Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet
Música

Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet

1 de julho de 2024 0

Lá em casa só tínhamos discos de MPB e alguma pouca coisa de música clássica – cuja coleção eu aumentei desde cedo, com minha paixão prematura por Bach. Havia bastante preconceito lá em casa – coisa da época – contra música americana, e eu mesmo fiquei chocado comigo mesmo quando percebi um interesse incomum numa nova série de fascículos-com-LP chamada “Gigantes do Jazz”, da Editora Abril, com Louis Armostrong no primeiro item da coleção.

A série, pelo que dava para perceber pelo nome dos escritores dos textos, era francesa – é fato sabido que veio da França a seriedade com que o jazz é tratado hoje. Os textos do fascículos eram autorais, “sem papas na língua”. Por exemplo, nos exemplares sempre havia um box que tratava de um assunto correlato: num, uma entrevista em que o jornalista detonava o Ray Charles, que ficou furioso com ele; em outro, o jornalista defende por que Oscar Peterson não era lá essas coisas – e, até onde eu sei, não teve nenhum fascículo de Gigantes do Jazz com este pianista.

Fui comprando os exemplares e logo percebi que não gostava tanto assim de jazz: achava interessante, mas de maneira geral só gostava de uma ou outra faixa. E acabei parando de comprar a coleção aí pelo número 10.

Mas lá em casa também tinha a Enciclopédia Abril, provavelmente a maior influência na minha vida em termos culturais. No (longo) verbete desta enciclopédia sobre jazz, citavam um tal de Modern Jazz Quartet, que tinha influências de Bach. Opa! Aí sim! Quando o exemplar sobre John Lewis – o líder do grupo – apareceu nas bancas, comprei-o e amei o que ouvi. Os músicos sempre se vestiam a rigor e, além de Lewis e de Milt Jackson, comentado abaixo, o grupo ainda contava com Percy Heath – e depois Connie Kay, a partir de 1955 – no contrabaixo e Kenny Clarke na bateria. E, realmente, o Modern Jazz Quartet tinha nítidas influências do grande compositor Johann Sebastian Bach, e era jazz na sua melhor forma ao mesmo tempo.

Só que tinha uma coisa esquisita: apesar de ser o compositor da maioria das músicas e ser o líder do grupo, o que se ouvia nas faixas, em maior destaque, era o vibrafone (um xilofone maior e mais sofisticado) de Milt Jackson. De fato, no box do exemplar de John Lewis do Gigantes do Jazz, o texto era sobre a força expressiva do vibrafonista.

A verdade é que o segredo do grupo é a tensão entre o piano extremamente discreto de John Lewis e o vibrafone exuberante de Milt Jackson. Esta tensão devia ser grande mesmo: segundo a Wikipédia em português,

“Em 1974, Jackson deixa o grupo, por razões financeiras, considerando que tocavam por pouco dinheiro, e por necessitar de mais liberdade musical. A sua saída leva ao fim do grupo. Em 1981, juntam-se de novo para tocar em festivais e, mais tarde, tocam regularmente durante um período de seis meses por ano. O seu último trabalho foi em 1993.”

De lá para cá – a coleção Gigantes do Jazz começou a ser publicada em 1980, quando eu tinha doze anos – tive fases de ouvir muito jazz, e meus músicos preferidos – além do Modern Jazz Quartet – são John Coltrane, Chet Baker, Billie Holiday, Miles Davis e Charlie Parker.

A série “Quem é vivo sempre aparece” é sobre sons retomados depois de muito tempo com músicos que eu nunca tinha citado no blog, e neste texto homenageio esta grande banda de jazz. E, se você nunca ouviu a banda, recomendo fortemente a faixa “Blues in C minor”, composta por Milt Jackson: quem sabe você curta – eu mesmo acho que é uma das melhores músicas já feitas.

(foto que acompanha o texto obtida na Wikipedia em inglês)

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