agosto 2024

Os Etruscos
História
Os Etruscos
25 de agosto de 2024 at 13:45 0
Eu não sei se foi no Discovery Channel ou no History em que assisti, alguns anos atrás, um documentário sobre os etruscos. Fiquei fascinado. Não tinha ideia de que aquele povo, que viveu aproximadamente entre os séculos VIII e V antes da Era Comum, era tão semelhantes aos gregos e romanos - não sei por quê, eu achava que eles deviam ser bem mais atrasados. Li recentemente três livros sobre este povo - "A civilização dos Etruscos", de Philippe Azziz (Editions Ferni, 348 páginas, dentro da coleção "Grandes Civilizações Desaparecidas", sem indicação de tradução, publicado originalmente em 1976), "Os Etruscos - uma civilização reencontrada", de Attilio Gaudio, 205 páginas, Edições MM, tradução de Charles Marie Antoine Bouéry, publicado originalmente em 1969) e o clássico "Os Etruscos", de Raymond Bloch (260 páginas, Editorial Verbo, traduzido por Maria Helena Pires Noronha e Fernando Noronha, publicado originalmente em 1958, dentro da coleção "Historia Mundi") - e vou comentar aqui alguns aspectos sobre esta civilização fascinante. Como os gregos, os etruscos tinham divisão política em cidades-estado, que se reuniam com alguma regularidade e que às vezes guerreavam umas com as outras. Eles tiveram seu ápice entre os séculos VII e V a.C., e acabaram sendo invadidos, aos poucos, pelos romanos, que acabaram de conquistar todo o seu território - noroeste da Itália, onde hoje fica a Toscana - em 396 a.C. na batalha de Veios. Mesmo com a derrota, acredita-se que a nobreza etrusca foi absorvida pelos vencedores romanos, fazendo parte do Império. Sua língua, escrita com caracteres gregos, até hoje é um mistério para os pesquisadores: sabe-se que não era um idioma indo-europeu - origem comum de grande maioria das da Europa e muitas da Índia -, mas não muito mais do que isso. Sua literatura - que, aparentemente, era principalmente de cunho religioso, já que os etruscos eram famosos por seus rituais de adivinhação (o que continuou em Roma, mesmo depois da derrota final da Etrúria, já que os adivinhos toscanos eram os mais respeitados no Império Romano) - foi praticamente toda perdida. O maior texto escrito em etrusco que restou é um lençol mortuário encontrado no Egito: alguém, na época do Egito Romano, provavelmente, pegou aqueles tecidos cheio de textos - que ninguém sabia para que serviam e o que significavam - para embalar um morto, e o tecido foi preservado. O imperador romano Cláudio (cerca de 10 a.C. - 54 d.C.) tinha origens etruscas e escreveu uma História do Povo Etrusco e uma Gramática do Povo Etrusco, livros que se perderam, numa verdadeira tragédia para os estudiosos. A riqueza da região era principalmente derivada da mineração, e os etruscos fizeram fortuna extraindo ferro e outros minerais de seu território. Seus templos e residências eram em geral construídos de madeira, e por isso a grande maioria deles se perdeu. Por outro lado, como eram extremamente místicos e ligados à vida após a morte, construíram - no auge de sua civilização - túmulos em concreto, enterrados embaixo do nível do solo, que apresentam ilustrações da vida cotidiana dos seus nobres: grande parte do que se sabe atualmente dos seus costumes, inclusive, é deduzido destas pinturas. E o que mostram estas ilustrações nos túmulos? Basicamente, divertimento, música, banquetes, alegria. Para grande escândalo dos romanos e gregos, os etruscos banqueteavam com suas esposas, o que era impensável naquelas outras civilizações. Aparentemente, entre os povos mediterrâneos da época, em nenhum lugar as mulheres tinham tantos direitos como entre os etruscos. Os gregos e romanos criticavam os etruscos por excesso de indolência e de amor aos prazeres - dadas as pinturas nos seus túmulos e a sua derrota final para os romanos séculos antes de Cristo, é de se perguntar se seus adversários não tinham razão.
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Alain Delon (1935-2024)
Cinema
Alain Delon (1935-2024)
18 de agosto de 2024 at 18:31 0
Jean Gabin, Lino Ventura e Alain Delon eram os grandes nomes do chamado "filme polar", a resposta francesa ao "filme noir". A foto que acompanha este texto é uma reprodução do cartaz de "Os Sicilianos" (1969), no qual os três atuaram juntos. Lino Ventura era o ator que parecia ser um sujeito confiável e afetivo; Jean Gabin era classudo, imponente, carismático; e, com seus olhos claríssimos e pinta de galã, Alain Delon era frio e enigmático - e era realmente assustador quando atuava como vilão. Os meus filmes polar preferidos com Alain Delon, além do já citado "Os Sicilianos", são "Borsalino", em que faz um gângster em parceria com Jean-Paul Belmondo, e "Gângsters de casaca"  (1963), em que seu colega no mundo do crime é vivido por Jean Gabin. Assisti também com Alain Delon, muitos anos atrás, dois clássicos da cinematografia mundial, ambos dirigidos pelo grande Luchino Visconti: "O Leopardo", de 1963 (baseado no romance de Lampedusa que inspirou meu próprio nome), e "Rocco e seus irmãos", de 1960. Nos últimos anos, devido a graves problemas de saúde, Alain Delon queria morrer por suicídio assistido. Hoje (18 de agosto de 2024) ele faleceu, provavelmente de causas naturais, e o mundo do cinema fica mais triste.
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Dois livros sobre o cristianismo primitivo – André Chevitarese
História
Dois livros sobre o cristianismo primitivo – André Chevitarese
4 de agosto de 2024 at 15:31 0
Já comentei aqui e aqui sobre uma questão que me fascina:
"o que será que os antigos romanos, com seus deuses imponentes e grandiosos, achavam de um pessoal – muitos compatriotas entre eles, inclusive – que achava que Deus era um pobre judeu que teve a morte mais humilhante possível, na cruz? Deviam achar estranho, no mínimo. Eu acho que também acharia."
Eu já tinha citado também o professor da UFRJ Andre Leonardo Chevitarese, um especialista mundial na área do Jesus histórico. O que a ciência tem a dizer sobre ele? Este é um assunto bastante polêmico em conversas por aí: Jesus existiu ou não? Conforme o grande Chevitarese não cansa de repetir, esta polêmica não existe na Academia. Segundo ele, nenhum pesquisador sério tem dúvidas sobre a existência real de Jesus, e apresento alguns links de vídeos no YouTube bastante didáticos a respeito: um do ótimo canal Estranha História, do Professor Henrique Caldeira, outro de André Leonardo Chevitarese e uma playlist de Jonathan Matthies. Li recentemente dois livros publicados recentemente pela Editora Menocchio sobre cristianismo primitivo: "Cristianismos no Império Romano", uma coletânea de artigos coordenada por Chevitarese e Gilvan Ventura da Silva, e "Paulo - o que a História tem a dizer sobre ele", escrita pelo próprio André Leonardo Chevitarese. A coletânea se concentra em quatro tópicos principais: como os romanos viam o cristianismo, como era a política e a religião no Império Romano, como a geografia explica este império e aspectos cotidianos da vida na Roma Antiga. Já o livro sobre Paulo se concentra nas sete epístolas que têm autoria reconhecida pelos historiadores como escritas pelo apóstolo. Embora em alguns trechos a leitura dos dois livros seja árida para leitores - como eu - leigos em História, eles são fascinantes e mostram o cristianismo sob uma perspectiva muito diferente daquele da teologia. Um dos temas principais em "Paulo - o que a História tem a dizer sobre ele", por exemplo, é como o apóstolo modificou a mensagem original do Jesus histórico. Fascinante.
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