Num futuro relativamente próximo, uma seita religiosa radical assassina o presidente dos Estados Unidos e metralha o Congresso, tomando então o poder. O país passa a se chamar Gilead e a vida das pessoas sofre transformações violentas: boa parte das mulheres têm de viver juntas, como se fossem freiras, e para cada função feminina – esposa, aia, “tia” – elas têm que usar roupas com cores que remetam à sua função na sociedade.
A cor que a narradora de “O conto da Aia”, da canadense Margaret Atwood – romance publicado originalmente em 1985 (Rocco, 370 páginas) –, tem que utilizar é a das “aias”, o vermelho. Utilizar esta cor significa que ela tem a função de reproduzir, muito valorizada neste futuro distópico em que guerras nucleares tornaram boa parte da humanidade infértil. O sexo a que a narradora tem de se submeter para reprodução é mais próximo de um estupro do que de qualquer outra coisa, já que as “aias” não têm liberdade para praticamente nada – nem de expressão, nem de locomoção, nem, como vimos, de se vestir da maneira que melhor lhes agrade.
A religiosidade, de teor cristão, que os governantes de Gilead impõem sobre a população é opressiva, e domina todos os aspectos da vida das pessoas. Mas, em “O conto da Aia”, outros países mantêm seus costumes: quando turistas japoneses visitam Gilead são orientados a não olhar nos olhos e a não conversar com as mulheres locais, que se vestem castamente e sempre mantêm o olhar baixo.
Como se pode imaginar, a leitura de “O conto da Aia” é opressiva – mas também é imperdível: não à toa, a série baseada no livro (“The Handmaid’s Tale”) é uma das mais premiadas dos últimos anos.
(a imagem que acompanha o texto é do seriado “The Handmaid’s Tale”, obtida no site Nerd Break)
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