O marco do final da “vida normal”, para mim, foi o show da banda de metal belga Amenra, no Fabrique Club em 1 de março de 2020 -
sobre o qual já comentei aqui, num texto que acabou aparecendo também no meu livro mais recente, “Rua Paraíba”. Foi um show espetacular, o melhor a que já assisti na minha vida e, estranhamente, parece mesmo realmente ter sido o final de uma era.
Mas a vida continuou mesmo com a pandemia e, em termos de música, não tenho muito do que me queixar de 2020. Por exemplo, alguns dos meus artistas preferidos lançaram discos maravilhosos, como Selena Gomez com “
Rare” (lançado antes da pandemia), The Weeknd com “
After Hours”, Morrissey com “
I Am Not a Dog on a Chain”, 21 Savage com “
Savage Mode II”, Ariana Grande com “
positions”. Além disso, os dois clipes que eu já considero os melhores que vi até hoje foram lançados depois do início da pandemia: “Dance again”,
com a Selena Gomez dançando sozinha, e “
POPSTAR”, de DJ Khalled e Drake, um vídeo divertidíssimo em que Justin Bieber canta no lugar do Drake.
Também depois da pandemia foram lançados dois podcasts sobre música viciantes:
Álvaro & Barcinski & Forasta & Paulão, com os jornalistas Álvaro Pereira Jr., André Barcinski, André Forastieri e Paulo César Martin, sendo que os três primeiros eu acompanho desde o tempo da revista Bizz. Segundo a descrição do próprio podcast, este apresenta
“dicas e opiniões musicais malfeitas e desatualizadas para sua quarentena” – já dá para ter uma ideia do quanto ele é divertido. Outro podcast nos mesmos moldes é o
B3, também com o André Barcinski, mais Benjamin Back e João Marcello Bôscoli.
Outra coisa recente e marcante em termos de música para mim foi a descoberta das coleções completas de música de câmara de
Brahms e
Mozart no YouTube Music (lançadas, é preciso que se diga, antes de 2020). Nem me sinto muito à vontade para comentar tanta maravilha junta. E não posso deixar de citar o cd
Brahms: Piano Trio Nos.1 Op.8 & 2 Op.87, com Maria João Pires ao piano.
Mas provavelmente o disco que vai ser o primeiro a vir à minha cabeça quando, daqui a um bom tempo, eu me lembrar da pandemia, vai ser o disco
Brahms: Lieder, com a mezzo-soprano sueca Anne Sofie von Otter e o pianista Bengt Forsberg (também lançado antes de 2020). Infelizmente o YouTube Music não registra, até onde eu sei, quantas vezes um disco é escutado. Não importa, imagino que pus para tocar essa maravilha – que começa com uns
lieder mais “alegres” e vai aumentando a carga de dramaticidade até lugares meio impossíveis de imaginar – no mínimo mais de cem vezes durante a pandemia.
crédito da foto: AbeBooks
Comentários Recentes