Acho que uma boa definição visual da misteriosa banda americana nothing,nowhere é o clipe de “deadbeat valentine”. No início o vocalista canta e toca guitarra numa peça que parece ser um porão de uma casa: ele não olha para a câmera, que treme e fica boa parte do tempo atrás de uns pilares. Quando ele finalmente olha de frente, a luz é estranha, seu rosto fica assustadoramente branco e seus olhos parecem dois riscos negros. Tudo isto permeado com imagens e legendas do estilo da Fox News. O clipe dá uma sensação permanente de deslocamento, de algo estranho e fora de lugar. Nada, lugar nenhum.
Os demais clipes do nothing,nowhere são igualmente estranhos: “i’ve been doing well” mostra um sujeito – acho que o próprio vocalista – em um escritório. Ele envelhece algumas décadas em poucos segundos, e acaba saindo por aí sem rumo. “don’t mind me” e “i’m sorry, i’m trying” são vídeos amadores com uns amigos brincando e passeando. “poor posture” é no mesmo estilo, só que os amigos começam, lá pelas tantas, a tocar instrumentos num estúdio: mas o que eles tocam não tem nada a ver com o som do clipe.
A música da banda dá esta mesma sensação. Há momentos de grande dramaticidade que ao mesmo tempo não parecem tão dramáticos assim. O vocal é “normal” em uma parte do tempo, e em outra o vocalista parece tentar vocais agudos demais. Também há trechos falados, e até uns raps esquisitos aqui e ali. Há melodias belíssimas, mas parece que a banda não faz muita questão de soar bonito.
O disco (melhor seria chamar mixtape, né) chamado “the nothing,nowhere. lp”, que eu relaciono aqui como meu sétimo disco preferido, tem dez faixas belíssimas – mas não tem “deadbeat valentine”, citado lá em cima. Sem problema. Tem “bedhead”, afinal, e não existem muitas músicas mais bonitas que “bedhead” no mundo.
(Dos dez discos preferidos da minha relação, três – este incluído – foram recomendados pelo meu amigo Leonardo Gama; e esta história está começando a ser contada.)
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Amo N,N. Uma banda que me inspirou, fez eu ver a vida de um jeito diferente, a qual eu vivia e nunca percebia as coisas mais importantes, que estavam ali, do meu lado, todos os momentos.
obrigado caio!
no caso nothing,nowhere não é uma banda, é apenas um cara. chamado Joe Mulherin
é verdade sim, Paulo, mas quando escrevi esse texto não havia praticamente nenhuma informação sobre o nothing,nowhere. Nosso amigo gosta de se esconder, como sabemos.