Richard Dawkins

“A ordem do tempo”, de Carlo Rovelli
Filosofia
“A ordem do tempo”, de Carlo Rovelli
5 de outubro de 2024 at 22:24 0
Em "A ordem do tempo" (Objetiva, 189 páginas, tradução de Silvana Cobucci, lançado originalmente em 2017), o físico italiano Carlo Rovelli, além de apresentar um painel de como o tempo tem sido analisado por filósofos e cientistas desde a Antiguidade Clássica, defende uma teoria fascinante e provocadora: tendo em vista que, na escala do átomo, as equações da física quântica não necessitam da variável tempo para serem resolvidas, a nossa sensação de que o tempo passa - do passado para o futuro - é causada pela Segunda Lei da Termodinâmica.  De maneira muito simplificada, esta lei diz que um sistema fechado sempre tende a um aumento da entropia, ou seja, da desordem, e não há como voltar ao estado anterior. Um ovo quebrado tem mais entropia que um inteiro - e não há como fazer a operação inversa de quebrar um ovo. Segundo Carlo Rovelli, como é sempre necessário o fator tempo - indo do passado para o futuro - para que a  entropia aumente, o aumento de calor causado por este crescimento da desordem é o que dá a sensação da passagem do tempo nos seres humanos. Mesmo nossos pensamentos são causados por atividade neuronal que literalmente esquenta nossas cabeças, e por isso nosso cérebro tem a sensação de que o tempo passa em apenas uma direção. Estava tudo indo bem quando, no final de "A ordem do tempo", Rovelli começa a filosofar sobre o sentido da vida e, como sempre acontece nesses casos, o sono e a preguiça de continuar a leitura tomam conta dos meus pensamentos. Já tinha acontecido isso comigo com livros de divulgação científica de Richard Dawkins, Marcelo Gleiser e outros do próprio Rovelli. Como disse a polêmica - e divertida - física alemã Sabine Hossenfelder num brilhante e curto vídeo chamado "Religion and science have the same roots" ("religião e ciência têm as mesmas raízes"), cientistas frequentemente entram no campo da religião (tradução aproximada para "doing religion") quando falam das "grandes questões" (criação e o sentido da vida, eu poderia citar) e - ainda segundo ela - não há nada de errado com isso, desde que eles assumam que estão fazendo isso. Quanto a mim, poucas coisas me dão mais tédio do que cientistas ateus filosofando, tentando dar um sentido positivo à vida.
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“A realidade não é o que parece”, de Carlo Rovelli
Filosofia
“A realidade não é o que parece”, de Carlo Rovelli
23 de janeiro de 2022 at 19:02 0
Eu lembro de ter visto o Luiz Felipe Pondé dizendo em algum lugar que, se você critica Platão, você está errado. O físico italiano Carlo Rovelli, no final do seu “A realidade não é o que parece” (Objetiva, 296 páginas, tradução de Silvana Cobucci), com a maior desfaçatez, chama de “tolices” as discussões sobre a imortalidade da alma em “Fédon”, clássico do filósofo grego. Carlo Rovelli odeia discussões espirituais. Lá pelas tantas, ele declara que as pessoas que têm fé
preferem uma certeza qualquer, mesmo que evidentemente infundada, à incerteza que vem de se dar conta dos próprios limites. Alguns preferem acreditar em uma história nem que seja apenas porque os anciãos da tribo acreditavam nela — não importa se é verdadeira ou falsa —, em vez de aceitar a coragem da sinceridade: aceitar que vivemos sem saber tudo o que gostaríamos.
Em outro momento ele declara que “ciência e religião estão geralmente em rota de colisão” – não na minha cabeça, Carlo Rovelli, e nem na de muita gente. É isso que me irritou em “A realidade não é o que parece” - livro bem escrito que conta a história dos cientistas que ajudaram a criar a teoria, criada pelo próprio Rovelli, da “gravidade quântica”, rival da teoria das cordas (bem mais interessante, aliás, para um não especialista como eu): a postura arrogante e desrespeitosa de alguém que debocha das crenças de no mínimo 80% da humanidade. Francamente, prefiro os ateus militantes como Richard Dawkins e Christopher Hitchens, que entregam o que prometem e não criam livros com nomes como “A realidade não é o que parece”, que mais lembram alguma discussão metafísica do que qualquer outra coisa.
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Rápidos comentários sobre livros lidos – 2
Literatura
Rápidos comentários sobre livros lidos – 2
3 de maio de 2015 at 21:20 0
Austerlitz, de W.G.Sebald (Companhia das Letras): Austerlitz é um sujeito de grande cultura geral, que fascina o personagem que é o narrador deste espetacular romance do alemão W.G.Sebald, falecido em 2001. Os encontros do narrador com Austerlitz acontecem meio aleatoriamente, em períodos muitos espaçados  e em diferentes países da Europa. Os comentários sobre arquitetura, arte e literatura de Austerlitz são profundos e interessantes. (mais…)
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