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Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet
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Quem é vivo sempre aparece: 3.Modern Jazz Quartet
1 de julho de 2024 at 15:38 0
Lá em casa só tínhamos discos de MPB e alguma pouca coisa de música clássica - cuja coleção eu aumentei desde cedo, com minha paixão prematura por Bach. Havia bastante preconceito lá em casa - coisa da época - contra música americana, e eu mesmo fiquei chocado comigo mesmo quando percebi um interesse incomum numa nova série de fascículos-com-LP chamada "Gigantes do Jazz", da Editora Abril, com Louis Armostrong no primeiro item da coleção. A série, pelo que dava para perceber pelo nome dos escritores dos textos, era francesa - é fato sabido que veio da França a seriedade com que o jazz é tratado hoje. Os textos do fascículos eram autorais, "sem papas na língua". Por exemplo, nos exemplares sempre havia um box que tratava de um assunto correlato: num, uma entrevista em que o jornalista detonava o Ray Charles, que ficou furioso com ele; em outro, o jornalista defende por que Oscar Peterson não era lá essas coisas - e, até onde eu sei, não teve nenhum fascículo de Gigantes do Jazz com este pianista. Fui comprando os exemplares e logo percebi que não gostava tanto assim de jazz: achava interessante, mas de maneira geral só gostava de uma ou outra faixa. E acabei parando de comprar a coleção aí pelo número 10. Mas lá em casa também tinha a Enciclopédia Abril, provavelmente a maior influência na minha vida em termos culturais. No (longo) verbete desta enciclopédia sobre jazz, citavam um tal de Modern Jazz Quartet, que tinha influências de Bach. Opa! Aí sim! Quando o exemplar sobre John Lewis - o líder do grupo - apareceu nas bancas, comprei-o e amei o que ouvi. Os músicos sempre se vestiam a rigor e, além de Lewis e de Milt Jackson, comentado abaixo, o grupo ainda contava com Percy Heath - e depois Connie Kay, a partir de 1955 - no contrabaixo e Kenny Clarke na bateria. E, realmente, o Modern Jazz Quartet tinha nítidas influências do grande compositor Johann Sebastian Bach, e era jazz na sua melhor forma ao mesmo tempo. Só que tinha uma coisa esquisita: apesar de ser o compositor da maioria das músicas e ser o líder do grupo, o que se ouvia nas faixas, em maior destaque, era o vibrafone (um xilofone maior e mais sofisticado) de Milt Jackson. De fato, no box do exemplar de John Lewis do Gigantes do Jazz, o texto era sobre a força expressiva do vibrafonista. A verdade é que o segredo do grupo é a tensão entre o piano extremamente discreto de John Lewis e o vibrafone exuberante de Milt Jackson. Esta tensão devia ser grande mesmo: segundo a Wikipédia em português,
"Em 1974, Jackson deixa o grupo, por razões financeiras, considerando que tocavam por pouco dinheiro, e por necessitar de mais liberdade musical. A sua saída leva ao fim do grupo. Em 1981, juntam-se de novo para tocar em festivais e, mais tarde, tocam regularmente durante um período de seis meses por ano. O seu último trabalho foi em 1993."
De lá para cá - a coleção Gigantes do Jazz começou a ser publicada em 1980, quando eu tinha doze anos - tive fases de ouvir muito jazz, e meus músicos preferidos - além do Modern Jazz Quartet - são John Coltrane, Chet Baker, Billie Holiday, Miles Davis e Charlie Parker. A série "Quem é vivo sempre aparece" é sobre sons retomados depois de muito tempo com músicos que eu nunca tinha citado no blog, e neste texto homenageio esta grande banda de jazz. E, se você nunca ouviu a banda, recomendo fortemente a faixa "Blues in C minor", composta por Milt Jackson: quem sabe você curta - eu mesmo acho que é uma das melhores músicas já feitas. (foto que acompanha o texto obtida na Wikipedia em inglês)
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The Brian Jonestown Massacre
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The Brian Jonestown Massacre
26 de maio de 2024 at 14:12 0
Acompanho a carreira do jornalista André Barcinski há muito tempo. Comprei a primeira edição do seu clássico livro-reportagem "Barulho", lia sempre seus textos na Bizz, já li mais de um texto seu na Folha de São Paulo, costumo ouvir os podcasts em que ele participa, o B3+1 (com Benjamin Back, João Marcelo Bôscoli e Ice Blue) e o ABFP (com André Forastieri e Paulo César Martin), pretendo comprar a sua biografia sobre Nelson Ned. Em termos musicais, não sei se nossos gostos se afinam tanto. Seus textos me apresentaram o Black Sabbath com Ozzy Osbourne e ele sempre fala bem dos Ramones, duas bandas que gosto muito. Mas, em geral, ou pelo fato de eu ouvir mais outros gêneros que rock ou por simples questão de gosto, raramente me impressiono com algum som que ele indica. De todo modo, dia desses, no ABFP, ele citou as duas bandas que mais ouviu na vida: os Ramones, supracitados, e The Brian Jonestown Massacre, sobre a qual ele sempre fala. Desta segunda eu já tinha ouvido algumas músicas que ele colocou para tocar no podcast, tinha gostado, mas não a ponto de ouvir de novo. Quando ele disse no episódio que era uma das duas bandas preferidas da vida dele, pensei que não custava dar uma chance. Como sempre faço quando vou conhecer uma banda nova, coloquei a playlist do Spotify - neste caso, "The Brian Jonestown Massacre" - para tocar. Eu não estava preparado. Que coisa linda. As músicas são todas meio na mesma levada, não são baladas, mas também não são muito pesadas. Algumas me lembraram muito Velvet Underground, outras Echo and The Bunnymen, outras, sei lá, alguma coisa psicodélica. Não sei bem. Não sou bom para descrever músicas. Mas o fato é que viciei de maneira irreversível - isto é, até eu me encher o saco, parar de ouvir, e voltar a escutar desesperadamente anos depois, como sempre faço - e estou escrevendo este texto para agradecer ao André Barcinski pela dica inestimável. (foto que acompanha o texto obtida na Wikipédia)
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Quem é vivo sempre aparece: 2.“In Washington D.C. 1956 Volume Four”, de Lester Young
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Quem é vivo sempre aparece: 2.“In Washington D.C. 1956 Volume Four”, de Lester Young
17 de março de 2024 at 17:44 0
Grande parte das pessoas, depois de uma certa idade, continua a ouvir apenas as músicas e/ou músicos que gostava na juventude. Já ouvi um podcaster famoso contando que continuava ouvindo sons do passado porque eles lhe lembravam de sua juventude - e acho que é assim com muita gente. Comigo, ao contrário, praticamente nunca é assim. Se volto a ouvir algo que eu gostava quando era mais jovem, julgo este som como se eu o estivesse ouvindo pela primeira vez: se continuo achando bom, ótimo; se mudei de ideia e não acho mais, lamento. Como raras exceções a este comportamento não-saudosista, lembro de um momento, alguns poucos anos atrás, em que ouvi “Standing on a Beach”, da banda inglesa The Cure, e ter me sentido de novo no Cursinho, na Rua Vicente Machado, aqui em Curitiba, onde estudei em 1986. O texto de hoje desta série “Quem é vivo sempre aparece”, onde comento músicas que não ouvia há muito tempo e que voltei a escutar e gostar, é sobre o disco “In Washington D.C. 1956 Volume Four”, do saxofonista americano Lester Young (1909-1959), que tenho ouvido bastante nos últimos tempos - mas não sei se é por causa de saudosismo ou não. Por muito tempo tentei gostar de jazz, mas isto é assunto para o episódio desta série que tratará de Modern Jazz Quartet. De todo modo, um dos discos que comprei no estilo, na adolescência, foi este “In Washington D.C. 1956 Volume Four”, e nunca vou ter ideia de quantas dezenas – ou centenas – de vezes ouvi o LP. Eu só sabia que, se colocasse o disco na vitrola, eu não pensaria em trocá-lo tão cedo. E lamentava que só tinha conseguido o Vol. 4 da série. Já casado comprei alguns CDs de Lester Young, mas eram sempre versões de “melhores músicas da carreira” que tinham coisas de orquestra, coisas com vocal, e quase nada que se aproximasse da sensação de prazer que “In Washington D.C. 1956 Volume Four” me dava. Até que, com o advento do Spotify, resolvi um belo dia ouvir os três primeiros volumes da série do grande saxofonista, precursor do bebop, tocando na capital dos Estados Unidos (eu não tinha ideia de quantos discos havia na série, mas eram só quatro mesmo). E aí veio a decepção. Os volumes 1 a 3 estão, obviamente, longe de ser ruins. Mas não me passavam a emoção que “In Washington D.C. 1956 Volume Four” me passa, até hoje. Saudosismo? Quem sabe.
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Quem é vivo sempre aparece: 1. Hüsker Dü
Música
Quem é vivo sempre aparece: 1. Hüsker Dü
3 de março de 2024 at 15:35 0
Vendo aqui a relação das coisas que tenho ouvido ultimamente, além dos preferidos de sempre da casa (a pianista Hélène Grimaud, Bones, Elvis Presley, Arctic Monkeys, Bach), percebi que boa parte são músicas que eu já tinha deixado de lado há anos, às vezes décadas, e sobre as quais nunca comentei aqui. Pensei então em criar uma nova série no site sobre estes sons retomados depois de muito tempo, nos moldes daquela sobre os livros que minha mãe amava. Só que o título da série não vinha nunca. “Das profundezas da memória”? “Inéditos no site”? “Deixados de lado, mas nunca esquecidos”? Todos eles me pareceram meio pedantes, meio autoindulgentes. “Quem é vivo sempre aparece”, por outro lado, apesar de ser falso em muitos casos (Lester Young, por exemplo, o próximo da lista, já é falecido), é engraçadinho, com o tipo de humor infame que me agrada sobremaneira. O primeiro da lista desta nova série, a banda americana Hüsker Dü, é um dos mais difíceis de comentar, por um motivo que logo conto. A banda existiu entre 1979 e 1987 e era do estado americano do Minnesota. Segundo o AllMusic, o grupo foi um “trio punk influente de Minneapolis que conciliava habilmente a introspecção barulhenta de Bob Mold com o romantismo pop mordaz de Grant Hart”. Como muita coisa nos anos 1980, comprei os dois álbuns da banda lançados por aqui (“Candy Apple Grey” e “Warehouse: Songs and Stories”, duplo) por influência da revista Bizz, e várias coisas me chamaram a atenção neles. Praticamente todas as músicas eram assinadas e interpretadas ou pelo baterista Grant Hart (falecido em 2017) ou pelo guitarrista Bob Mould - já o baixista Greg Norton, que postava um bigode completamente fora de moda para a época, nem compunha nem cantava. As capas eram lindas e coloridas (é só ver a imagem que acompanha este texto, de “Warehouse: Songs and Stories”, obtida no site da Amazon), e mesmo a foto da banda no encarte, com colunas e flores, era bem diferente do visual do rock da época. Mas o que sempre mais me marcou na banda, e que torna este texto meio difícil de escrever, era sua irregularidade - pelo menos para meus ouvidos: ou as músicas eram absolutamente irritantes, gritadas e apenas barulhentas, ou conseguiam fazer uma síntese maravilhosa entre belíssimas melodias e um punk/hardcore pesado. Ouvindo a banda hoje, infelizmente as músicas irritantes continuam irritantes. A categoria de músicas perfeitas, por outro lado - da qual fazem parte, por exemplo, “Eiffel Tower High” ou “Ice Cold Ice” - me emocionava nos anos 1980, e me emociona igualmente em 2024.  
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Visitas ao passado
História, Música
Visitas ao passado
29 de outubro de 2023 at 14:37 0
Acho que a maioria das pessoas que gosta de História já se imaginou voltando no tempo e vivendo, por pouco tempo que seja, na sua época preferida do passado. Sim, já imaginei como seria visitar Roma no tempo de Nero, a Itália no ápice do período etrusco (século VI a.C.), o Peru no auge do império pré-Inca Wari (século VIII d.C.), ou o Brasil no tempo do Segundo Império. Seria fascinante visitar Pikillacta, monumental cidade wari que nem se sabe direito para que servia. Ver as construções etruscas no seu auge, que foram em grande parte destruídas porque eram construídas em madeira – o que restou delas foram os túmulos, em parte subterrâneos e em concreto. Quem já viu fotos de Pompeia tem ideia de como deviam ser monumentais as construções romanas do período clássico. O que restou do Segundo Império, infelizmente, está mal preservado em grande parte. Mas é claro que estas épocas podem ser perigosas: não se sabe direito como os wari viviam, os etruscos pareciam gostar de se divertir, mas vai saber, no Segundo Império a escravidão comia solta e os tempos de Nero eram tempos de Nero, não precisa ir muito longe. Acho que o período que mais me daria grande prazer na visita, por um motivo específico, seria o início do século XX no sul dos Estados Unidos. Sim, eu gostaria de ver os grandes bluesmen daquela época ao vivo. Já comentei aqui sobre a minha fascinação com o country blues, ou blues rural. As gravações daquela época normalmente têm uma péssima qualidade para os padrões de hoje, e os grandes músicos têm pouquíssimas fotos, sempre de baixa qualidade – estávamos no início do século XX, não custa reforçar. Então eu fico imaginando como seria ver Robert Johnson tocando ao vivo. Como ele fazia aquelas coisas inacreditáveis com o violão? Será que Blind Willie Johnson era tão arrogante como suas gravações maravilhosas deixam transparecer? Será que Blind Boy Fuller era mesmo muito debochado? E Blind Willie Johnson era tão religioso e sofrido quando parecia? E como seria ver a grande Bessie Smith num teatro de luxo em meados dos anos 1920? Como era o jeitão de Blind Blake? Nunca vou saber, mas não custa imaginar. (foto que acompanha o texto: Bessie Smith, obtida na Wikipédia)
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Cantatas 39, 73, 93, 105, 107 & 131 de bach
Música
Cantatas 39, 73, 93, 105, 107 & 131 de bach
20 de agosto de 2023 at 18:01 0
Você lembra das comunidades do Orkut? Eu acho que só criei uma, sobre Cantatas de Bach. A frase de apresentação era meio pomposa, no esquema de “o melhor acervo da história da música universal”, ou coisa que o valha. A comunidade nunca fez muito sucesso, mas quando do fim daquela rede social ela já tinha de uns trinta a quarenta membros. Muito antes da internet foi que comprei o primeiro LP com cantatas de Johann Sebastian Bach (1685-1750), ainda no início da adolescência. Ele era um assombro, com “Meine Seufzer, meine Tränen” (BWV 13) de um lado e “Wo gehest du hin?” (BWV 166) (muitos anos depois, já casado, comprei uma caixa com cinco CDs com “as melhores cantatas de Bach” e dentro dela estas duas cantatas estavam num disco chamado “cantatas para tenor”). Aquele LP não me parecia deste planeta, e as árias principais das duas cantatas eram provavelmente as coisas mais bonitas que eu já tinha ouvido até então. Depois disso, durante muitos anos basicamente comprei todos os LPs com cantatas de Bach que passaram na minha frente; mas quem viveu os anos 80 sabe como era difícil conseguir “certos” discos - e os de cantatas eram bem difíceis de achar, de modo que nem eram tantos discos assim. E Bach compôs mais de 200 cantatas, o que me dava, o que é compreensível, a frustração de saber que tinha tanta música maravilhosa por aí que eu não tinha acesso. Bach foi, durante grande parte da minha vida, meu compositor preferido (hoje eu não sei quem é... Brahms, quem sabe?), e eu amava tudo o que eu ouvia dele, mas as cantatas conseguiam ser algo melhor ainda. Anos mais tarde li um livro de Franz Rueb chamado “48 variações sobre Bach” (Companhia das Letras, traduzido por João Azenha Jr., 376 páginas) que, entre muitas outras informações, também defende a ideia de que a grande arte composta por Bach estava mesmo era nas cantatas. Aí é que a porca torce o rabo. Se o melhor de Bach está nas cantatas, o pior também. Certos corais e árias são muito alegres, até com uns tambores de fundo. Chato demais. Mozart era brilhante em músicas alegres, Bach bem menos. Outro problema das cantatas é que as partes lindas são intensas demais, e nem sempre estou com espírito de me aprofundar tanto em termos musicais. E assim fui ouvindo muito menos cantatas do que gostaria: e se uma, encontrada por acaso no Spotify, tivesse mais partes chatas do que lindas? Valeria a pena a procura? Boa parte do tempo, minha preguiça de procurar alguma ária maravilhosa ganhava esta “luta” interna, e eu deixava tudo como estava. Enfim, uns meses atrás achei um lançamento no Spotify com as cantatas 39, 73, 93, 105, 107 & 131 (link) – originalmente é um CD duplo da Virgin Veritas – com o Collegium Vocale, Ghent regido por Philippe Herreweghe, e neste não tem uma só faixa que não seja espetacular. Quando o escuto, parece que estou novamente ouvindo o primeiro disco com cantatas de Bach que ouvi na vida.
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Duetos com cantores e cantoras
Música
Duetos com cantores e cantoras
13 de agosto de 2023 at 20:01 0
Às vezes existe um charme especial num dueto entre uma cantora e um cantor. Estava pensando em alguns casos aqui, e cito os cinco que eu mais gostei até hoje – e o bom é que todos têm videoclipe, cujos links para o YouTube são apresentados no texto abaixo. Na verdade, só pensei neste texto por causa de dois vídeos maravilhosos do cantor australiano Nick Cave: “Henry Lee”, com a britânica P.J Harvey, e “Where The Wild Roses Grow”, com a também australiana Kylie Minogue. A primeira é famosa no meio da música alternativa (ou indie), e a segunda faz um grande sucesso no meio pop (é a maior vendedora de discos na história da Austrália) – a ponto de terem estranhado como o também alternativo Nick Cave a tenha escolhido para um dueto. Nos clipes, enquanto PJ Harvey troca carinhos com o cantor – os dois vestidos com roupas masculinas a rigor -, Kylie Minogue faz o papel, em boa parte do tempo, de um cadáver na beira do rio. De todo modo, as duas canções são baladas lentas e meio parecidas, com lindas melodias. Quase não consigo assistir a um destes dois vídeos sem assistir ao outro em seguida. Neste Dia dos Pais, cito um dueto que me foi apresentado por minha filha Teresa: “The Water”, com os britânicos Johnny Flynn e Laura Marling. Nenhum dos dois cantores faz grande sucesso por aqui, e Johnny atualmente se concentra mais na carreira de ator. É engraçado que esta linda balada, como “Where The Wild Roses Grow”, citada acima, também fala de um rio. No clipe os dois cantores fazem um duo acústico, acompanhado apenas pelo violão do cantor, num belo e arborizado jardim. Existe uma versão desta música no Spotify com mais instrumentos no arranjo, mas, vai por mim, neste caso a perfeição está na simplicidade. Comentei aqui no site que minha mãe era alma gêmea da Rita Lee, uma cantora que nunca me agradou muito, mas que, para mim, fez o melhor dueto da música brasileira: “Jou Jou Balangandans”, com o meu cantor brasileiro preferido, João Gilberto. O clipe, gravado num teatro num especial da Globo de 1980, é lindo não só pela delicadeza da interpretação dos dois, mas também pelo contraste entre uma Rita Lee feliz e comportada e um João Gilberto que está com a sua expressão de louquinho de sempre. Finalmente, “999”, cantada em espanhol por Selena Gomez e o colombiano Camilo tem um refrão grudento, um ritmo latino levemente dançante, uma letra delicada e um clipe com cores exageradas e artificiais. Eu não podia falar em duetos com cantores e cantoras juntos sem citar Selena Gomez, né? (imagem que acompanha o texto: Nick Cave e PJ Harvey no clipe de “Henry Lee”)
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O Rei do Rock
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O Rei do Rock
28 de junho de 2023 at 19:26 0
Lembro como se fosse hoje. Meados dos anos 1990, e o David Bowie iria fazer um show em Curitiba em sua fase eletrônica – eu acabei não indo, não lembro bem por quê. No dia do show, depois do almoço, no escritório da empresa em que eu trabalhava, um amigo me contou que viu a entrevista do Bowie num canal local de televisão. Segundo ele, quando perguntado qual seria o repertório do show, o grande cantor inglês respondeu: “só Elvis”. Lembro da expressão divertida do meu amigo, e acho engraçada esta história até hoje – eu nunca soube da resposta do Bowie por outra fonte, mas não tenho nenhum motivo para duvidar da informação que me foi passada na época. Naquele tempo eu era casado com a Valéria desde poucos anos antes, e foi ela que começou a me dizer que Elvis era bom. Ela me dizia, inclusive, que tinha visto em algum lugar que o Morrissey passava os dias, naqueles tempos longínquos, a ouvir “só Elvis”. Também não soube dessa história por outra fonte, mas, do mesmo modo que no caso do meu amigo supracitado, não tenho nenhum motivo para duvidar da informação passada pela Valéria. Enfim, na época acabei comprando alguns CDs para dar uma satisfação à minha esposa, e acabei gostando mais de Elvis do que tinha imaginado: ele, que tinha uma voz grave demais para o meu gosto, e que eu sempre tinha achado meio brega, foi conquistando meus ouvidos aos poucos. Mas acabei me cansando do cantor em poucos meses. Muitos anos depois, já com a internet, comecei a ouvir de novo Elvis, e acabei até mesmo colocando uma foto dele no meu álbum “músicas” do Facebook.  Mas logo desisti de novo do cantor. Enfim, uns meses atrás recomecei com ele, e dessa vez de maneira avassaladora - a ponto de Teresa, André e Valéria me pedirem para parar de ouvir Elvis no carro. Não importa: quando eles saem, lá vou eu de novo com a minha playlist “This is Elvis” do Spotify. Assim como o jornalista Mauro Cezar Pereira falou sobre o Pelé quando da morte do jogador, que o ex-camisa dez da seleção podia não ser o melhor em cada fundamento do futebol – cabeceio, batidas de falta, drible, etc –, mas certamente era um dos três melhores em cada um deles, Elvis Presley é bom em tudo o que faz: não gosto muito, em geral, do rock and roll dos anos 1950, mas faço uma exceção para ele; quando cantava músicas religiosas, ele chegava quase no nível de uma Mahalia Jackson; quando interpretava grandes sucessos de outros artistas, ele costumava fazer picadinho das versões originais; até nas poucas vezes em que cantava blues ele não fazia feio perto de gente como Muddy Waters ou B. B. King. Um youtuber famoso dia desses largou um vídeo com o chamativo (e caça-clique) título “Elvis Presley não foi rei de nada”, e foi justamente execrado pelos fãs do Rei do Rock. Tome tenência, rapaz.
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