outubro 2020

Música na pandemia
Música
Música na pandemia
31 de outubro de 2020 at 14:27 0
O marco do final da “vida normal”, para mim, foi o show da banda de metal belga Amenra, no Fabrique Club em 1 de março de 2020 - sobre o qual já comentei aqui, num texto que acabou aparecendo também no meu livro mais recente, “Rua Paraíba”. Foi um show espetacular, o melhor a que já assisti na minha vida e, estranhamente, parece mesmo realmente ter sido o final de uma era. Mas a vida continuou mesmo com a pandemia e, em termos de música, não tenho muito do que me queixar de 2020. Por exemplo, alguns dos meus artistas preferidos lançaram discos maravilhosos, como Selena Gomez com “Rare” (lançado antes da pandemia), The Weeknd com “After Hours”, Morrissey com “I Am Not a Dog on a Chain”, 21 Savage com “Savage Mode II”, Ariana Grande com “positions”. Além disso, os dois clipes que eu já considero os melhores que vi até hoje foram lançados depois do início da pandemia: “Dance again”, com a Selena Gomez dançando sozinha, e “POPSTAR”, de DJ Khalled e Drake, um vídeo divertidíssimo em que Justin Bieber canta no lugar do Drake. Também depois da pandemia foram lançados dois podcasts sobre música viciantes: Álvaro & Barcinski & Forasta & Paulão, com os jornalistas Álvaro Pereira Jr., André Barcinski, André Forastieri e Paulo César Martin, sendo que os três primeiros eu acompanho desde o tempo da revista Bizz. Segundo a descrição do próprio podcast, este apresenta “dicas e opiniões musicais malfeitas e desatualizadas para sua quarentena” – já dá para ter uma ideia do quanto ele é divertido. Outro podcast nos mesmos moldes é o B3, também com o André Barcinski, mais Benjamin Back e João Marcello Bôscoli. Outra coisa recente e marcante em termos de música  para mim foi a descoberta das coleções completas de música de câmara de Brahms e Mozart no YouTube Music (lançadas, é preciso que se diga, antes de 2020). Nem me sinto muito à vontade para comentar tanta maravilha junta. E não posso deixar de citar o cd Brahms: Piano Trio Nos.1 Op.8 & 2 Op.87, com Maria João Pires ao piano. Mas provavelmente o disco que vai ser o primeiro a vir à minha cabeça quando, daqui a um bom tempo, eu me lembrar da pandemia, vai ser o disco Brahms: Lieder, com a mezzo-soprano sueca Anne Sofie von Otter e o pianista Bengt Forsberg (também lançado antes de 2020). Infelizmente o YouTube Music não registra, até onde eu sei, quantas vezes um disco é escutado. Não importa, imagino que pus para tocar essa maravilha – que começa com uns lieder mais “alegres” e vai aumentando a carga de dramaticidade até lugares meio impossíveis de imaginar – no mínimo mais de cem vezes durante a pandemia. crédito da foto: AbeBooks
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“O mapa e o território”, de Michel Houellebecq
Literatura
“O mapa e o território”, de Michel Houellebecq
26 de outubro de 2020 at 13:17 0
Jed Martin é um artista plástico de sucesso, tendo feito uma exposição com fotos de ferramentas e outra com montagens de fotos de mapas Michelin, e é o personagem principal de “O mapa e o território”, do escritor francês Michel Houellebecq (Editora Record, tradução de André Telles, 400 páginas, publicado originalmente em 2010 e vencedor do Prêmio Goncourt). Quando vai fazer sua primeira exposição de pinturas – cujo principal tema é o trabalho, e na qual o maior destaque é um quadro chamado “Bill Gates e Steve Jobs discutem o futuro da informática” - ele resolve chamar o escritor Michel Houellebecq para fazer o texto do catálogo. Sim, Houellebecq acaba aparecendo no próprio livro como personagem e não de maneira elogiosa – solitário, amargurado, sem higiene, alcoólatra. Jed Martin é solitário, compenetrado e tem alguns relacionamentos amorosos - mas nada muito profundo. Grande parte de “O mapa e o território” é dedicado à descrição de sua arte, e é pena que o assunto “artes plásticas” não chegue a me interessar muito. Enfim, pela temática, pelo personagem principal e pela história este livro teria tudo para me desagradar, mas não foi o que aconteceu. Afinal de contas, que escritor sensacional é Michel Houellebecq! Li “O mapa e o território” com grande prazer, e não me entediei em nenhuma das suas 400 páginas. (foto: france-amérique.com )
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Trecho de “Memórias”, da coletânea autobiográfica “Rua Paraíba”
Obra Literária
Trecho de “Memórias”, da coletânea autobiográfica “Rua Paraíba”
18 de outubro de 2020 at 17:59 0
ESCREVI um conto batido a máquina. Cabia numa folha A4, no modo paisagem. Era escrito em três colunas: lendo a primeira coluna, o conto tinha um sentido. Se se juntassem as linhas da primeira e da segunda colunas, o sentido se modificava. Juntando a primeira, a segunda e a terceira colunas, outro sentido ainda aparecia. Eu não devia ter mais que onze anos, e mostrei o conto para um colega do curso de francês. Ele, então, mostrou para o pai dele, que veio com a sentença: “esse menino vai ser um grande escritor”. Eu ri e ele respondeu, sério: “meu pai nunca se engana.” (fonte da imagem: Wikipédia)  
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“Meu Ano de Descanso e Relaxamento”, de Ottessa Moshfegh
Literatura
“Meu Ano de Descanso e Relaxamento”, de Ottessa Moshfegh
11 de outubro de 2020 at 22:11 0
A moça que é a personagem principal e narradora de “Meu Ano de Descanso e Relaxamento”, de Ottessa Moshfegh (Todavia, 240 páginas, tradução de Juliana Cunha, lançado originalmente em 2018), é uma jovem adulta linda, loira, alta, rica, e se formou com louvor em Arte pela Universidade Columbia. É também órfã - tanto seu pai quanto sua mãe eram distantes e ausentes – e apaixonada por Trevor, um homem alto e atraente que nunca lhe deu muita atenção. Sua única amiga, Reva, é bulímica e – segundo a narradora do livro – chata e meio burra. Trabalhando entediada numa galeria de arte em Nova Iorque e cansada do trabalho, dos egos inflados dos artistas ao redor e da vida em geral, ela resolve passar um ano sabático – até porque a herança que recebeu dos pais não a faz ter preocupações com dinheiro. Só que não é um ano sabático comum: ela quer ficar chapada o tempo todo. Para isso, ela arranja – na lista telefônica – uma psiquiatra que lhe dá receitas para todos os remédios que quer, ao mesmo tempo que não se lembra de quase nada que sua cliente lhe fala. A quantidade de remédios controlados que ela toma é absurda, e boa parte do livro de Ottessa Moshfegh – que é filha de uma mãe croata e de um pai iraniano - descreve os efeitos de cada um deles: nomes como Notuss, Buspirona, Stilnox, Donaren, Remeron, Valium, Seroquel, Imovane, Frontal, Neuroproxin, Gardenal e Zyprexa (alguns reais, outros inventados, segundo a crítica de Clara Balbi na Folha de São Paulo de 9 de agosto de 2019) aparecem a todo momento. E é com uma substância fictícia, Infermiterol, que a coisa pega de verdade. Embora algumas pessoas tenham achado “Meu ano de descanso e relaxamento” um livro divertido, para mim foi uma leitura opressiva. Um livro original e que conta com maestria um mergulho depressivo num abismo da mente humana. (foto da autora obtida no jornal Folha de São Paulo)
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Trecho de Memórias, segunda parte de Rua Paraíba
Obra Literária
Trecho de Memórias, segunda parte de Rua Paraíba
4 de outubro de 2020 at 15:06 0
Foi na Vice que eu ouvi falar em oogles pela primeira vez na vida. Punks vagabundos que se alimentam de restos encontrados no lixo, que usam em excesso todo o tipo de drogas, que vivem na rua com seus cachorros usados como carinho e proteção, que não tomam banho, que são promíscuos sexualmente, que andam clandestinos em trens de carga, sem destino pelos Estados Unidos. Fico horas procurando na internet fotos e textos sobre esses inúteis, esses parasitas, sobre esse pessoal asqueroso por quem sou totalmente apaixonado. No meu aniversário, minha filha, que não tinha ideia desta minha fascinação pelos oogles, me deu uma camiseta com os logos das bandas amadas por eles: D.R.I., T.S.O.L., Agent Orange, AC/DC, Black Flag. Parecia uma camiseta oogle estilizada. Deus sabe como amo aquela camiseta.
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