Literatura

3040 – versão impressa
Literatura, Obra Literária
3040 – versão impressa
13 de julho de 2025 at 04:17 0
Chegaram as cópias do autor do meu livro 3040, se alguém quiser posso pedir uma cópia. Como é impresso nos Estados Unidos e vem para cá, ficou meio caro, mas vou cobrar um pouco menos do preço de custo: 70 reais. Se alguém estiver interessado, pode me mandar um pix para fabriciomuller60@gmail.com que deve chegar para você em torno de um mês. O livro tem 442 páginas, e vou mandar com dedicatória.
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Três livros de teor erótico
Literatura
Três livros de teor erótico
13 de julho de 2025 at 04:15 0
Eu comprei “Porcos com asas”, de Marco Lombardo Radice e Lidia Ravera (Editora Brasiliense, 185 página, tradução de Maria Celeste M. Leite Souza, publicado originalmente em 1976), provavelmente recomendado pela Veja. O livro começa assim:
Caralho. Caralho, caralho, caralho. Buceta. Buceta peluda, quente, cheirosa. Buceta de putinha. Nada... Antes, falando estas coisas, eu gozava ou, pelo menos, me vinha vontade... Quando eu estava com meus amigos, dizia estas palavras e depois caía na gargalhada. Quando eu estava sozinha, pensava nelas, falava a meia voz e, ligeira, enfiava a mão dentro da minha calcinha, de olho na porta e de ouvidos tão atentos que eu podia ouvir até o ranger das escadas. Era o pânico total. Depois, eu bem que cortaria minha mão, mas na hora era tão bom... Era como uma felicidade molhada, explosiva, um grito abafado, e pronto!... Agora, mesmo quando estou sozinha, é como se estivesse com outras pessoas dá vontade de rir. Na verdade, não é que eu tenha vontade de rir: eu rio porque nunca estou só, mesmo quando não tem ninguém, tem sempre um cretino para me julgar. Caralho inchado, caralho duro, com a pele peluda e a cabeça pelada saindo pra fora: já peguei em sete. Isso não me abalou muito, não. Mas eles não são todos iguais: uns têm um jeitão doente, outros, um ar saudável. Uns todos enrugados, outros lisinhos. Pô, até agora, nada! Vou tirar meu pijama e deitar de barriga pra cima, como se estivesse morta... Necrotério: mesa de mármore. Cheiro forte de desinfetante. Luz fixa. Silêncio pesado: Antônia P., 16 anos, sexo feminino, jaz morta (cubro meu rosto com o lençol). Ruído de passos: um grupo de pessoas, compungidas, se aproxima, guiadas por um homem de avental branco: um tipo bonito, mas com um ar ausente de cuidador de cadáveres (francamente, um tipo que vive no meio de cadáveres deve ser muito espiritual). Atrás dele vêm por ordem: mamãe, vestida com aquele conjunto preto que ela fez no ano passado (parece cruel, mas espero que ela tenha o bom gosto de não querer se parecer comigo, pelo menos enquanto eu estiver no necrotério), palidíssima, finalmente sem nenhuma maquilagem.  Papai, ligeiramente ofegante, com um lenço branco em volta daquele pescoço bovino, parece estar à beira de um enfarte. Tia Bice, seca e antipática, não perde um detalhe (que diabo ela veio xeretar aqui, se ela nunca me aturou?). Ele, de jeans e camiseta (não queriam que Ele entrasse, mas Ele contestou, resoluto: "Ou vocês me deixam vê-la ou me mato aqui mesmo!"). Eles abrem alas e, com respeito, o observam passar. O homem de avental branco levanta o lençol. Meus cabelos se espalham suavemente sobre o mármore branco; foram lavados para que fosse removido o sangue seco e agora brilham sobre o mármore como se fossem seda dourada. Meu rosto está pálido e sereno, sem espinhas (acho que os mortos não têm espinhas). O silêncio se enche de soluços.
O livro fez um sucesso imenso quando publicado por aqui, no início dos anos 1980, que foi quando o li pela primeira vez. O livro se apresenta como o diário íntimo de dois adolescentes, Rocco e Antônia, que vivem em Roma entre 1975 e 1976, e são ligados ao Partido Comunista Italiano. A história do relacionamento dos dois, com idas e voltas, às vezes parece uma Sessão da Tarde, mas as cenas de sexo são sempre descritas de maneira explícita. E, por mais que as questões sociais pareçam datadas para o leitor de hoje, o livro serve como uma introdução ao pensamento da esquerda italiana nos anos 1970, uma época que me interessa bastante. *** Também nos anos 1980 que li pela primeira vez “O mundo pecaminoso que vivi”, de Mylène Demarst. Publicado pela Luzeiro Editora e com 143 páginas, o livro se declara como uma história real, sobre as aventuras sexuais da autora, que na verdade seria uma importante atriz francesa de cinema – e na edição consta até o nome do tradutor, um tal de Rubens F. Lucchetti. Mais do que isso, o livro seria a continuação de outra edição de memórias sexuais da autora, chamado “Confissões de uma Estrela”. Mas tudo isso, ao que tudo indica, é falso. Mylène Demarst deve ser uma autora (ou autor) brasileira, já que não há nenhuma menção deste nome no Google fora daqui – e mesmo em pesquisas brasileiras, a autora só aparece em dissertações sobre livros censurados, como “ESCREVER É SUBVERSIVO: Censura a livros eróticos e pornográficos na Ditadura Civil-Militar Brasileira.”, de Julina Belinaso[1]. O livro é razoavelmente bem escrito, as aventuras da “atriz” são meio exageradas, mas nada que comprometa muito. E o final apresenta o texto de “A iniciação de Eugênia”, uma “peça em um ato, inspirada no Marquês de Sade”. Conforme apresentado em “O mundo pecaminoso que vivi”, a peça “foi encenada no Teatro Royal, de Budapest (sic)”. Duvido que ela tenha sido encenada! Segue o trecho final do capítulo 4 do livro de Mylène Demarst:
Inopinadamente, ele atirou-se sobre nós. Primeiro atacou-me, beijando-me o púbis e a vagina, depois Christine, fazendo o mesmo. Desabotoei os botões da frente de suas calças e comecei a acariciar e excitar com beijos lúbricos o seu membro. Aos poucos ele foi endurecendo e principiei a masturbá-lo enquanto me oferecia toda aberta, para o contato manual de Carl, que beijava os seios de Christine ou sugava-os, e com as mãos trabalhava avidamente nas nádegas da moça. Assim permanecemos naqueles deliciosos contatos de mãos e bocas. É uma das coisas mais maravilhosas que se pode imaginar: assim, gozamos profundamente, muito mais do que no coito. Atravessamos vários espasmos, mas ninguém, nenhum dos três, arredava pé. O odor de sexo excitava-nos muito mais. Completamente esgotados, caímos no tapete e acordamos algumas horas mais tarde. E tudo se renovou. No auge da orgia, Carl se desprendeu de nós e foi até o telefone. Falou alguma coisa. Depois, voltou para os nossos carinhos. Daí meia hora, chegavam três rapagões de físico atlético. Carl recebeu-os alegremente. Nós estávamos completamente nus; imediatamente, eles também se despiram. Bebemos uísque puro e nos entregamos à mais depravada das uniões sexuais que pode haver. Eu sentia que estava sendo penetrada por trás por um membro enorme, enquanto tinha o membro de Carl entre meus lábios e sugava-o deliciosamente. Uma mão acariciava-me a vagina.
*** "Tudo o que você não queria saber sobre sexo", de Adão Iturrusgarai e Mirian Goldenberg (Record, 2005), “se propõe a desvendar e discutir a sexualidade de uma forma leve, mas, ao mesmo tempo, bastante informativa e provocadora”. O livro tem cartuns do autor e questionamentos da autora, e tem momentos mais e menos interessantes. Alguns cartuns são bons, como este, abaixo: *** [1] BELINASO, Juana. Escrever é subversivo: censura a livros eróticos e pornográficos na Ditadura Civil-Militar Brasileira. 2020. 120 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquivologia) – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/229628. Acesso em: 23 jun. 2025.
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Livros que minha mãe amava: 9. “Pastoral Americana”, de Philip Roth
Literatura
Livros que minha mãe amava: 9. “Pastoral Americana”, de Philip Roth
15 de junho de 2025 at 14:38 0
No final dos anos 1990, minha mãe comentou que seus dois escritores preferidos, Philip Roth e John Updike, haviam escrito espécies de épicos sobre a vida americana: “Pastoral Americana” (Planeta DeAgostini, 480 páginas, tradução de Rubens Figueiredo) e “Na Beleza dos Lírios”, respectivamente. Já na época, era impressionante como dois grandes nomes da literatura publicaram obras tão ambiciosas no mesmo ano, 1997. Minha mãe gostou mais de “Pastoral Americana”, de Philip Roth; eu, de “Na Beleza dos Lírios”. Para mim, o livro de John Updike era mais suave, otimista, e trazia um espaço para a fé em Deus – eu estava me convertendo, aos poucos, na época. Já a obra de Philip Roth era grosseira, pessimista, amarga. Eu não gostava do autor naquele tempo, e minha mãe sempre insistia para que eu lesse os livros dele. Eu reconhecia que eram tão bem escritos que acabava por lê-los rapidamente, mas achava os temas muito grosseiros (hoje, até acho meio engraçado comentar sobre isso, mas é quase certo que ele não recebeu o Prêmio Nobel por sua crueza excessiva). De lá para cá, virei fã incondicional de Philip Roth e resolvi reler recentemente “Pastoral Americana” numa edição que minha mãe comprou bem depois de nós dois termos lido as duas obras-primas lançadas originalmente em 1997. Que choque! O livro conta a história de Seymour "Sueco" Levov, um homem que personifica o "sonho americano" em sua versão mais idealizada – atleta de sucesso, empresário e pai de família. No entanto, sua vida é violentamente desestabilizada quando sua filha se radicaliza politicamente durante a Guerra do Vietnã e comete um ato terrorista. Judeu, o "Sueco" tenta se adaptar a tudo e a todos: à vida americana e a seus costumes, a seu pai dominador e inflexível, à sua filha perturbada e agressiva, e à sua mulher linda (ex-miss Newark), católica e de comportamento dissimulado. Ele parece, no início do livro, um sujeito alienado e feliz. Quanta ilusão! Com quase 500 páginas, o livro é um profundo mergulho nos Estados Unidos dos anos 1950 em diante. Um aspecto importante da obra é a desindustrialização, que começou a se acentuar no final dos anos 1960. As fábricas começavam a fechar ou a se mudar para outros lugares em busca de mão de obra mais barata e menos regulamentada. Isso levou ao declínio das cidades industriais como Newark (em Nova Jersey), à perda de empregos e à erosão do senso de comunidade e propósito para muitos trabalhadores. A desindustrialização, para Roth, não é apenas um fenômeno econômico, mas um processo que desmantela a estrutura social e moral de uma nação. A perda da base industrial, que sustentava uma certa ordem e um conjunto de valores, abriu espaço para as ambiguidades e a "fúria" de passeatas e protestos que levaram à desilusão geral do "sonho americano". É fato conhecido que Donald Trump se elegeu em 2016  e em 2024 com os votos dos estados do chamado "Cinturão da Ferrugem" (Rust Belt) – como Pensilvânia, Ohio, Michigan, Wisconsin e partes de Nova York e Illinois – onde uma enorme quantidade de trabalhadores sofreu os terríveis efeitos da desindustrialização americana. Nos trechos em que Philip Roth descrevia com a crueza e o detalhismo de sempre os efeitos da fuga de empregos industriais na cidade de Newark, no estado de Nova Jersey, eu só conseguia pensar comigo: a eleição de Trump começou aqui! Pretendo reler “Na Beleza dos Lírios”, mas, mesmo antes de relê-lo, posso afirmar sem nenhuma dúvida de que minha mãe estava certa e que “Pastoral Americana” é o melhor dos dois grandes romances. *** Foto que acompanha o texto obtida no site da revista New Yorker. *** Se você estiver interessado em ler este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu email.
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Helena Morley e George Orwell – Dois livros de memórias muito diferentes
Literatura
Helena Morley e George Orwell – Dois livros de memórias muito diferentes
4 de maio de 2025 at 13:33 0
Helena Morley era uma menina de treze anos, vivendo em Diamantina (MG) e que, estimulada pelo pai, começou a escrever seu diário em 1893. Em 1962 ele foi publicado com o nome de “Minha vida de menina” (Companhia de Bolso, 325 páginas). O inglês George Orwell, o grande escritor de “1984” e “A revolução dos bichos”, viveu como subempregado e até como mendigo (não está muito claro para mim se por alguma experiência literária ou por pura necessidade) e contou suas experiências em “Na pior em Paris e em Londres” (TriCaju, 224 páginas, tradução de Débora Isidoro, publicado originalmente em 1933). Dois livros de memórias escritos com cerca de trinta anos de diferença, mas quanta diferença! “Minha vida de menina” é doce, alegre, engraçado, e “Na pior em Paris e Londres” é chocante e pesado, a começar pelo título. Em 1893, quando começa o diário de Helena Morley, a escravidão tinha sido abolida no Brasil apenas quatro anos antes, e a República, proclamada há três. Vivendo em Diamantina, a menina descreve uma vida muito próxima daquela do Império: é fascinante, para o leitor de hoje, saber detalhes de como os moradores iam de um lugar para outro, o que comiam, quais eram as suas diversões, como era intensa a sua vida social. Filha de um inglês com uma brasileira, é evidente para o leitor que Helena Morley não tinha racismo nenhum, já que tratava os negros como tratava os brancos; por outro lado, nota-se facilmente a condescendência com que os negros eram tratados pelos brancos, e como o ex-escravizados, frequentemente sem condições de vida melhor, continuavam morando nas propriedades dos antigos donos para os quais trabalhavam. Mas “Minha vida de menina” é mais do que um importante documento histórico: os comentários da adolescente são divertidos, vívidos, e as considerações sobre as muitas pessoas com as quais convivia são sempre agudos e inteligentes. Não à toa, grandes escritores como George Bernanos, Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa e Elisabeth Bishop (que chegou a traduzir o livro para o inglês) eram fãs do livro. George Orwell trabalhou como assistente de cozinha em Paris, e descreve com grande detalhe como era intenso e desumano o ritmo de trabalho, e como o salário mal dava para viver. Ele tem uma proposta de um amigo para trabalhar em Londres, mas, quando chega lá, descobre que a vaga seria aberta apenas alguns meses depois de sua chegada. Logo em seguida ele é assaltado, fica sem reserva financeira nenhuma e vive como mendigo: conhece albergues e restaurantes para desabrigados (em alguns dos quais ele deve, para seu grande desgosto, rezar na capela para receber o alimento) e tem que – junto com outros mendigos – se deslocar incessantemente pela cidade para não ser preso por vadiagem. É chocante sua descrição do que sentia quando estava com fome e não tinha condições de conseguir comida. Sou fã de George Orwell. Não só “A Revolução dos Bichos” e “1984” são obras-primas fascinantes, mas seus ensaios literários são sempre brilhantes, com estilo preciso e límpido (já comentei aqui sobre alguns livros do autor). Impressionante e perturbador, “Na pior em Paris e Londres” só me fez aumentar a admiração que tenho pelo autor. *** Quem estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.
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“O belo sexo dos homens”, de Florence Ehnuel
Literatura
“O belo sexo dos homens”, de Florence Ehnuel
3 de maio de 2025 at 21:14 0
"Nesse sentido, e desde que ele não exiba o sexo de modo brutal ou vulgar, todo homem guarda em si magia e mistério, uma capacidade secreta e acrobática que provoca meu respeito e toda a minha admiração. Apenas esse espetáculo já é satisfatório. Apenas essa ideia já é enfeitiçante. Apenas esse mistério já seduz. Evidentemente, se o homem é grosseiro e faz uma demonstração exibida, é ridículo. Por que ser grosseiro quando já se é grande? Por que ser exibido quando se tem a capacidade, sem gesto suplementar, de apresentar-se e de oferecer-se amplamente? Isso faz a grandeza cair no grotesco, e a oferta, numa vā demonstração. É pura e simplesmente sacrilégio. Mas quando o espetáculo é verdadeiramente apresentado sem excesso de vaidade ou pudor, então eu acredito que não haja nada mais encantador. Acredito que não haja presente mais bonito. É até mesmo o presente por excelência. Que gesto mais bonito pode me ser dirigido, e ainda por cima com modéstia, que o de apontar-me como aquela que o motiva? Essa superação do corpo do homem por si mesmo, esse transbordamento de sua carne, essa concentração manifesta de sua energia, essa circulação de seu fluido capaz de bloquear seu refluxo, assim como a retração do prepúcio, o descobrimento da glande, a inchação das veias que sulcam, em frisas, os lados, a elevação do membro, tudo isso é tão fascinante, tão exaltante que, quando assisto a isso, só sei dizer: "Que maravilha! Esplêndido! Magnífico!" - do mesmo modo que posso exclamar diante de algumas grandiosas paisagens naturais sobre as quais nada posso dizer ao contemplá-las senão que estou satisfeita, e até embasbacada. Sublime! E se, além disso, posso pensar que tenho alguma influência nisso, nesse processo de multiplicação do pão, nesse afluxo do sangue, nesse vinho que tem a genialidade de correr abundantemente e de se estocar no lugar certo, então eu me sinto profundamente honrada. Encantada em conhecê-lo. Que honra pode ser superior a essa? Que honra maior?"
(in "O belo sexo dos homens", de Florence Ehnuel (Objetiva, 112 páginas, traduzido por Véra Lucia dos Reis, publicado originalmente em 2008). Como o próprio título já entrega, o livro é uma ode ao pênis.)
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“A garota que só pensava naquilo” e “Minha vida na horizontal”
Literatura
“A garota que só pensava naquilo” e “Minha vida na horizontal”
2 de maio de 2025 at 21:31 0
"A garota que só pensava naquilo - confissões de uma sedutora", de Abby Lee (Prestígio Editorial, 224 páginas, tradução de Vera Whately, publicado originalmente em 2006) e "Minha vida na horizontal - aventuras sexuais de uma noite só" (Bertrand Brasil, 267 páginas, tradução de Sibele Menegazzi, publicado originalmente em 2005) têm muito em comum: foram escritos na mesma época, são autobiográficos e descrevem sem nenhum pudor a vida sexual ativa de suas autoras. Mas, enquanto Chelsea Handler é uma humorista de stand-up de sucesso, Zoe Margolis (o nome real de Abby Lee) contou que perdeu suas oportunidades de emprego na indústria cinematográfica quando sua real personalidade foi revelada, e hoje escreve como uma mortal comum no X, aparentemente sem grande sucesso.
"A garota que só pensava naquilo" foi originada de um blog que foi descontinuado em 2018, com o mesmo nome do livro. Em uma de suas últimas postagens, ela conta que finalmente estava ficando em paz com seu corpo. O livro é muito bem escrito, e suas descrições de desejo sexual são bastante explícitas. Já "Minha vida na horizontal" tem como ponto forte o humor, e ri alto em diversas passagens do livro - mas desejo sexual também é descrito de maneira bastante forte e explícita. E no final de ambos os livros as autoras chegam à conclusão que, ao invés de uma vida promíscua, elas gostariam mesmo é de um relacionamento estável.
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Mario Vargas Llosa (1936-2025)
Literatura, Obra Literária
Mario Vargas Llosa (1936-2025)
14 de abril de 2025 at 10:51 0
Na adolescência eu tinha variado entre a esquerda radical (comunismo), a esquerda liberal e o anarquismo. Cheguei a fazer uma micro-tatuagem com o símbolo do anarquismo: tinha livros do Proudhon, do Bakunin, do Kropotkin e do Malatesta. Achava que o governo — qualquer governo — é a fonte de todos os males. Quando da primeira eleição para presidente no Brasil em muitos anos, eu tinha votado nos candidatos de esquerda, não porque ainda tivesse qualquer ilusão quanto ao sucesso do comunismo/socialismo, mas porque eu tinha uma questão incômoda e não respondida: “Por que diabos o capitalismo dá certo nos países da Europa e não aqui?” Enquanto ninguém me respondia a essa pergunta, eu votava nos candidatos da esquerda porque a pobreza aqui do Brasil é uma coisa horrorosa. Mas eu me interessava muito pelo assunto, vivia numa verdadeira ebulição intelectual atrás de alguém que me desse uma resposta para a questão acima. Resposta esta que acabou vindo no “Programa Henry Maksoud e Você”, em que o apresentador entrevistava o escritor Mario Vargas Llosa. Segundo este, os países latino-americanos não chegam a ter um capitalismo desenvolvido, mas um mercantilismo, onde os governantes se unem com os grandes empresários num jogo de interesses. O verdadeiro capitalismo significa concorrência, coisa que, segundo o então futuro Prêmio Nobel de Literatura, não existe aqui na América Latina. Em outras palavras, o problema do país não é excesso de capitalismo, mas a falta dele. *** Se sou um liberal de centro-direita até hoje, devo boa parte disso à influência e à chancela de Mario Vargas Llosa, conforme o trecho acima, reproduzido do meu livro “Rua Paraíba”. Mas o grande escritor peruano, falecido ontem, era muito mais do que isso para mim. Li com grande prazer várias de suas obras, “Conversa na Catedrak”, “Pantaleão e as visitadoras”, “Tia Júlia e o escrevinhador”, “Elogio da madrasta”, “Quem matou Palomino Molero?”, “Travessuras de menina má”. Tenho aqui os “Cadernos de Dom Rigoberto”, continuação de “Elogio da madrasta”, e logo devo ler. Só deixei dois no meio: “A guerra do fim do mundo”, uma espécie de releitura de “Os sertões”, de Euclides da Cunha, porque achei meio chato, e “A festa do bode”, uma obra-prima absoluta sobre o ditador dominicano “Rafael Leonidas Trujillo Molina - o "Bode" - e a implacável ditadura que implantou no país durante seus 31 anos de governo”, segundo o site da Amazon. Prova de que tem épocas em que a gente não está muito a fim de ler mesmo. Descanse em paz, mestre. (Foto que acompanha o texto obtida no Portal Uol.)
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Sobre Trilogias e Trios
Cinema, Literatura, Música
Sobre Trilogias e Trios
23 de março de 2025 at 17:31 0
É impressionante como, pelo menos para mim, em termos de qualidade literária as trilogias “MaddAddão” de Margaret Atwood, e “Os caminhos da liberdade”, de Jean-Paul Sartre, são similares. Citando primeiro as obras da escritora canadense, e depois as do existencialista francês, ambas começam com uma obra-prima - “Oryx e Crake” e “A idade da razão” -, continuam com livros ruins - “O ano do dilúvio”, sobre o qual comentei aqui, e “Sursis”, simplesmente ilegível - e terminam com algo um pouco melhor, mas mesmo assim nada demais: “MaddAddão”, lido recentemente (Rocco, 448 páginas, traduzido por Márcia Frazão) e “Com a morte na alma”. Também as trilogias têm em comum o fato de eu terminado de lê-las me irritando por continuar a leitura – com um pouco de “morte na alma”, eu diria. *** Estava navegando na internet dia desses quando vi uma foto do cartaz de “MaXXXine” (que é a foto que acompanha este texto), filme de 2024 do diretor Ty West lançado em 2024 (104 min), e fiquei curioso por assistir. Acabei descobrindo que o filme era a terceira parte de uma trilogia do mesmo diretor, chamada “X”, também formada por “X – a marca da morte”, de 2022 (105 min), e “Pearl”, também lançado em 2022 (102 min), e assisti aos três recentemente, todos pela Prime Video. Mia Goth - que é uma atriz britânica filha de uma brasileira e que viveu por aqui parte de sua juventude, e é neta da importante atriz Maria Gladys - não só é atriz principal dos filmes, como atuou como corroteirista e coprodutora de em alguns deles. “X – a marca da morte” fala sobre um grupo que vai rodar um filme pornográfico numa casa numa fazenda no interior dos Estados Unidos – e é lá que coisas estranhas começam a acontecer. Mia Goth faz ao mesmo tempo a “mocinha” – por falta de uma palavra melhor - e a vilã do filme, e é como a personagem malvada que ela retorna em “Pearl”, uma prequel que conta a juventude dela. Finalmente, “MaXXXine” é a continuação de “X – a marca da morte”, retomando a história da “mocinha” do primeiro filme da trilogia. Confesso que meu conhecimento sobre terror gore é basicamente inexistente, mas gostei muito da trilogia “X”. Mia Goth é estranha, sensual e misteriosa, e é o grande destaque dos filmes – não à toa, Martin Scorcese e Stephen King confessaram admiração por seu trabalho. *** Para que terminar este texto com o disco com o álbum “Piano Trios Nos. 1 Op.8 & 2 Op. 87”, de Johannes Brahms, com o violinista Augustin Dumay, o violoncelista Juan Wang e a pianista Maria João Pires? Não sei, na verdade. Afinal de contas, são dois trios para piano, e não trilogias! Sei lá. Acho que é porque eu queria comentar que, nestas obras, Johannes Brahms não cansa o ouvinte com tanta beleza: quando você acha que um trecho não pode ser mais lindo, ele vem com outra coisa mais maravilhosa ainda. Não canso de ouvir, há anos já. E a pianista portuguesa Maria João Pires não parece deste mundo, de tão perfeito que é o seu toque. *** Se você quiser receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.
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