março 2019

Séries
Novas temporadas de Atypical, The Good Place e Suits
24 de março de 2019 at 21:53 0
Katherine Heigl em Suits - fonte: US Weekly

Este texto comenta as novas temporadas de séries sobre as quais já eu já tinha comentado aqui.

"Atypical” trata de um menino autista, Sam Gardner (Kier Gilchrist), seus pais e sua irmã. Em sua segunda temporada, a série da Netflix consegue desenvolver com competência as histórias da mãe do garoto, Elsa (Jennifer Jason Leigh), do seu pai, Doug (Michael Rapaport) e de sua irmã, a linda Casey (Brigette Lundy-Paine): os três continuam adoráveis e irritantes ao mesmo tempo, ao contrário de Sam e do seu melhor amigo, Zahid (Nik Dodani), que são sempre adoráveis.

Parecia que o início da terceira temporada de “The Good Place” iria desandar tudo: nossos amigos Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), Chidi Anagonye (William Jackson Harper), Jameela Jamil (Tahani Al-Jamil) e Manny Jacinto (Jason Mendoza) voltam da “outra vida” (o “bom lugar” é para onde eles foram depois de mortos) para fazer um curso de ética na Austrália - e  parecia que a série da Netflix estava começando a se levar a sério demais. Por sorte, isso logo ficou para trás e “The Good Place” logo voltou ao seu ritmo alucinado e divertidíssimo de sempre. Como se não bastasse, a temporada faz pensar enquanto faz rir: é possível ser realmente bom numa sociedade tão industrializada, tecnológica e globalizada como a nossa?  

O assunto mais recorrente da série “Suits” – série da USA Today transmitida por aqui pela Netflix - em suas sete temporadas iniciais era a tensão devida ao fato de que Michael Ross (Patrick J. Adams) poderia ser desmascarado por fraude, já que trabalhava como advogado sem sê-lo – ele sabia advocacia com profundidade e tinha memória fotográfica (decorava tudo o que lia). Na oitava temporada (só a primeira parte dela foi transmitida para cá - a segunda parte começou a passar nos Estados Unidos em janeiro de 2019), tanto Michael Ross quanto Rachel Zane (vivida pela atual princesa Meghan Markle) não são mais personagens da série que, surpreendentemente, parece mais interessante sem eles: os advogados Alex Williams (Dulé Hill) e, principalmente, Samantha Wheeler (a ótima Katherine Heigl), conseguiram substituir com brilhantismo aqueles que saíram.

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Literatura
“La vida es sueño”, de Calderón de la Barca
17 de março de 2019 at 18:29 0
Calderón de la Barca - fonte: Wikipedia

Tendo em vista as condições astrológicas, Segismundo nasceu no pior momento possível: pela previsão dos astros ele teria mau caráter, seria assassino, violento e traiçoeiro. Sabendo disso, seu pai, o rei polonês Basilio, colocou-o no cárcere praticamente desde que nasceu, sem contato com outros seres humanos fora Clotaldo, criado e professor do menino. Um tanto inseguro quanto às previsões astrológicas, Basilio bola um plano: manda dar drogas para seu filho e o faz pensar que é rei por um dia, ordenando inclusive a todos os cortesãos que o obedecessem. Se ele fosse mau durante esse dia significaria que as previsões estavam corretas e Basilio o devolveria para o cárcere – e Segismundo concluiria que o seu “dia de rei” não tinha passado de um sonho.

Esse é o mote principal de “La vida es sueño” (Penguin Clásicos, 231 páginas), obra-prima do “autor teatral barroco por excelência” (segundo a contracapa do livro), o espanhol Calderón de La Barca (1600-1681).

A peça merece sua grande fama: não só é emocionante, cheia de reviravoltas - fora a história principal, ainda tem uma secundária, “a restauração da honra” da personagem Rosaura -, como tem trechos inesquecíveis, sendo o mais famoso aquele falado por Segismundo:

“¿Qué es la vida? Un frenesí. / ¿Qué es la vida? Una ilusión, / una sombra, una ficción, / y el mayor bien es pequeño; / que toda la vida es sueño, / y los sueños, sueños son”.

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Literatura, Obra Literária
Trecho inicial da minha novela “Morrissey”
10 de março de 2019 at 12:18 0
Morrissey - fonte: Billboard

- De jeito nenhum, delegado.

- Mas como assim, como é que você pode ter certeza?

- Tenho. Ele é um poeta, um homem estudado...

- Poetas e homens estudados não podem acreditar?

- Eu acho que não.

- Mas você sabe que a coisa não é bem assim, né?

- Eu acho que nenhum homem estudado, com talento, pode acreditar em Deus.

- Tá, vá lá, então o Morrissey não acredita em Deus e escreveu uma música chamada I have forgiven Jesus porque na verdade queria falar do seu desejo de matar alguém.

- Qualquer um pode ver isso, delegado... ah lá: Why did you give me so much desire? / When there is nowhere I can go / To offload this desire? Tá aí. Tá com desejo de matar.

- Ele disse que está com desejo de amor, é só ler a continuação da letra: And why did you give me so much love / In a loveless world / When there is no one I can turn to / To unlock all this love? Então você está dizendo que o amor que ele fala aqui é “metafórico”?

- Claro.

- Baseado exatamente no quê?

- Se fosse desejo de sexo, e aí até eu poderia aceitar, ele ia falar sexo, não amor. Ou você acha que um cara que tem tanto desejo assim de amor ia reclamar de falta de amor? Ninguém tem desejo assim de amor!

("Morrissey" é a segunda novela do meu livro "O verão de 54 (novelas)", a ser publicado em meados deste ano)

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