Chamem de mania (ou TOC), mas por um longo tempo minha obra literária – fora o que escrevo no site fabriciomuller.com.br, composto de comentários sobre literatura, música, cinema e outros assuntos – tinha textos de aproximadamente cinquenta páginas no formato A4. Assim foram compostos minha obra de estreia, “Um amor como nenhum outro”, de 2017 (Schoba); as quatro histórias de “O verão de 54 (novelas)”, de 2019 (Artêra); e os três livros que compõem “Rua Paraíba” (Café do Escritor), de 2020.
Uma mania (ou TOC) também presente era o objetivo de escrever histórias com estilos muito diferentes entre si: “Verão de 54 (novelas)” tem uma história em metalinguagem (“O Verão de 54”), um policial em formato de diálogo (“Morrissey”), uma história convencional (“Conversão”) e uma história para adolescentes (“Sorry”). Enquanto eu escrevia as histórias de “O verão de 54 (novelas)”, e no mesmo formato de cinquenta páginas em A4, também terminei as versões iniciais de um livro de poesias (“Sempre”), uma história de delírio metafísico-literário (“deus um delírio” – para fins de precisão, é importante dizer que foi o único em que não consegui chegar nem perto das cinquenta páginas) e uma novela erótica (“Marina”). Minha ideia inicial era publicar os três livros – cujas versões finais estão nesta coletânea – separadamente, já que, para mim, não combinavam com “O verão de 54 (novelas)”.
A mania (ou TOC) acabou quando vi uma entrevista com João Ubaldo Ribeiro, que disse – cito de memória – que tinha escrito “Viva o Povo Brasileiro” para provar a todos que conseguia fazer um romance enorme, como os alemães. Resolvi imitá-lo, e assim surgiu “3040”, com cerca de 450 páginas, já publicado, livro que teve a mentoria da grande Juliana Frank.
À medida que a longa escrita de “3040” transcorria, e como a mania (ou TOC) das cinquenta páginas A4 já tinha terminado, pensei em escrever um livro de contos.
Eu já tinha um conto, “A mulher de César”, publicado numa coletânea (“Ser: Antologia Emcontos”, da EntreCapas, lançada em 2019), coordenada pelo grande Robertson Frizero, para quem eu tinha escrito alguns microcontos num grupo de literatura no WhatsApp – que são a maioria dos contos muito curtos desta coletânea. Tinha também o já citado “Marina” (ainda não pensava em incluir “Sempre” e “deus um delírio”, que não são contos).
Enfim, conversei com a Juliana Frank, que me ajudou muito nos demais contos presentes aqui, principalmente me incentivando a incluir elementos fantásticos em histórias onde eles não ocorriam. Ela me ajudou também a diminuir de maneira significativa o número de páginas de “Marina”.
A coletânea ficou pronta alguns anos atrás. Há poucos dias, resolvi finalmente incluir “Sempre” e “deus um delírio”, já que a coletânea já é estranha o bastante – duas outras histórias estranhas não fariam assim tanta diferença.
Pela temática “herege”, pelo erotismo e pela esquisitice generalizada, muitas histórias aqui poderão assustar quem me conhece. Afinal de contas, sou um tranquilo engenheiro civil – profissão da qual retiro meu sustento – abstêmio, católico praticante, casado com a mesma mulher há quase 35 anos e pai de uma psicóloga de sucesso. A única “esquisitice visível” na minha vida é escrever textos mais ou menos convencionais sobre literatura, música, cinema, história e outros assuntos no meu site.
Mas gosto de pensar que minha literatura não tem nenhuma amarra, seja moral, religiosa ou política. Se não for assim, não tem graça.
Pelo menos, não para mim.
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A ilustração que acompanha este texto foi feita pelo Gemini para o conto “Boneca”.
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