“As rãs”, de Mo Yan
Literatura

“As rãs”, de Mo Yan

20 de fevereiro de 2022 0

Uma região do globo em que as pessoas tinham nomes como Chen Orelha, Chen Nariz e Wang Vesícula, numa época em que as mulheres não podiam ter mais de um filho e se desesperavam por isso. Um tempo em que a fome era tão grande que as crianças chegavam a comer carvão. Uma aldeia do interior em que as fofocas grassavam.

Estes são os pontos que, para um leitor do Ocidente nos tempos atuais, mais chamam a atenção em inicialmente em “As rãs”, de Mo Yan (Companhia das Letras, 496 páginas, tradução de Amilton Reis, publicado originalmente em 2009), escritor chinês vencedor do Prêmio Nobel de 2012 por, segundo a Academia Sueca, escreve de maneira “que com realismo alucinatório funde contos populares, história e contemporaneidade”.

A história se passa numa região remota da China e se desenrola por algumas décadas, desde a fome no período de Mao Tsé-Tung até os tempos modernos – passando, claro, pelo período de controle rígido da natalidade iniciado na década dos anos 1970, que fazia algumas mulheres se desesperarem.

A história principal é a da tia do narrador, Wan Perna, apelidado de Corre Corre por ser muito veloz em provas de atletismo. Ela é a melhor parteira da região, e é empregada pelo governo para controlar – com métodos às vezes violentos – a natalidade local. A tia é uma personalidade tão impressionante que um japonês acaba entrando em contato com Corre Corre para que este faça uma peça de teatro sobre ela.

“As rãs” é um documento notável sobre uma época, bem-humorado e escrito com brilho e intensidade – parece que temos facilidade de “enxergar” tudo o que Mo Yan descreve. Um ótimo livro, que me lembrou as grandes histórias de Charles Dickens, famoso por criar personagens “maiores que a vida”: a tia do narrador de “As rãs”, neste caso.

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