julho 2024

Livros lidos recentemente
Literatura
Livros lidos recentemente
7 de julho de 2024 at 17:28 0
"O décimo homem", de Graham Greene (Record, 176 páginas, tradução de Flavio Moreira da Costa, publicado originalmente em 1985): em uma prisão nazista na França durante a ocupação, dez prisioneiros são obrigados a fazer um sorteio, e o sorteado será executado. Aquele que "vence" a competição faz uma proposta insólita, a de trocar de lugar com outro detento por por toda a sua fortuna. Um dos presos aceita a troca, morre no lugar do outro, e a fortuna do sobrevivente vai para a família do falecido. O detento que comprou sua sobrevivência, agora pobre, volta para a casa onde morava, e aí começam os problemas. Extremamente bem escrito, "O décimo homem" é uma novela que justifica todo o sucesso que o inglês Graham Greene (1904-1991) fez como escritor. "O abismo vertiginoso - um mergulho nas ideias e nos efeitos da física quântica", de Carlo Rovelli (Objetiva, 199 páginas, tradução de Silvana Cobucci, publicado originalmente em 2020): um dos efeitos mais conhecidos da física quântica é que o observador, apenas por olhar um experimento, muda o comportamento de partículas subatômicas. Meu maior objetivo em ler este livro do grande físico italiano era tentar entender este efeito estranhíssimo. De fato, como Carlo Rovelli comenta em sua obra,
"a realidade dos quanta é muito mais estranha que todos os delicados, misteriosos, encantadores e intricados aspectos da nossa realidade psicológica e da nossa vida espiritual"
Em seu ótimo livro, Rovelli descreve um experimento que qualquer um acharia maluco se não fosse real, com a mão do observador mudando parte dos fótons lançados por um equipamento. No livro também são apresentadas ótimas descrições dos principais cientistas envolvidos na descoberta da física quântica. A explicação que Carlo Rovelli dá para este efeito esquisito, por outro lado - baseado, grosso modo, na relação entre todas as partículas do Universo - não me impressionou muito. Quem sabe eu não a tenha entendido muito bem. "Clube da Luta", de Chuck Palahniuk (Leya, 272 páginas, tradução de Cassius Medauar, publicado originalmente em 1996): não assisti ao famoso filme homônimo baseado neste romance, e confesso que agora estou bem curioso para saber como roteirista e diretor fizeram para colocar essa loucura toda nas telas. O livro, narrado em primeira pessoa por um funcionário de uma grande empresa, conta como um sujeito estranho chamado Tyler Durden convence vários homens, uma vez por semana, a trocarem socos no porão de bares. A loucura de Tyler vai se aprofundando e ele acaba criando o Projeto Ordem e Destruição, em que convence homens a, primeiro, fazerem pequenos atos de desordem, como cuspir em pratos que serão servidos para hóspedes ricos num hotel, para depois partir para um terrorismo em larga escala. Muita gente acha que "Clube da Luta" é um livro que representa as repressões masculinas, ou coisa que o valha, mas eu só achei que o livro é esquisito mesmo - como os dois do autor ("Maldita" e "Condenada") que eu já tinha lido, aliás. E sim, eu gostei muito de "Clube da Luta".
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Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet
Música
Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet
1 de julho de 2024 at 15:38 0
Lá em casa só tínhamos discos de MPB e alguma pouca coisa de música clássica - cuja coleção eu aumentei desde cedo, com minha paixão prematura por Bach. Havia bastante preconceito lá em casa - coisa da época - contra música americana, e eu mesmo fiquei chocado comigo mesmo quando percebi um interesse incomum numa nova série de fascículos-com-LP chamada "Gigantes do Jazz", da Editora Abril, com Louis Armostrong no primeiro item da coleção. A série, pelo que dava para perceber pelo nome dos escritores dos textos, era francesa - é fato sabido que veio da França a seriedade com que o jazz é tratado hoje. Os textos do fascículos eram autorais, "sem papas na língua". Por exemplo, nos exemplares sempre havia um box que tratava de um assunto correlato: num, uma entrevista em que o jornalista detonava o Ray Charles, que ficou furioso com ele; em outro, o jornalista defende por que Oscar Peterson não era lá essas coisas - e, até onde eu sei, não teve nenhum fascículo de Gigantes do Jazz com este pianista. Fui comprando os exemplares e logo percebi que não gostava tanto assim de jazz: achava interessante, mas de maneira geral só gostava de uma ou outra faixa. E acabei parando de comprar a coleção aí pelo número 10. Mas lá em casa também tinha a Enciclopédia Abril, provavelmente a maior influência na minha vida em termos culturais. No (longo) verbete desta enciclopédia sobre jazz, citavam um tal de Modern Jazz Quartet, que tinha influências de Bach. Opa! Aí sim! Quando o exemplar sobre John Lewis - o líder do grupo - apareceu nas bancas, comprei-o e amei o que ouvi. Os músicos sempre se vestiam a rigor e, além de Lewis e de Milt Jackson, comentado abaixo, o grupo ainda contava com Percy Heath - e depois Connie Kay, a partir de 1955 - no contrabaixo e Kenny Clarke na bateria. E, realmente, o Modern Jazz Quartet tinha nítidas influências do grande compositor Johann Sebastian Bach, e era jazz na sua melhor forma ao mesmo tempo. Só que tinha uma coisa esquisita: apesar de ser o compositor da maioria das músicas e ser o líder do grupo, o que se ouvia nas faixas, em maior destaque, era o vibrafone (um xilofone maior e mais sofisticado) de Milt Jackson. De fato, no box do exemplar de John Lewis do Gigantes do Jazz, o texto era sobre a força expressiva do vibrafonista. A verdade é que o segredo do grupo é a tensão entre o piano extremamente discreto de John Lewis e o vibrafone exuberante de Milt Jackson. Esta tensão devia ser grande mesmo: segundo a Wikipédia em português,
"Em 1974, Jackson deixa o grupo, por razões financeiras, considerando que tocavam por pouco dinheiro, e por necessitar de mais liberdade musical. A sua saída leva ao fim do grupo. Em 1981, juntam-se de novo para tocar em festivais e, mais tarde, tocam regularmente durante um período de seis meses por ano. O seu último trabalho foi em 1993."
De lá para cá - a coleção Gigantes do Jazz começou a ser publicada em 1980, quando eu tinha doze anos - tive fases de ouvir muito jazz, e meus músicos preferidos - além do Modern Jazz Quartet - são John Coltrane, Chet Baker, Billie Holiday, Miles Davis e Charlie Parker. A série "Quem é vivo sempre aparece" é sobre sons retomados depois de muito tempo com músicos que eu nunca tinha citado no blog, e neste texto homenageio esta grande banda de jazz. E, se você nunca ouviu a banda, recomendo fortemente a faixa "Blues in C minor", composta por Milt Jackson: quem sabe você curta - eu mesmo acho que é uma das melhores músicas já feitas. (foto que acompanha o texto obtida na Wikipedia em inglês)
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