Eu lembro de ter visto o Luiz Felipe Pondé dizendo em algum lugar que, se você critica Platão, você está errado. O físico italiano Carlo Rovelli, no final do seu “A realidade não é o que parece” (Objetiva, 296 páginas, tradução de Silvana Cobucci), com a maior desfaçatez, chama de “tolices” as discussões sobre a imortalidade da alma em “Fédon”, clássico do filósofo grego.
Carlo Rovelli odeia discussões espirituais. Lá pelas tantas, ele declara que as pessoas que têm fé
preferem uma certeza qualquer, mesmo que evidentemente infundada, à incerteza que vem de se dar conta dos próprios limites. Alguns preferem acreditar em uma história nem que seja apenas porque os anciãos da tribo acreditavam nela — não importa se é verdadeira ou falsa —, em vez de aceitar a coragem da sinceridade: aceitar que vivemos sem saber tudo o que gostaríamos.
Em outro momento ele declara que “ciência e religião estão geralmente em rota de colisão” – não na minha cabeça, Carlo Rovelli, e nem na de muita gente.
É isso que me irritou em “A realidade não é o que parece” - livro bem escrito que conta a história dos cientistas que ajudaram a criar a teoria, criada pelo próprio Rovelli, da “gravidade quântica”, rival da teoria das cordas (bem mais interessante, aliás, para um não especialista como eu): a postura arrogante e desrespeitosa de alguém que debocha das crenças de no mínimo 80% da humanidade. Francamente, prefiro os ateus militantes como Richard Dawkins e Christopher Hitchens, que entregam o que prometem e não criam livros com nomes como “A realidade não é o que parece”, que mais lembram alguma discussão metafísica do que qualquer outra coisa.
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