janeiro 2021

Livros lidos recentemente
Literatura
Livros lidos recentemente
10 de janeiro de 2021 at 18:39 0
  • “O olho”, de Vladimir Nabokov (Alfaguara, 86 páginas, tradução de José Rubens Siqueira, publicado originalmente em 1965): quarto romance de Nabokov, ainda em sua fase russa, o livro discorre sobre Smurov, jovem russo pobre vivendo no exílio em Berlim e que se suicida logo no início da história. Se no início temos o Nabokov brilhante de sempre, o final do romance deixa um pouco a desejar.
  • “Madame Oráculo”, de Margaret Atwood (Círculo do Livro, 325 páginas, tradução de Domingos Demasi, publicado originalmente em 1976): uma escritora de romances açucarados só pode receber uma herança se emagrecer. O terceiro romance da autora de “O conto da aia” começa brilhantemente, mas, assim como o livro citado acima, se perde um pouco no final.
  • “Amiga de juventude”, de Alice Munro (Biblioteca Azul, 259 páginas, tradução de Elton Mesquita, publicado originalmente em 1990): comentei recentemente o seguinte sobre “A fugitiva”, outro livro de contos da escritora Prêmio Nobel de 2013: “já dá para perceber que a canadense, única pessoa a receber o Nobel de Literatura tendo escrito somente contos na carreira, tem um estilo todo próprio: o negócio então, para mim, é continuar lendo suas ótimas histórias, mesmo que o maravilhamento tenha diminuído muito da leitura de ‘Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento’ para cá”. Pois é, o mesmo vale para este “Amiga de juventude”.
  • “Philosophy, Pussycats, & Porn”, de Stoya (Not a Cult, 148 páginas, publicado originalmente em 2018): nesta coletânea de textos já publicados anteriormente em diversas mídias, a famosa atriz pornô Stoya fala sobre relacionamentos sexuais, apresentações ao vivo, questões relacionadas a trabalhadores do sexo, viagens de trabalho e, como diz o título, filosofia e gatos. Ela escreve muito bem, e o livro é de leitura extremamente agradável.
  • “O segundo tempo”, de Michel Laub (Companhia das Letras, 112 páginas, publicado originalmente em 2006): o narrador desta novela não sabe se vai dar ou não uma notícia ruim a seu irmão mais novo durante um Grenal no estádio Beira Rio, em Porto Alegre. O livro é tão bom quanto “A maçã envenenada”, do mesmo autor, sobre o qual eu tinha comentado aqui.
  • “A gafieira de dois tostões”, de Georges Simenon (Companhia das Letras, 150 páginas, tradução de Eduardo Brandão, publicado originalmente em 1931): antes de ser executado, o condenado Jean Lenoir confessa ao comissário Maigret que foi testemunha de um crime seis anos antes. Conforme o comentário do leitor Heitor Vieira de Resende no site da Amazon, “o pior livro de Simenon é ainda muito bom”. E este certamente não é o pior livro de Simenon!
Leia mais +
“Sanatório”, de Bruno Schulz
Literatura
“Sanatório”, de Bruno Schulz
10 de janeiro de 2021 at 18:38 0
O judeu polonês Bruno Schulz (1892-1942), assassinado durante o Holocausto, tem sua obra completa composta basicamente por dois livros: “Lojas de canela” e este “Sanatório” (Imago Editora, 236 páginas, tradução de Henryk Siewierski, publicado originalmente em 1937), uma sequência interligada de contos que, segundo o autor, é “uma tentativa de recobrar a história de uma certa família, uma certa casa numa cidade provinciana”. Boa parte dos contos fala sobre o pai do narrador: ou sendo um chefe tirânico em sua loja, ou trabalhando num estranho corpo de bombeiros, ou vivendo num sanatório onde o tempo passa mais devagar que o normal, ou ainda quando se transforma numa barata. Em outros contos, o narrador fala de um livro mítico ou descreve estações como a primavera ou o outono. “Sanatório” é bastante imaginativo e poético, mas sua leitura é terrivelmente cansativa em boa parte do tempo. (fonte da imagem: Wikipédia)
Leia mais +
“O sofá”, de Crébillon Fils, e “Les bijoux indiscrets”, de Denis Diderot
Filosofia, Literatura
“O sofá”, de Crébillon Fils, e “Les bijoux indiscrets”, de Denis Diderot
5 de janeiro de 2021 at 15:11 0
O sultão muçulmano Shah-Riar não era uma pessoa de muitas luzes, e fica impressionando quando seu Vizir, Amanzei, que era hindu, lhe diz que, devido ao seu mau comportamento, tinha sido condenado a ter sua alma vagando por diversos sofás. A descrição das aventuras de Amanzei neste estranho estado é o tema de “O sofá” (L&PM, 255 páginas, tradução de Carlota Gomes, publicado originalmente em 1742), do escritor moralista francês Crébillon Fils (1707-1777). Com a alma presa num sofá, Amanzei acaba sendo testemunha dos casos de diversas mulheres que normalmente não conseguem resistir às investidas sexuais de homens que tentam conquistá-las. Se a premissa parece interessante, as discussões morais entre as mulheres e seus conquistadores são terrivelmente chatas e confusas, epítetos que podem servir também ao livro como um todo. O filósofo Denis Diderot (1713-1784) era ainda relativamente jovem quando, a partir de uma aposta, tentou demonstrar a uma amante – a quem ajudou com a renda devida ao livro – que seria fácil fazer um livro como “O sofá”, colocando ainda nele temas mais sérios, de caráter filosófico.  O resultado desta aposta é o romance “Les bijoux indiscrets”, lançado originalmente em 1748 (eu li na versão em francês obtida na Amazon, e há uma versão em português chamada “As jóias indiscretas”, lançada pela Global em 1986 e traduzida por Eduardo Brandão). No caso de “Os bijoux indiscrets”, o sultão congolês Mangogul pede ao gênio Cucufa, que já tinha ajudado seus antepassados, que fizesse algo que o divertisse. Ele recebe dele então um anel que, apontado para uma mulher, fizesse com que seu sexo (a “jóia” do título) contasse o que a sua dona andava aprontando. Mais tarde Diderot acabou se arrependendo de ter escrito este romance libertino que, mesmo assim, consta da maioria das edições de suas melhores obras compiladas. Realmente, o livro é divertido e tem discussões filosóficas fora da licenciosidade – e é muito melhor que “O sofá”.
Leia mais +
“A leitora do Alcorão”, de G. Willow Wilson
Literatura
“A leitora do Alcorão”, de G. Willow Wilson
1 de janeiro de 2021 at 15:44 0
G. Willow Wilson é uma autora de HQs, criadora da super-heroína Kamala Khan da Marvel. A americana também é ensaísta e jornalista, e seu livro autobiográfico “A leitora do Alcorão” (Rocco, 318 páginas, tradução de Antônio E. de Moura Filho, lançado originalmente em 2010) é fascinante. Estudante de história e de língua e literatura árabes na Universidade de Boston, inicialmente ela tinha a visão blasée que boa parte da intelectualidade tem em relação à experiência religiosa. Com o tempo ela passou a sentir como que um “chamado divino”, e inicialmente pensou em se converter ao judaísmo, porque admirava “a ideia do Deus indivisível que é um e todo ao mesmo tempo”. Mais tarde, já vivendo no Cairo, aonde fora trabalhar como professora de inglês,  acabou se convertendo (ou se “revertendo”, pela terminologia muçulmana) ao Islã, religião pela qual ela já se sentia atraída um bom tempo antes. Também no Cairo ela se casa com Omar, um professor de física que era seu “guia cultural” local. Tudo é fascinante no livro de G. Willow Wilson: a descrição dos contrastes entre as culturas e hábitos ocidentais e egípcios, o relato do aprofundamento de sua relação com Islã - e com Deus, por consequência -, a coragem da autora em enfrentar todos os problemas causados por suas decisões. Segundo a Wikipédia, ela continua casada com o Omar – hoje um advogado especializado em refugiados – e, pela foto que acompanha este texto, obtida da mesma fonte, ela parece muito feliz como muçulmana, não acham?
Leia mais +