditador, como fazia frequentemente, saiu do local mais cedo do que o previsto e escapou da morte por treze minutos. O resultado da explosão foram sessenta e três pessoas gravemente feridas e oito mortas. Tanto Bavaud quanto Elser praticamente não tiveram ajuda de outras pessoas, o que faz as ações deles serem ainda mais admiráveis. Quero Matar Hitler, aliás, mostra como estas duas tentativas também foram possibilitadas pelo fraco sistema de segurança nazista da época (final dos anos 30). À medida que os anos foram passando, ações como as de Maurice e Georg praticamente não seriam mais possíveis, graças ao crescente aumento na segurança pessoal do chefe nazista Um capítulo de Quero Matar Hitler, como não poderia deixar de ser, é dedicado ao mais famoso dos atentados contra Hitler, aquele perpetrado pelo tenente-coronel alemão Claus Von Stauffenberg, cuja história inspirou o recente filme Operação Valkiria, estrelado por Tom Cruise. A bomba que o militar plantou perto do ditador em uma reunião, no dia 20 de julho de 1944, não o matou por muito pouco – e ainda reforçou a ideia que Hitler tinha de si próprio, de que ele era um escolhido pela Providência. Outro aspecto importante deste caso é como o exército alemão (a Wehrmacht) ainda conseguia ser um foco de resistência ao regime nazista, já que da conspiração de Stauffenberg faziam parte um grande número de militares de alta patente. Aliás, quase todos brutalmente assassinados como represália ao atentado. Outro capítulo de Quero Matar Hitler descreve as tentativas de Albert Speer, já no final da guerra, para assassinar o ditador. Speer, segundo relatos, era o único dos nazistas de altíssimo escalão “que parecia uma pessoa normal, não um psicopata”. Apesar da proximidade com Hitler e dos importantes cargos que ocupou, parece que realmente Speer não participou ativamente das maiores crueldades nazistas – tanto assim que ele não fora condenado à morte pelo Tribunal de Nuremberg (mas a uma pena de 20 anos de prisão). De todo modo, o fato de Speer ter ou não pensado realmente a sério em matar Hitler no final da guerra é um assunto controverso até hoje. Os demais capítulos do livro não se concentram em tentativas de matar Hitler, mas são descrições de movimentos de resistência (polonês, russo. britânico) nos quais o assassinato do ditador era, por vezes, aventado. A conclusão descreve como seria a morte do ditador. Quero Matar Hitler é uma leitura ágil e interessante. O autor mostra uma grande preocupação em inserir as tentativas de assassinato do Führer dentro do contexto histórico, o que muito enriquece a leitura. É pena que a tradução da Ediouro seja tão descuidada - mas nada que uma boa e séria revisão futura não resolva. (texto publicado em 2010 no Mondo Bacana - foto: Revista Veja)  
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Os livros que mais gostei de ter lido em 2020
História, Literatura
Os livros que mais gostei de ter lido em 2020
31 de dezembro de 2020 at 15:16 0
  1. “Gengis Khan e a formação do mundo moderno”, de Jack Weatherford: provavelmente você não sabia que o grande imperador mongol (1158 – 1227) tinha uma mentalidade tão à frente do seu tempo.
  2. “Não me abandone jamais”, de Kazuo Ishiguro: poucos livros me perturbaram tanto.
  3. “O império de Hitler”, de Mark Mazower: sempre tive curiosidade de saber como os nazistas se comportavam como colonizadores, coisa que este livro monumental explica.
  4. “A destruição dos judeus europeus”, de Raul Hilberg: outro livro monumental, sobre o Holocausto neste caso.
  5. “O mapa e o território”, de Michel Houellebecq: fico mais feliz lendo uns autores do que outros, e Michel Houellebecq é um dos que me dão mais alegria na leitura.
  6. “Os testamentos”, de Margaret Atwood: continuação de “O conto da Aia”, não preciso explicar mais.
  7. “As luas de Júpiter”, de Alice Munro: tem gente que reclama do Prêmio Nobel de Literatura por causa disso e daquilo, mas eu provavelmente não conheceria autoras como esta canadense se não fosse a Academia Sueca.
  8. “A época da inocência”, de Edith Wharton: um amor mal resolvido e os preconceitos e costumes dos ricos americanos do final do século XIX e início do século XX numa obra-prima.
  9. “O dom”, de Vladimir Nabokov: Nabokov é Nabokov, e pronto.
  10. Deus, essa gostosa, de Rafael Campos Rocha: uma história em quadrinhos que comprova que God is a woman, como diz a Ariana Grande, uma favorita aqui da casa.
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“A destruição dos judeus europeus”, de Raul Hilberg
História
“A destruição dos judeus europeus”, de Raul Hilberg
13 de dezembro de 2020 at 16:10 0
Provavelmente a obra mais importante sobre o Holocausto, “A destruição dos judeus europeus”, do austríaco-americano Raul Hilberg, é um calhamaço cuja edição brasileira, da Amarilys Editora, tem 1664 páginas e cinco tradutores (Carolina Barcellos, Laura Folgueira, Luís Protasio, Mauricio Tamboni, Sonia Augusto). A primeira edição da obra é de 1961, mas ela teve várias atualizações até o início dos anos 2000 (o autor faleceu em 2007); o livro, que serviu inclusive como base para o monumental filme “Shoah”, de Claude Lanzmann (ver, inclusive, o comentário do cineasta na capa da edição da Amarilys Editora, que é a imagem que acompanha este texto), foi o trabalho de uma vida. Como o próprio Hilberg comenta na obra, quando da sua primeira edição, em 1961, o Holocausto era um assunto quase esquecido: no meio da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética tinham outas preocupações mais imediatas e pouca vontade de melindrar a memória de suas aliadas, respectivamente as Alemanhas Ocidental e Oriental. O autor, inclusive, descreve como sua pesquisa sobre a destruição dos judeus europeus era vista com ceticismo quando da elaboração da obra. Enfim, os ventos mudaram e o Holocausto - também por causa deste monumental “A destruição dos judeus europeus” – é atualmente objeto de gigantesco interesse, tanto por parte dos pesquisadores quanto do público em geral. O livro, realmente, merece a fama que tem. Praticamente todo escrito com enfoque sobre os perpetradores alemães, “A destruição dos judeus europeus” mostra com um grande número de documentos como os nazistas foram destruindo suas vítimas aos poucos: a partir de leis racistas que lhe tiravam paulatinamente os seus direitos, os judeus iam se sentindo mais e mais oprimidos e humilhados e acabavam tendo pouca ou nenhuma força de reação. Este processo de destruição era sistemático e organizado. Nem todos os países ocupados ou aliados da Alemanha, por outro lado, tiveram o mesmo comportamento quanto à destruição de sua população judia, e o livro mostra com detalhes a atuação de cada uma dessas nações a este respeito. Mas, claro, o livro tem muito mais: descrição dos campos de extermínio, das Marchas da Morte, dos Einsatzgruppen (esquadrões móveis que assassinavam populações judias em países como a União Soviética e a Ucrânia), da burocracia envolvida no processo da destruição da população judia, da reação pífia e às vezes até revoltante dos países aliados contra o Holocausto durante a guerra. Enfim, o livro é de leitura dolorosa, mas fundamental para quem quer entender mais sobre a destruição dos judeus europeus durante a Segunda Guerra.
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História
Livros sobre o nazismo
3 de maio de 2020 at 14:38 0
fonte: Amazon

O regime nazista, comandado por Adolf Hitler na Alemanha, foi um dos mais brutais de todos os tempos, senão o mais brutal: não só provocou a Segunda Guerra Mundial como assassinou friamente, fora dos campos de batalha, cerca de seis milhões de judeus, quinhentos mil ciganos e cinco milhões de pessoas de outras etnias. Toda esta barbárie ainda chama muito a atenção dos historiadores e do público em geral, e novos lançamentos de história e de ficção abordam diferentes aspectos do regime nacional-socialista.

Falecido recentemente, o historiador alemão Joachim Fest escreveu aquela que é considerada por grande parte dos especialistas como a melhor de todas as biografias de Adolf Hitler. O segundo volume desta obra foi relançado em 2006 (o primeiro tinha saído em 2005): Hitler - vol. 2  (Nova Fronteira, 528 páginas).

O primeiro tomo cobria a vida de Hitler desde o seu nascimento até a posse como Chanceler (cargo equivalente ao Primeiro-Ministro de um país parlamentarista) alemão, em 30 de janeiro de 1933. Hitler - vol. 2 inicia-se nesta data e termina com a morte do Führer no seu bunker em Berlim, quando da derrota da Alemanha em 1945.

Os dois volumes desta biografia são extremamente detalhados, precisos e bem escritos, fruto de um trabalho sério e obsessivo do historiador. Merecem totalmente o imenso prestígio que obtiveram ao longo dos anos, desde a sua publicação na Alemanha em 1973.

Para o leitor leigo, uma boa introdução ao modo nazista de pensar e de governar encontra-se em Itália Nazista e Alemanha Nazista (Madras, 180 páginas), escrita pelo catedrático de História Europeia Moderna da Universidade Estadual da Carolina do Norte Alexander J. De Grand. A obra faz uma comparação entre os regimes fascista da Itália e nazista da Alemanha em relação a assuntos como a marcha para o poder, os sistemas econômicos, as comunidades, a cultura, os militares, a expansão e a guerra.

Dificilmente alguém que não tenha ficado chocado com a barbárie nazista não tenha algum dia se perguntado como estaria hoje o mundo se o Eixo - aliança entre a Alemanha, a Itália e o Japão - tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial. Uma fantasia - tétrica, como não poderia deixar de ser - neste sentido foi criada pelo escritor de ficção científica Philip K. Dick no romance O homem do castelo alto, publicado originalmente em 1962 e apenas agora lançado no Brasil (Aleph, 304 páginas).

O livro mostra como seria o início dos anos sessenta após a derrota dos Aliados. Neste assustador mundo fictício, os japoneses governam a Costa Oeste dos Estados Unidos e a Alemanha, a Costa Leste. Hitler está tão doente que já não tem mais condições de governar, e o ditador do Reich agora é o antigo fiel escudeiro do ex-Führer, Martin Bormann. Os dirigentes nazistas (como sempre ocorrera, aliás), travam ferozes lutas internas por nacos de poder: com Heinrich Himmler já falecido, os mais importantes mandatários alemães são o ministro da aeronáutica e ex-vice premiê Hermann Göring, o ministro da propaganda Joseph Goebbels, o ex-dirigente da juventude nazista, o moderado Baldur Von Schirach, e os cruéis Arthur Seyss-Inquart e Reinhard Heydrich – que, na ficção de Philip K. Dick, não tinha sido morto em decorrência de um atentado em Praga perpetrado por terroristas tchecos, conforme realmente ocorreu no ano de 1942. Na África, os nazistas promoveram um monstruoso genocídio contra a população negra e, em todo o mundo, dão total publicidade ao assassinato em massa de judeus nas câmaras de gás - que continua, claro, com todo o fôlego. Os eslavos que não são escravizados ou assassinados são mandados para regiões distantes da Sibéria. Não satisfeitos em colonizar a Terra, os alemães mandam os primeiros seres humanos para Marte. Ainda na parte tecnológica, os nazistas criam foguetes de linhas comerciais que fazem o trajeto Estados Unidos-Europa em menos de uma hora.

O homem do castelo alto se passa na Costa Oeste dos Estados Unidos, na região de San Francisco. No romance, os americanos são cidadãos de segunda classe, totalmente subjugados ao poder japonês, que é bem menos agressivo que o correspondente nazista: o governo imperial permite alguma liberdade de imprensa e jamais perseguiu judeus. Os japoneses, além disso, admiram a cultura americana, apreciando o jazz e o blues, e colecionam objetos fabricados nos Estados Unidos no período anterior à Segunda Guerra Mundial.

O livro conta a história de alguns personagens - quase todos aficionados pelo milenar livro chinês de adivinhação, o I Ching - vivendo nesta Costa Oeste fictícia. O espião alemão que quer, com grande risco de vida, passar informações extremamente importantes para o governo japonês. O artesão judeu que fez operações plásticas e mudou seus documentos para esconder sua origem. A mulher problemática que namora um rapaz pretensamente italiano que ela acaba descobrindo ser um espião alemão preparado para assassinar o escritor de um romance que contava a história de um mundo em que o Eixo perdeu a guerra. O comerciante americano de objetos antigos que está sempre querendo agradar os superiores japoneses. O burocrata japonês que sofre com as políticas nazistas e com as guerras de espionagem.

O homem do castelo alto é um livro sombrio e melancólico, e que gruda na memória do leitor.

Se a obra de Philip K. Dick angustia quando trata de um tempo presente que poderia ter acontecido com a vitória alemã na Segunda Guerra Mundial, Diário de um skinhead - um infiltrado no movimento neonazista, do jornalista espanhol Antonio Salas (Planeta, 280 páginas) assusta ao falar do nazismo "de verdade" nos dias atuais.  O autor, que utilizou um pseudônimo para assinar o livro por motivos óbvios, passou mais de um ano como infiltrado entre violentos skinheads espanhóis, sempre filmando tudo com uma câmera escondida. O risco que ele correu nesta empreitada foi, obviamente, enorme, e o jornalista brasileiro Tim Lopes, brutalmente assassinado por traficantes cariocas ao fazer uma reportagem semelhante em 2002, é citado no livro do espanhol para dar uma idéia do perigo da situação.

Para infiltrar-se na extrema-direita espanhola, Salas começou pelo maior meio de comunicação dos skinheads na atualidade: a internet. Ele demorou cerca de três meses – por segurança, sempre em lan houses - navegando por chats e sites nazistas, entrando em contato com pessoas do movimento, aprendendo sua gíria especializada e seus códigos de conduta, antes de pegar coragem e conhecer pessoalmente alguns de seus objetos de estudo. Como era de se esperar, para ser um infiltrado convincente ele rapou o cabelo, passou a se vestir como um skinhead e a defender (somente em público, claro) ideias nazistas. As muitas aventuras perigosas pelas quais Salas passou e os sentimentos – muitas vezes contraditórios e surpreendentes – que ele teve neste empreitada perigosa são narrados com grande detalhe, resultando numa leitura de grande impacto na maior parte do tempo. Entre os resultados mais importantes da investigação do jornalista estão a descoberta das íntimas ligações dos skinheads com os partidos legais de extrema-direita (que sempre negaram este contato) e com muitas torcidas organizadas do futebol espanhol – o que ajuda a explicar o recente aumento do racismo observado em arquibancadas europeias.

(textos publicados em 2006 na Revista Dominical do jornal O Estado do Paraná)

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12 de abril de 2016 at 08:28 0
O Gueto de Varsóvia foi um dos episódios mais tristemente célebres do Holocausto: não só porque representou a eliminação de um número muito grande de pessoas, como também pela inédita resistência judaica contra os opressores nazistas. (mais…)
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16 de março de 2016 at 08:57 0
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História
Conferência de Wannsee
5 de fevereiro de 2016 at 15:03 0
Centenas de milhares de judeus, principalmente na União Soviética, já tinham sido assassinados em 20 de janeiro de 1942. Entretanto, esta data é um marco: o nacional-socialismo, que já era uma das ditaduras mais cruéis da História, a partir de então passa a patrocinar o espetáculo mais dantesco de todos os tempos, algo que envergonha a humanidade até hoje, não importando se a pessoa é nazista ou não. (mais…)
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