junho 2025

Juliana Frank e 3040 – como a grande escritora ajudou no meu livro
Obra Literária
Juliana Frank e 3040 – como a grande escritora ajudou no meu livro
8 de junho de 2025 at 14:47 0
Juliana Frank é uma escritora excepcional. Em livros como "Quenga de Plástico" (7Letras, 2011), "Meu Coração de Pedra-Pomes" (Companhia das Letras, 2013), "Cabeça de Pimpinela" (7Letras, 2013) e "Uísque e Vergonha" (Oito e Meio, 2016), ela constrói uma literatura estranha, provocativa, original e fascinante. Suas personagens são peculiares e obcecadas por objetos como bolsas e bonecas Barbie. Leylsa Kedman, de "Quenga de Plástico", por exemplo, é obcecada por sexo, enriquece e empobrece algumas vezes, atua em diversos filmes pornô, é estuprada e se apaixona pelo estuprador, mata dois homens, e tem uma melhor amiga que é anã e viciada em cocaína. *** Juliana Frank, por vezes, compartilha lindas frases ou haicais em suas redes sociais, como:
"Pelas ruas falam uma língua Que já não Me lembro Mais"
Este, por exemplo, abre um vasto horizonte poético de significados: pode remeter à saída de uma vida de boemia, a um desajuste mais profundo, ou a muitas outras interpretações. *** Até "3040", todos os meus textos de ficção ou literatura eram contos, memórias ou novelas, e nenhum ultrapassava as sessenta páginas em formato A4. Decidi, em determinado momento, escrever um romance muito longo, mais como um desafio do que qualquer outra coisa. A partir de um sonho da minha filha, imaginei a humanidade em um futuro distante vivendo em pequenos cubículos, isolados, longe da natureza – e isso antes mesmo da pandemia. O livro se chamava "5040", um pouco em homenagem ao meu sogro, que brincava que tinha um dinheiro enorme guardado no banco que só seria liberado em 2040. Consegui que a Juliana Frank me ajudasse na empreitada. Ela sugeriu que o livro deveria estar mais próximo no tempo e que eu deveria abordar a transição dos dias de hoje para o futuro. Tudo o que ela me ensinou na elaboração do livro foi precioso. O prefácio de "3040", livro dedicado à Juliana Frank, segue abaixo. ***
Conversamos. Você me perguntou se eu deveria reler "O Jogo da Amarelinha", já que não me lembrava de nada e nem tinha entendido direito na primeira leitura. Confesso que, mesmo agora, no início da releitura, ainda não estou entendendo tudo – preciso deixar isso bem claro. Minha resposta foi que esperei tanto pelo sexto volume de "Minha Luta" que me pareceu meio triste ter que adiar a leitura, agora que preciso reler "O Jogo da Amarelinha". Conversamos sobre Deus, sobre minhas ideias sobre Ele. Também falamos sobre política e economia, eu à direita, você à esquerda, mas nenhum de nós tão longe do centro assim. Houve um tempo em que eu me espantava com a quantidade de coisas: coisas vividas, coisas faladas, coisas escritas. É angustiante pensar que há muito mais livros escritos do que uma pessoa consegue ler na vida. Eu andava em livrarias e ficava triste porque jamais leria tudo aquilo, nem que quisesse, nem que fosse a única coisa que fizesse até o final da vida. Wilson Martins lia muito, e lia deitado: se dormisse, era sinal de que o livro era ruim. Ele disse uma vez que o Novo Testamento é o Paulo Coelho do passado e, digamos, essa é uma opinião pouco popular – apesar de, em termos estilísticos, ter sim alguma coisa a ver. Lembro do choque quando li "Sidarta", de Hermann Hesse, e me pareceu igual a Paulo Coelho – que, com razão, se queixa de não ter ganhado o Nobel, ao contrário do alemão que, aparentemente, o inspirou. Já imaginaram a quantidade de cantinhos que existem no mar? Mais cantinhos do que podemos sequer conceber. Uma pedrinha aqui, outra ali, um peixe aqui e outro ali. E Deus sabe todos os cantinhos. E leu todos os livros. E ouviu todas as conversas. Não é à toa, digo a você, que haja tantas pessoas que não acreditam Nele. Conto a você que estou gostando de reler "O Jogo da Amarelinha", percebendo nele coisas que eu não tinha notado antes – e não só porque eu tinha lido o livro muito novinho. Há todo um mistério ali, pronto para ser desvendado, que eu nem fazia ideia de que existia. Falo a você que alguns autores deixam transparecer facilmente seu amor-próprio em seus livros – refiro-me a Nabokov, Balzac e Henry James, que sempre parecem satisfeitos com a própria genialidade, e que convencem seus leitores (eu incluído) de que eles são especiais. Eu não sou desses. Sem você, eu teria parado de escrever.
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3040 – a capa
Obra Literária
3040 – a capa
1 de junho de 2025 at 14:43 0
Minha filha teve um sonho, anos atrás, em que ela saía de um túnel no ano 5000 e via uns prédios gigantes. Pelo que eu lembrava, ela emergia de um submarino no oceano, mas parece que não foi bem assim; era apenas um túnel subterrâneo mesmo. Mas não importa, mantive a ideia: no meu livro "3040", que devo publicar nos próximos meses, esses prédios gigantes ficam na beira da Serra do Mar, aqui no Brasil – e toda a humanidade foi morar neles. A ideia para a capa de "3040" (que era "5040", mas mudou graças à Juliana Frank), que eu pedi para meu grande amigo Guilherme Bresola da Rocha (o Ceris) fazer, era, então, o que eu achava que tinha sido o sonho da minha filha Teresa Müller: um submarino no futuro, vendo uns prédios enormes na beira do mar. Achei a capa, que é a imagem que acompanha este texto, linda, como é de praxe no trabalho do Ceris. *** Segue um resumo do livro: "3040" é a história de Sílvia Chomsky, uma jovem que vive no Condomínio, uma sociedade futurista no litoral da América do Sul onde a humanidade se refugiou devido a pandemias e à devastação da Natureza. Sílvia, inicialmente uma "vagabunda" (termo para quem não trabalha), tem sua vida transformada por eventos inesperados. Seu relacionamento com Paulo, um ateu que tem visões da Virgem Maria e se converte ao judaísmo por ela, a leva a questionar sua própria fé e a descobrir um novo caminho na vida, buscando a Universidade para estudar arqueologia e, surpreendentemente, uma possível conversão ao islamismo. A narrativa explora as complexas relações de Sílvia com sua família e amigos, especialmente Mariana, sua melhor amiga, cujas escolhas de vida e fé se entrelaçam com as dela. A história também aborda temas como a sexualidade na sociedade futurista, onde as normas são muito mais flexíveis, e a tensão entre a vida controlada no Condomínio e o desejo por uma conexão mais profunda com a Natureza e a espiritualidade. Em meio a reviravoltas religiosas, dramas familiares e descobertas pessoais, Sílvia se casa com Paulo, inicia uma nova jornada acadêmica e continua a refletir sobre o propósito de sua vida e a influência da fé em um mundo em constante mudança. *** Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu email.
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