fevereiro 2022

“As rãs”, de Mo Yan
Literatura
“As rãs”, de Mo Yan
20 de fevereiro de 2022 at 20:22 0
Uma região do globo em que as pessoas tinham nomes como Chen Orelha, Chen Nariz e Wang Vesícula, numa época em que as mulheres não podiam ter mais de um filho e se desesperavam por isso. Um tempo em que a fome era tão grande que as crianças chegavam a comer carvão. Uma aldeia do interior em que as fofocas grassavam. Estes são os pontos que, para um leitor do Ocidente nos tempos atuais, mais chamam a atenção em inicialmente em “As rãs”, de Mo Yan (Companhia das Letras, 496 páginas, tradução de Amilton Reis, publicado originalmente em 2009), escritor chinês vencedor do Prêmio Nobel de 2012 por, segundo a Academia Sueca, escreve de maneira “que com realismo alucinatório funde contos populares, história e contemporaneidade". A história se passa numa região remota da China e se desenrola por algumas décadas, desde a fome no período de Mao Tsé-Tung até os tempos modernos - passando, claro, pelo período de controle rígido da natalidade iniciado na década dos anos 1970, que fazia algumas mulheres se desesperarem. A história principal é a da tia do narrador, Wan Perna, apelidado de Corre Corre por ser muito veloz em provas de atletismo. Ela é a melhor parteira da região, e é empregada pelo governo para controlar - com métodos às vezes violentos - a natalidade local. A tia é uma personalidade tão impressionante que um japonês acaba entrando em contato com Corre Corre para que este faça uma peça de teatro sobre ela. “As rãs” é um documento notável sobre uma época, bem-humorado e escrito com brilho e intensidade - parece que temos facilidade de “enxergar” tudo o que Mo Yan descreve. Um ótimo livro, que me lembrou as grandes histórias de Charles Dickens, famoso por criar personagens “maiores que a vida”: a tia do narrador de "As rãs", neste caso.
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“Pós-F” (Guairinha, Curitiba, 6/2/2022)
Shows e Espetáculos
“Pós-F” (Guairinha, Curitiba, 6/2/2022)
6 de fevereiro de 2022 at 22:52 0
Fernanda Young (1970-2019) foi uma escritora e roteirista conhecida, entre outros trabalhos, pelos roteiros dos excelentes seriados “Os Aspones” (2004) e “Os Normais” (2001-2003), escritos em conjunto com seu marido Alexandre Machado. Escreveu diversos romances, e minha crítica sobre “Aritmética”, de 2004, está aqui. “Pós-F”, publicado em 2018, foi a primeira obra de não-ficção de Fernanda Young - e o “F” do título se refere ao feminismo. A atriz Maria Ribeiro gostou tanto do livro que resolveu encená-lo: pediu ajuda para a escritora, que lhe disse que seria bom, porque ela (Maria Ribeiro) “também é maluca”. É isso que a própria atriz comenta na apresentação de “Pós-F” agora há pouco, numa excelente apresentação realizada no Guairinha, aqui em Curitiba. O texto de Fernanda Young fala de sua vida, sexualidade, morte, amor e, claro, feminismo, de maneira direta e clara. A peça é de curta duração, e não perde o interesse em nenhum instante – o silêncio absoluto da plateia durante a apresentação mostrou como todos pareciam extremamente atentos. O maior destaque é interpretação de Maria Ribeiro: a sua atuação no monólogo é impressionante, e o tom utilizado é tranquilo e discreto - num texto que poderia, com outra atriz, descambar para um discurso agressivo e gritado. Nada disso. Maria Ribeiro achou o tom certo e nós, da plateia, só tivemos a agradecer por isso. [a foto que acompanha o texto foi obtida no Instagram da peça]
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