Robertson Frizero

Exercícios Literários, Impressões
Altruísmo
24 de janeiro de 2020 at 15:25 0
Richard Dawkins - Wikipédia

Acho que foi no livro “Mero Cristianismo” que o escritor e ensaísta inglês CS Lewis (o mesmo de “Crônicas de Nárnia”) sugeriu o altruísmo como uma prova – ou, no mínimo, um indicativo - da existência de Deus. Se minha memória não está me pregando peças, CS Lewis defendia que não há nenhuma razão na Natureza para que alguém, numa enchente, pare seu carro e, no meio da chuva, arrisque a própria vida saltando num rio para tentar salvar algum desconhecido se afogando. E todos sabemos que seres humanos tomam atitudes semelhantes.

Por outro lado, a manutenção da vida pressupõe egoísmo, e é por isso que os leões que derrotam antigos chefes de bando matam os filhotes dos derrotados: assim, somente o DNA do vencedor é mantido para a posteridade. Exemplos de egoísmo na Natureza são abundantes e são a base, por exemplo, do livro do famoso Richard Dawkins, chamado de  “O Gene Egoísta” (que preciso confessar que não li, ao contrário do “Mero Cristianismo” citado acima), no qual foi criado o termo “meme”, inclusive, mas esta é outra história.

Voltando a CS Lewis, para o escritor inglês o altruísmo, por não fazer sentido de um ponto de vista evolutivo, deve ser causado por um chamado vindo de um lugar mais alto – do Divino. A explicação é mais complexa que isso, mas acho que dá para entender o sentido do que o autor das “Crônicas de Nárnia” quis dizer com seu argumento.

Por outro lado, biólogos evolucionistas têm defendido que, por ser uma forma de seleção de grupo, o altruísmo também tem seu pé mais ou menos fincado nas teorias de Darwin (ver, por exemplo, a coluna "Animais sociais", de Hélio Schwartsman, da Folha de São Paulo de 26/04/2012).

Eu mesmo sou crente em Deus, acredito que Ele atua em todo universo, mas não acho que algum dia alguém venha a “provar” Sua existência de maneira inequívoca.

Cada um escolhe o que quer.

(Exercício literário proposto pelo Robertson Frizero: escreva uma crônica de até 500 palavras sobre o tema ALTRUÍSMO. O roteiro sugerido para escrita é este:

  • uma pequena história
  • a explicação do conceito
  • o que, na sua opinião, leva as pessoas a serem altruístas
  • o momento atual do mundo
  • o que precisa mudar - resgatando a história inicial)
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Literatura
“Longe das Aldeias”, de Robertson Frizero
20 de outubro de 2019 at 14:20 1
fonte: Facebook

São tantas as qualidades de “Longe das Aldeias”, de Robertson Frizero (77 páginas, Terceiro Selo, lançado em 2015), que é até meio difícil saber por qual começo.  De todo modo, vamos lá.

A primeira coisa que me chamou a atenção no romance é o não dito: é impressionante a quantidade de coisas que não são explícitas. Li “Longe das Aldeias” com a sensação de que estava numa espécie de labirinto, em que alguns caminhos levavam a lugar nenhum, enquanto outros, efetivamente, faziam aumentar a compreensão de onde eu estava.

Acho que o segundo aspecto que me chamou a atenção no romance é o fato de ele ser exatamente o contrário do que eu esperava: conheci Robertson Frizero num grupo (de e-mails, estávamos no fim dos anos 90!) sobre a banda portuguesa Madredeus, que eu amava incondicionalmente, hoje um tantinho a menos, e que o Robertson continua amando do mesmo jeito de sempre (sou meio traidor para música, meus amigos sabem disso). 

Bem, o negócio é que um livro chamado “Longe das Aldeias”, de um escritor fã de Madredeus, na minha cabeça deveria ser um livro bucólico, que trataria da beleza e da melancolia de uma aldeia em Portugal, cheio de saudade, mar, e amor – temas caros à grande banda portuguesa.

Que nada! “Longe das Aldeias” fala de guerra, de genocídio, de sofrimento e famílias destroçadas – e tudo daquela maneira elusiva comentada acima.

E o romance é grande literatura não apenas por causa do comentado acima: a solução que Robertson Frizero dá para os conflitos é brilhante, digna dos grandes mestres. 

Meses depois que acabei de ler esta pequena obra-prima, ainda fico impressionado em com o quanto de coisas o autor conseguiu colocar em apenas 77 páginas.

E, finalmente, você, que me lê, deve estar achando que não falei nada sobre o enredo, né? Fato. É uma homenagem: uma resenha elusiva para uma obra-prima elusiva!

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