Caralho. Caralho, caralho, caralho. Buceta. Buceta peluda, quente, cheirosa. Buceta de putinha. Nada... Antes, falando estas coisas, eu gozava ou, pelo menos, me vinha vontade... Quando eu estava com meus amigos, dizia estas palavras e depois caía na gargalhada. Quando eu estava sozinha, pensava nelas, falava a meia voz e, ligeira, enfiava a mão dentro da minha calcinha, de olho na porta e de ouvidos tão atentos que eu podia ouvir até o ranger das escadas. Era o pânico total. Depois, eu bem que cortaria minha mão, mas na hora era tão bom... Era como uma felicidade molhada, explosiva, um grito abafado, e pronto!... Agora, mesmo quando estou sozinha, é como se estivesse com outras pessoas dá vontade de rir. Na verdade, não é que eu tenha vontade de rir: eu rio porque nunca estou só, mesmo quando não tem ninguém, tem sempre um cretino para me julgar. Caralho inchado, caralho duro, com a pele peluda e a cabeça pelada saindo pra fora: já peguei em sete. Isso não me abalou muito, não. Mas eles não são todos iguais: uns têm um jeitão doente, outros, um ar saudável. Uns todos enrugados, outros lisinhos. Pô, até agora, nada! Vou tirar meu pijama e deitar de barriga pra cima, como se estivesse morta... Necrotério: mesa de mármore. Cheiro forte de desinfetante. Luz fixa. Silêncio pesado: Antônia P., 16 anos, sexo feminino, jaz morta (cubro meu rosto com o lençol). Ruído de passos: um grupo de pessoas, compungidas, se aproxima, guiadas por um homem de avental branco: um tipo bonito, mas com um ar ausente de cuidador de cadáveres (francamente, um tipo que vive no meio de cadáveres deve ser muito espiritual). Atrás dele vêm por ordem: mamãe, vestida com aquele conjunto preto que ela fez no ano passado (parece cruel, mas espero que ela tenha o bom gosto de não querer se parecer comigo, pelo menos enquanto eu estiver no necrotério), palidíssima, finalmente sem nenhuma maquilagem. Papai, ligeiramente ofegante, com um lenço branco em volta daquele pescoço bovino, parece estar à beira de um enfarte. Tia Bice, seca e antipática, não perde um detalhe (que diabo ela veio xeretar aqui, se ela nunca me aturou?). Ele, de jeans e camiseta (não queriam que Ele entrasse, mas Ele contestou, resoluto: "Ou vocês me deixam vê-la ou me mato aqui mesmo!"). Eles abrem alas e, com respeito, o observam passar. O homem de avental branco levanta o lençol. Meus cabelos se espalham suavemente sobre o mármore branco; foram lavados para que fosse removido o sangue seco e agora brilham sobre o mármore como se fossem seda dourada. Meu rosto está pálido e sereno, sem espinhas (acho que os mortos não têm espinhas). O silêncio se enche de soluços.O livro fez um sucesso imenso quando publicado por aqui, no início dos anos 1980, que foi quando o li pela primeira vez. O livro se apresenta como o diário íntimo de dois adolescentes, Rocco e Antônia, que vivem em Roma entre 1975 e 1976, e são ligados ao Partido Comunista Italiano. A história do relacionamento dos dois, com idas e voltas, às vezes parece uma Sessão da Tarde, mas as cenas de sexo são sempre descritas de maneira explícita. E, por mais que as questões sociais pareçam datadas para o leitor de hoje, o livro serve como uma introdução ao pensamento da esquerda italiana nos anos 1970, uma época que me interessa bastante. *** Também nos anos 1980 que li pela primeira vez “O mundo pecaminoso que vivi”, de Mylène Demarst. Publicado pela Luzeiro Editora e com 143 páginas, o livro se declara como uma história real, sobre as aventuras sexuais da autora, que na verdade seria uma importante atriz francesa de cinema – e na edição consta até o nome do tradutor, um tal de Rubens F. Lucchetti. Mais do que isso, o livro seria a continuação de outra edição de memórias sexuais da autora, chamado “Confissões de uma Estrela”. Mas tudo isso, ao que tudo indica, é falso. Mylène Demarst deve ser uma autora (ou autor) brasileira, já que não há nenhuma menção deste nome no Google fora daqui – e mesmo em pesquisas brasileiras, a autora só aparece em dissertações sobre livros censurados, como “ESCREVER É SUBVERSIVO: Censura a livros eróticos e pornográficos na Ditadura Civil-Militar Brasileira.”, de Julina Belinaso[1]. O livro é razoavelmente bem escrito, as aventuras da “atriz” são meio exageradas, mas nada que comprometa muito. E o final apresenta o texto de “A iniciação de Eugênia”, uma “peça em um ato, inspirada no Marquês de Sade”. Conforme apresentado em “O mundo pecaminoso que vivi”, a peça “foi encenada no Teatro Royal, de Budapest (sic)”. Duvido que ela tenha sido encenada! Segue o trecho final do capítulo 4 do livro de Mylène Demarst:
Inopinadamente, ele atirou-se sobre nós. Primeiro atacou-me, beijando-me o púbis e a vagina, depois Christine, fazendo o mesmo. Desabotoei os botões da frente de suas calças e comecei a acariciar e excitar com beijos lúbricos o seu membro. Aos poucos ele foi endurecendo e principiei a masturbá-lo enquanto me oferecia toda aberta, para o contato manual de Carl, que beijava os seios de Christine ou sugava-os, e com as mãos trabalhava avidamente nas nádegas da moça. Assim permanecemos naqueles deliciosos contatos de mãos e bocas. É uma das coisas mais maravilhosas que se pode imaginar: assim, gozamos profundamente, muito mais do que no coito. Atravessamos vários espasmos, mas ninguém, nenhum dos três, arredava pé. O odor de sexo excitava-nos muito mais. Completamente esgotados, caímos no tapete e acordamos algumas horas mais tarde. E tudo se renovou. No auge da orgia, Carl se desprendeu de nós e foi até o telefone. Falou alguma coisa. Depois, voltou para os nossos carinhos. Daí meia hora, chegavam três rapagões de físico atlético. Carl recebeu-os alegremente. Nós estávamos completamente nus; imediatamente, eles também se despiram. Bebemos uísque puro e nos entregamos à mais depravada das uniões sexuais que pode haver. Eu sentia que estava sendo penetrada por trás por um membro enorme, enquanto tinha o membro de Carl entre meus lábios e sugava-o deliciosamente. Uma mão acariciava-me a vagina.*** "Tudo o que você não queria saber sobre sexo", de Adão Iturrusgarai e Mirian Goldenberg (Record, 2005), “se propõe a desvendar e discutir a sexualidade de uma forma leve, mas, ao mesmo tempo, bastante informativa e provocadora”. O livro tem cartuns do autor e questionamentos da autora, e tem momentos mais e menos interessantes. Alguns cartuns são bons, como este, abaixo:
Prepare-se para ser transportado para um futuro distópico, onde uma sociedade vive em um gigantesco condomínio. Conheça Sílvia, uma "vagabunda" de 29 anos que, através de seu diário, nos guia por um universo de complexos relacionamentos e buscas por identidade.
Sobre o Romance
Em 3040, Sílvia tem a vida virada de cabeça para baixo quando seu ex-namorado, Paulo, reaparece com visões da Virgem Maria e uma proposta de casamento inusitada. Esse evento a empurra para uma jornada de autodescoberta, explorando fé, sexualidade e o desafio de se encaixar em um mundo que tenta controlá-la.
Enquanto Sílvia navega por dilemas religiosos e familiares, incluindo a relação turbulenta com o irmão enxadrista, ela decide mudar de vida. Mas essa nova trajetória é marcada por decisões arriscadas, crises de identidade e a busca de vingança de sua melhor amiga.
Acompanhe Sílvia em uma jornada que questiona tudo: religião, família, identidade e o que realmente significa ser livre.
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Abaixo, confira a capa do livro impresso e mergulhe no universo de "3040"!
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“Conforme observou Richard Steigmann-Gall (2004, p. 39, 48), não apenas Artur Dinter, em 1921, no seu romance O Pecado contra o Espírito (...), reivindicava a necessidade de remoção desse material judaico da bíblia cristã, pois ele constituiria um monumento ao ‘pensamento religioso dos judeus, que se baseia em mentiras e traição, negócios e lucro’, como também o próprio Mestre Eckart, a quem Hitler fez um tributo em Mein Kampf, ao escrever no poema intitulado ‘O Enigma’: ‘O Novo Testamento afastou-se do Velho / como tu te libertaste do mundo / E assim como estás livre das tuas ilusões passadas / também Jesus Cristo rejeitou a sua condição de judeu’.”Cristo, no Cristianismo Positivo, era equivalente, e muitas vezes inferior, a Hitler:
“Quanto à crença na redenção cristã entre muitos alemães durante o período nazista, percebe-se que ela era composta de duas metades, como se formassem uma perfeita simbiose (STEIGMANN-GALL, 2004, p. 46). A primeira delas era formada pela figura de Hitler como salvador. Sua missão era aquela mesma de Cristo, qual seja, a de combater sem medo e sem trégua o judaísmo. A segunda metade dizia respeito às instituições religiosas, muitas delas destacando a ideia de redenção através da cruz. Neste sentido, essa redenção só poderia ser realizada na sua plenitude pela purificação de Jesus de toda e qualquer relação com o judaísmo, reconstruindo-o como ele pretensamente teria sido, isto é, como um ariano, e não como um judeu.”Finalmente, Chevitarese e Justi citam a (tenebrosa) ideia de um Jesus musculoso:
“A fim de superar, do ponto de vista estético, aquilo que poderia parecer um sinal de derrota frente às maquinações judaicas, outras representações de Jesus foram desenvolvidas nos anos trinta no interior da Alemanha. Por meio delas, buscou-se reforçar a vitória da cruz sobre os judeus. Jesus, firme como uma rocha, tem um corpo musculoso e reluzente, cabeça erguida e olhos fixos no horizonte, como que transcendendo à dor, à violência e à derrota. Vê-se aqui, do ponto de vista estético, a sistematização de um olhar historiográfico levado ao seu ápice pelos teólogos e religiosos nazistas: o Jesus ariano.”Em um vídeo no Instagram, André Chevitarese comenta que centenas de igrejas foram construídas no período nazista, levando em conta as ideias absurdas do Cristianismo Positivo, mas apenas uma, a Martin-Luther-Gedächtniskirche (Igreja Memorial Martin Lutero), em Berlim, construída em 1935, sobreviveu. A imagem de um Jesus musculoso e vitorioso, que está nesta igreja, é apresentada na imagem que acompanha o texto. O artigo de Chevitarese e Justi apresenta várias outras imagens do Cristianismo Positivo, como altares luteranos cheios de suásticas e outra foto da igreja Martin-Luther-Gedächtniskirche, em que Jesus aparece seguido por apóstolos e um soldado alemão (!). Enfim, eu nem precisaria reforçar, acho, mas não custa nada: ideia de um "Jesus Ariano" é categoricamente rejeitada pela esmagadora maioria das denominações cristãs em todo o mundo. O cristianismo, em sua essência, reconhece Jesus como judeu, nascido em Belém, na Judeia, e pertencente à linhagem de Davi. Negar sua identidade judaica é negar a própria base histórica e teológica do cristianismo, que se enraíza nas tradições e escrituras judaicas. A existência do "Jesus Ariano" é um testemunho da capacidade de ideologias totalitárias de distorcer e manipular até mesmo as crenças mais sagradas para seus próprios fins perversos. Ele permanece como um exemplo sombrio da corrupção da fé para justificar o ódio e a violência. *** Quem tiver interesse em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail. *** (*) CHEVITARESE, André Leonardo; JUSTI, Daniel Brasil. O Jesus Ariano: o imaginário e as concepções historiográficas do Jesus Histórico na Alemanha Nazista. Horizonte, Belo Horizonte, v. 15, n. 45, p. 188-205, jan./mar. 2017.
"Pelas ruas falam uma língua Que já não Me lembro Mais"Este, por exemplo, abre um vasto horizonte poético de significados: pode remeter à saída de uma vida de boemia, a um desajuste mais profundo, ou a muitas outras interpretações. *** Até "3040", todos os meus textos de ficção ou literatura eram contos, memórias ou novelas, e nenhum ultrapassava as sessenta páginas em formato A4. Decidi, em determinado momento, escrever um romance muito longo, mais como um desafio do que qualquer outra coisa. A partir de um sonho da minha filha, imaginei a humanidade em um futuro distante vivendo em pequenos cubículos, isolados, longe da natureza – e isso antes mesmo da pandemia. O livro se chamava "5040", um pouco em homenagem ao meu sogro, que brincava que tinha um dinheiro enorme guardado no banco que só seria liberado em 2040. Consegui que a Juliana Frank me ajudasse na empreitada. Ela sugeriu que o livro deveria estar mais próximo no tempo e que eu deveria abordar a transição dos dias de hoje para o futuro. Tudo o que ela me ensinou na elaboração do livro foi precioso. O prefácio de "3040", livro dedicado à Juliana Frank, segue abaixo. ***
Conversamos. Você me perguntou se eu deveria reler "O Jogo da Amarelinha", já que não me lembrava de nada e nem tinha entendido direito na primeira leitura. Confesso que, mesmo agora, no início da releitura, ainda não estou entendendo tudo – preciso deixar isso bem claro. Minha resposta foi que esperei tanto pelo sexto volume de "Minha Luta" que me pareceu meio triste ter que adiar a leitura, agora que preciso reler "O Jogo da Amarelinha". Conversamos sobre Deus, sobre minhas ideias sobre Ele. Também falamos sobre política e economia, eu à direita, você à esquerda, mas nenhum de nós tão longe do centro assim. Houve um tempo em que eu me espantava com a quantidade de coisas: coisas vividas, coisas faladas, coisas escritas. É angustiante pensar que há muito mais livros escritos do que uma pessoa consegue ler na vida. Eu andava em livrarias e ficava triste porque jamais leria tudo aquilo, nem que quisesse, nem que fosse a única coisa que fizesse até o final da vida. Wilson Martins lia muito, e lia deitado: se dormisse, era sinal de que o livro era ruim. Ele disse uma vez que o Novo Testamento é o Paulo Coelho do passado e, digamos, essa é uma opinião pouco popular – apesar de, em termos estilísticos, ter sim alguma coisa a ver. Lembro do choque quando li "Sidarta", de Hermann Hesse, e me pareceu igual a Paulo Coelho – que, com razão, se queixa de não ter ganhado o Nobel, ao contrário do alemão que, aparentemente, o inspirou. Já imaginaram a quantidade de cantinhos que existem no mar? Mais cantinhos do que podemos sequer conceber. Uma pedrinha aqui, outra ali, um peixe aqui e outro ali. E Deus sabe todos os cantinhos. E leu todos os livros. E ouviu todas as conversas. Não é à toa, digo a você, que haja tantas pessoas que não acreditam Nele. Conto a você que estou gostando de reler "O Jogo da Amarelinha", percebendo nele coisas que eu não tinha notado antes – e não só porque eu tinha lido o livro muito novinho. Há todo um mistério ali, pronto para ser desvendado, que eu nem fazia ideia de que existia. Falo a você que alguns autores deixam transparecer facilmente seu amor-próprio em seus livros – refiro-me a Nabokov, Balzac e Henry James, que sempre parecem satisfeitos com a própria genialidade, e que convencem seus leitores (eu incluído) de que eles são especiais. Eu não sou desses. Sem você, eu teria parado de escrever.*** Se você tiver interesse em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.
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