História

O grupo terrorista Baader-Meinhof: 1. Introdução
História
O grupo terrorista Baader-Meinhof: 1. Introdução
15 de novembro de 2025 at 12:23 0

Para uma criança que acompanhava o noticiário nos anos 1970, o nome Baader-Meinhof tinha algo de assustador e algo de charmoso. Assustador porque era um grupo terrorista alemão de extrema-esquerda, e charmoso porque, pelo menos para mim, remetia a um país desenvolvido, a Alemanha — de onde veio, aliás, meu sobrenome (tão popular por lá quanto Silva por aqui). Embora eu tenha acompanhado o sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas, a força do Baader-Meinhof estava numa certa violência e ameaça difusa, já que seus atos terroristas – pelo menos para a criança que eu era – eram muito menos claros do que o ocorrido na Itália.

Um aspecto irônico desta história é que “Baader-Meinhof” não era o nome que o grupo terrorista aplicava a si mesmo, mas foi dado pela imprensa, depois de uma fuga espetacular ocorrida em 14 de maio de 1970. Naquela ocasião, o líder do grupo, Andreas Baader, foi resgatado da custódia policial na biblioteca de um instituto em Berlim, pulando pela janela junto com outros ativistas e a jornalista Ulrike Meinhof — que havia usado o pretexto de uma entrevista para facilitar o resgate, executado por cúmplices armados. Se fosse batizar o grupo pelo nome de seus líderes, ele deveria se chamar “Baader-Ensslin” — e me refiro aqui à namorada de Andreas Baader, Gudrun Ensslin, que era praticamente tão importante nas decisões quanto ele. De todo modo, o grupo se autodenominava RAF (Rote Armee Fraktion, ou seja, Fração do Exército Vermelho), uma provável provocação com o nome da Real Força Aérea Britânica, que tem o mesmo acrônimo (Royal Air Force).

O Baader-Meinhof fez uma série de incêndios e explosões em prédios privados e públicos, roubos a banco e sequestros, e eram considerados tão perigosos – já que normalmente recebiam a tiros os policiais que tentavam prendê-los – que foi construído um prédio novo dentro da Prisão de Stammheim com um tribunal no andar térreo e uma unidade de detenção de alta segurança (células) nos andares superiores, apenas para o julgamento dos terroristas.

O grupo foi tão comentado pelo mundo todo que até um viés cognitivo – a ilusão de frequência – no qual uma pessoa percebe um conceito, palavra ou produto específico com mais frequência após ter tomado conhecimento dele recentemente, é chamado de “Fenômeno Baader-Meinhof”. O termo foi cunhado em 1994 por um leitor de um jornal em St. Paul, Minnesota (EUA), que escreveu uma carta dizendo que havia lido sobre o Grupo Baader-Meinhof e, logo em seguida, o viu mencionado em outro lugar. Outros leitores compartilharam experiências semelhantes, e o nome “pegou” para descrever a Ilusão de Frequência. Mesmo a banda Legião Urbana tem uma música chamada “Baader-Meinhof Blues”, o que ajuda a mostrar como o nome do grupo ficou gravado no inconsciente coletivo. *** O Baader-Meinhof, assim como o povo etrusco, o Império Wari, o Período Permiano, os Papas de Avignon e São Luís de Tolosa, é um dos meus interesses estranhos. Pretendo escrever aqui ainda alguns textos sobre o grupo terrorista alemão – o próximo, já engatilhado, é sobre a supracitada música “Baader-Meinhof Blues”. ***

(Foto que acompanha o texto: Andreas Baader e Gudrun Ensslin. Crédito da foto: 31.out.1968/Associated Press, obtida na Folha de São Paulo. Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)

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O Grande Jogo e a Galinha dos Ovos de Ouro
História
O Grande Jogo e a Galinha dos Ovos de Ouro
9 de novembro de 2025 at 13:50 0
No ano (2006) em que escrevi textos semanais sobre literatura (e um pouco de música) no Caderno Dominical do extinto jornal O Estado do Paraná, graças a meu grande amigo Abonico Ricardo Smith, acabei tendo contato com livros que dificilmente leria em condições “normais”. De alguns deles eu gostei muito, como “Cidade dos Anjos Caindo“ (comentado aqui na semana passada) e os dois citados abaixo, na reprodução revisada da resenha que publiquei no jornal na época. O livro sobre caviar, principalmente, me descortinou todo um universo que eu não tinha nem ideia que existia. Recomendo fortemente, até hoje, mesmo que muita coisa deva estar desatualizada.

Não é necessário ser fã das histórias de James Bond para se sentir fascinado com “O grande inimigo - a história secreta do confronto final entre a CIA e a KGB“, escrito pelo ex-agente da CIA Milt Bearden e pelo jornalista James Risen (Objetiva, 569 páginas), livro que narra a guerra de espionagem entre os Estados Unidos e a União Soviética, no final da existência desta última, entre os anos de 1985 e 1991Bearden era chefe da Divisão Soviética e do Leste Europeu quando da Queda do Muro de Berlim, em 1989 , e sua participação no livro — contando inclusive os fatos que ele vivenciou em primeira pessoa — ajuda a tornar “O grande inimigo“ um documento histórico de grande importância. O livro analisa três pontos principais:
  1. O primeiro é a perda, pela CIA, de diversos espiões que ela controlava na URSS.
  2. O segundo é a ajuda que os americanos deram aos guerrilheiros que lutavam contra a ocupação soviética no Afeganistão — onde ficamos sabendo em detalhes que realmente a CIA armou, entre muitos outros, aqueles que fundariam o regime talibã anos mais tarde.
  3. E, finalmente, a queda dos regimes comunistas do Leste Europeu, que pegou a CIA tão de surpresa que seus agentes tinham que apelar para a CNN para saber das novidades.
Dada a importância do primeiro destes pontos no livro, vamos nos estender um pouco mais sobre ele. Se, em décadas anteriores à década de 80, havia um certo equilíbrio na guerra de espionagem entre URSS e EUA, a partir de 1985 a grande quantidade de perdas de agentes duplos russos que trabalhavam em segredo para os americanos começou a fazer o jogo pender para o lado soviético. Alguns agentes ocidentais de patente razoavelmente alta começaram a delatar à KGB quem eram boa parte dos russos traidores. Estas famosas “perdas dos anos 80“, como não poderia deixar de ser, prejudicaram imensamente o trabalho da CIA. Os diversos capítulos que tratam deste assunto são, de longe, a parte mais fascinante do livro : encontros secretos em lugares ermos, malas de dinheiro entregues a agentes duplos dos dois lados, condenações de traidores à morte, todo o tipo de grampo telefônico, espionagem militar, impressionantes códigos de despistamento, e até mesmo o canal secreto de comunicações entre a KGB e a CIA, entre muitos outros detalhes do jogo de espionagem, são mostrados com clareza e brilhantismo. “O grande inimigo“ é muito melhor do que qualquer romance de espionagem: senão por outro motivo, é porque aqui os fatos aconteceram realmente. Além de tudo isto, transparece no livro o grande respeito — e, até mesmo, admiração — que os agentes da CIA tinham para com seus oponentes da KGB. Isto, somado à franqueza com que são mostrados os pontos fracos da Defesa americana, torna o livro bastante verossímil.

A extinta União Soviética também tem papel preponderante no ótimo “Caviar - a estranha história e o futuro incerto da iguaria mais cobiçada do mundo“, da jornalista americana Inga Saffron (Intrínseca, 318 páginas). O livro é um completo painel sobre o caviar:
  • Analisa, entre outros assuntos, a história do seu consumo pelos humanos.
  • Descreve as características que fazem com que o esturjão, o peixe de cujas ovas se faz a iguaria, seja uma espécie de fóssil vivo, já que ele pouco se modificou nos últimos 250 milhões de anos (segundo Saffron, por todas as normas usuais da evolução ele já deveria estar extinto).
  • Menciona os países em que o esturjão foi ou tem sido pescado (em muitos deles o esturjão foi extinto ou está em processo acelerado de extinção).
  • Conta a história das principais empresas que comercializam ou comercializaram o caviar.
O assunto tratado com maior profundidade é a história da pesca do esturjão na URSS, o país que era o maior e melhor produtor de caviar do mundo (hoje ultrapassado pelo Irã) — e o que aconteceu com a pesca por lá quando o regime comunista acabou. Segundo Saffron, o rígido sistema político dos tempos do socialismo conseguia controlar a produção do esturjão, preservando a espécie — até mesmo porque era de grande interesse econômico, por parte dos soviéticos, a venda de caviar para o exterior para a obtenção de divisas em moeda forte. Com o final da União Soviética no início dos anos 90, este cenário mudou completamente: desde então, a pesca clandestina indiscriminada diminuiu sensivelmente a quantidade de esturjões que deságuam no Mar Cáspio (região em que se consegue o melhor caviar do mundo), fazendo com que o peixe chegue a estar em perigo de extinção — para as pesquisas do seu livro, inclusive, Ingrid Saffron chegou a visitar os locais de pesca clandestina na Rússia. Somando tudo, “Caviar - a estranha história e o futuro incerto da iguaria mais cobiçada do mundo“ é um livro muitíssimo bem escrito e fascinante — mas é também um alerta: por cobiça, mas também por necessidade, os russos estão matando sua galinha dos ovos de ouro. E a humanidade toda perde com isto, é claro. (Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail. Imagem que acompanha o texto obtida no Gemini.)
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A Cidade dos Anjos que Caem – O olhar de John Berendt revela a Veneza decadente, charmosa e feita de atuações.
História, Literatura
A Cidade dos Anjos que Caem – O olhar de John Berendt revela a Veneza decadente, charmosa e feita de atuações.
1 de novembro de 2025 at 21:48 0
Veneza é uma cidade em que a maioria dos habitantes se conhece, já que não circulam carros e todos andam a pé na maior parte do tempo. Isso, somado à enorme quantidade de pontes (muitas delas com escadas), faz com que idosos ou pessoas com problemas de locomoção tenham dificuldade de viver por lá. A ausência de automóveis também faz com que a cidade italiana seja bem mais silenciosa do que outras de seu porte. Veneza tem uma grande quantidade de ruelas, o que faz com que até seus moradores às vezes se percam no meio do verdadeiro labirinto formado por elas. Com seus canais, pontes, história e charme, a cidade atraiu para si muitos escritores de primeira linha, como Ezra Pound, Henry James e Robert Browning, que lá moraram durante longos períodos de suas vidas. Os venezianos pensam em si próprios primeiro como venezianos e depois como italianos. Segundo um de seus nobres mais importantes, o conde Girolamo Marcello, “em Veneza estão todos encenando, todos representam papéis, e os papéis mudam. O segredo para se entender os venezianos é o ritmo – o ritmo da lagoa, das marés, das ondas… O ritmo de Veneza é como a respiração. Maré alta, pressão alta: tenso. Maré baixa, pressão baixa: descontraído. Os venezianos não estão sintonizados ao ritmo da roda. Isso é para outros locais, locais com veículos motorizados. Nosso ritmo é o do Adriático. O ritmo do mar”. Ainda segundo o conde, para os habitantes da cidade, as pontes não são vistas como obstáculos, e sim como transições: “passamos por elas bem devagar. Fazem parte do ritmo. São junções entre dois atos no teatro, como mudanças de cenário, ou como a evolução do primeiro para o segundo ato em uma peça teatral”. Para Marcello, “os venezianos jamais falam a verdade. O verdadeiro sentido das nossas palavras é, precisamente, o oposto do que dizem”. Estas e muitas outras informações sobre a lendária cidade italiana são mostradas em "Cidade dos Anjos Caindo" (Objetiva, 380 páginas), de John Berendt, escritor americano na linha do new journalism, a mesma de, por exemplo, Truman Capote e Gay Talese. Como o próprio autor explica, “é um livro de não ficção, mas escrito do ponto de vista de um romancista, usando técnicas literárias que um romancista utilizaria. Você não diz, como um jornalista diria, simplesmente: ‘O homem disse isso e isso’. Você descreve o tipo de olhar, a reação das pessoas no quarto. Então, lê-se o livro como se fosse um romance, mas é tudo verdade” – realmente, se não fosse a advertência inicial de que o livro é de não ficção, seria muito difícil para o leitor desavisado saber que a obra é uma espécie de reportagem. A obra anterior de Berendt, Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, foi um best-seller de enorme sucesso que tratava de uma cidade no sul dos Estados Unidos, Savannah, de maneira similar àquela que foi utilizada para descrever Veneza em Cidade dos Anjos Caindo, com uma diferença fundamental: neste, ao contrário do que foi feito na obra anterior, todos os nomes utilizados são reais. Nas palavras de Berendt, “quando escrevi Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, pensei que estaria fazendo um favor a algumas pessoas ao mudar os nomes delas para preservar sua privacidade. Mas quando o livro foi lançado, muitos dos personagens que haviam recebido pseudônimos me disseram que desejavam que eu tivesse usado seus verdadeiros nomes. Então, desta vez, decidi: nada de pseudônimos”. Em Veneza, o afluxo turístico é tão intenso que em certas épocas do ano os turistas estão na cidade em número muito maior do que os habitantes locais – mas o interesse principal de Berendt está nas pessoas que moram lá. Para escrever "Cidade dos Anjos Caindo" (cujo nome é baseado em uma obra de restauração em uma igreja veneziana em que anjos do teto começaram a cair, o que fez com que os restauradores colocassem uma placa no local com os dizeres: “Cuidado, anjos caindo!”), o autor viveu em Veneza durante períodos de dois a três meses ao longo de nove anos, entrevistando habitantes e pesquisando locais e fatos. São muitos os personagens e fatos reais que aparecem na obra. Um rico poeta e radialista homossexual deixa todos os seus bens para uma família de feirantes, cujos membros muito provavelmente não eram muito íntimos dele. Dois dirigentes de uma fundação americana de ajuda à cidade veem-se numa acirrada disputa de egos. Um casal faz amizade com a amante do falecido poeta Ezra Pound, possivelmente para roubar-lhe documentos de grande valor. O mais importante vidreiro da cidade, um homem sério e calado, vê um de seus filhos traí-lo nos negócios. Em um jantar, todos ficam fascinados com a conversa sobre venenos para ratos de um grande fabricante do produto, que nunca conseguiu vendê-lo para a prefeitura local. Um grande palácio tem uma sala principal tão ricamente decorada que acaba dificultando a sua manutenção, o que faz os seus donos (um dos quais é um homem totalmente maníaco por viagens espaciais) quererem vendê-lo. Mas a principal história do livro trata do incêndio de um dos principais símbolos da cidade, o Teatro Fenice: o autor descreve o que ocorreu no dia da tragédia, as investigações para apurar os responsáveis e a reconstrução do local com grande precisão de detalhes – sem esconder as inúmeras suspeitas de corrupção que foram aparecendo no processo. Extremamente bem escrito, "Cidade dos Anjos Caindo" é um livro de leitura agradável e fluida, que mostra uma Veneza meio decadente, com muitos habitantes cheios de manias – mas inegavelmente charmosa, claro. (O texto acima foi publicado na Revista Dominical do Jornal O Estado do Paraná, em 08 de outubro de 2006. Se você estiver interessado em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail. As imagens acima foram obtidas no Gemini, do Google.)
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Mito e Verdade em Duas Biografias Essenciais – A desconstrução de Rasputin e Nietzsche pelas obras de Douglas Smith e Curt Paul Janz.
Filosofia, História
Mito e Verdade em Duas Biografias Essenciais – A desconstrução de Rasputin e Nietzsche pelas obras de Douglas Smith e Curt Paul Janz.
21 de setembro de 2025 at 11:59 0
Alguns vídeos na internet pintam o monge Grigori Rasputin (1869-1916) como a encarnação do mal. Com uma influência enorme na família imperial russa antes da queda do Império com as Revoluções de 1917, ele é até hoje visto como uma péssima influência para o czar Nicolau II e, principalmente, para sua esposa, a imperatriz Alexandra. No entanto, ele não é retratado de forma tão desfavorável na monumental biografia "Rasputin: Fé, poder e o declínio dos Romanov", de Douglas Smith (Companhia das Letras, tradução de Berilo Vargas, 1128 páginas, ano de publicação original: 2016). Sim, ele era promíscuo, mas muitas das orgias famosas em que participou foram exageradas por seus inimigos. Ao contrário do que se dizia, nada indica que ele tenha tido um caso com a imperatriz Alexandra. Ele foi assassinado, mas muito do que foi dito sobre a sua morte — como ter sobrevivido a vários envenenamentos — é simples exagero. E, finalmente, sua influência nos desmandos do czar foi basicamente nula: Douglas Smith o apresenta como uma voz da razão contra o teimoso, despreparado e arrogante Nicolau II, que quase sempre tomava a decisão errada para o Estado. Mas alguns acontecimentos estranhos, sempre lembrados quando se fala em Rasputin, eram basicamente verdadeiros: ele realmente dizia que, se fosse assassinado, o Império Russo cairia — o que de fato aconteceu. Seu olhar era realmente penetrante e assustador, como se pode ver em fotografias da época. E o mais estranho de tudo é a maneira como ele curava Alexei, o herdeiro do Império Russo, de crises de hemofilia — uma doença totalmente incurável. A documentação de suas curas é tão extensa e confiável que não restou outra opção ao biógrafo Douglas Smith a não ser sugerir que Rasputin, de fato, tinha algum poder sobrenatural.
Se a biografia acima é considerada a “definitiva” do “monge louco” russo, "Friedrich Nietzsche: Uma biografia", de Curt Paul Janz (Vozes, tradução de Markus A. Heidiger, 1648 páginas somando os três volumes, ano de publicação original 1978-1979), é a biografia definitiva do filósofo alemão, que nasceu em 15 de outubro de 1844 e faleceu em 25 de agosto de 1900. Até agora, só li o primeiro dos três volumes, com 660 páginas, mas achei interessante comentar, pois não se sabe quando terminarei a obra completa. Afinal, biografias definitivas, sempre cheias de detalhes, são difíceis de ler rapidamente (pelo menos para mim). O primeiro volume da biografia cobre a infância, a juventude e os anos em que Nietzsche viveu em Basileia como professor de filologia. Ele saiu de lá, aos 35 anos de idade, por problemas de saúde. Dos seus grandes livros, ele só tinha escrito "O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música" e "Humano, Demasiado Humano". Suas obras mais famosas, como "Assim Falou Zaratustra", "Além do Bem e do Mal" e "O Anticristo" serão abordadas no segundo volume, enquanto o terceiro e mais curto volume trata dos anos de sua loucura (1889-1900). Neste primeiro volume que li, a fascinante Lou Andreas-Salomé, sobre a qual eu comentei, nem aparece. Em compensação, a primeira parte fala da sua admiração inicial e do posterior rompimento com o grande compositor Richard Wagner, além de sua vida como professor e do início de suas ideias que revolucionaram a filosofia e até a psicologia. O que mais me marcou, neste primeiro volume, é como Nietzsche sofria com dores de cabeça e dificuldades de visão. É difícil não sofrer junto com ele, nem que seja um pouco! (Imagem que acompanha o texto obtida com o Gemini. Se você estiver interessado em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)
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Diário de um Leitor Compulsivo – Um mergulho pessoal nas páginas e nas frustrações da vida literária
História, Literatura
Diário de um Leitor Compulsivo – Um mergulho pessoal nas páginas e nas frustrações da vida literária
7 de setembro de 2025 at 01:20 0

A minha ideia de escrever sobre livros na internet surgiu no início dos anos 2000, mais como um auxílio à minha própria memória. Como leio muito, tinha receio de esquecer se já havia lido ou não determinado livro. Com exceção de um curto período, sempre li o que quis, sem compromisso com prazos, lançamentos ou qualquer outra obrigação.

Além desse desejo, sempre achei que, ao publicar meus comentários, poderia ajudar outras pessoas a descobrir uma obra. Por isso, me sinto um pouco frustrado quando leio algo decepcionante, mas, por uma espécie de dever “profissional”, sinto a necessidade de comentar todos os livros que leio — exceto os de engenharia.

O texto de hoje, aliás, fala sobre três livros que foram bastante decepcionantes, mas, mesmo assim, vale a pena comentá-los, né?


Foe, de J. M. Coetzee

Publicado originalmente em 1986, Foe, de J. M. Coetzee, é uma obra de 157 páginas editada pela Penguin Books. A edição brasileira, traduzida por José Geraldo Couto, foi publicada pela Companhia das Letras. O romance reconta a história de Robinson Crusoé a partir de uma perspectiva feminina. A naufragada Susan Barton, que morou no Brasil colonial e procurava a filha desaparecida, encontra Crusoé (chamado de “Cruso” no livro) e Sexta-feira em uma ilha deserta. Ao ser resgatada e retornar à Inglaterra, ela procura o autor Daniel Foe (o nome original de Daniel Defoe) para que ele escreva sua aventura. No entanto, o relato de Susan foca na ausência da língua de Sexta-feira e na recusa de Cruso em valorizar essa questão, o que levanta discussões sobre colonialismo, identidade e autoria. É difícil expressar o quanto amo as obras de J. M. Coetzee, mas esta, apesar de ser interessante em alguns momentos no início, tem um final tão confuso e sem sentido que se torna uma decepção completa. Quem sabe eu passe a gostar dela no futuro, como aconteceu com a trilogia sobre Jesus, mas acho difícil.

Sete anos, de Fernanda Torres

Sete anos, de Fernanda Torres, com 168 páginas, é uma coletânea de crônicas publicada em 2024 pela Companhia das Letras. Eu gostei bastante dos dois romances da grande atriz Fernanda Torres e de suas crônicas na Folha de São Paulo. Isso, mais o fato de a primeira crônica de “Sete Anos”, a longa “Kuarup” (quase 20 páginas), sobre as filmagens do filme de mesmo nome, dirigido por Ruy Guerra em 1989, ser bastante interessante, acabou me animando em relação ao que viria depois no livro. Que decepção! Fernanda Torres passeia por vários temas e faz inúmeras relações, fala muito sobre política, mas quase tudo me deixou profundamente entediado. Foi uma dificuldade terminar de ler o livro, que ficou datado além da conta.

Televisionários. A História da Facção Exército Vermelho, Mais Conhecida por Engano Como Grupo Baader Meinhof, de Tom Vague

Publicado originalmente em 1992, Televisionários, de Tom Vague, é uma obra de 208 páginas. A edição em português foi traduzida por Celso Grubisic e publicada em 1999 pela editora Conrad. O grupo terrorista alemão Baader-Meinhof é um dos meus interesses estranhos, assim como os Wari, os etruscos, os papas de Avignon e o período Permiano. Comprei este livro na esperança de saber mais sobre o grupo, mas o texto, que não passa de uma longa cronologia, não aprofunda basicamente nada sobre as motivações do grupo nem sobre seus integrantes. Terei que encontrar outro livro sobre eles.

(Imagem que acompanha o texto obtida com o Google Gemini.)

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Cristianismo Positivo
História
Cristianismo Positivo
22 de junho de 2025 at 18:58 0
Eu tenho interesses estranhos. O Império Wari, precursor dos Incas, no Peu. São Luís de Tolosa. As espécies meio-mamíferas, meio-rápteis do Período Permiano. Os Etruscos. Futebol Australiano. Os Papas de Avignon, no século XIV. O texto de hoje é sobre outro interesse esquisito, o “Cristianismo Positivo”. A história é esquisita e assustadora demais, deve ser isto que despertou meu interesse. Seguinte: Cristianismo Positivo é a ideia de que muitos nazistas tinham de que Jesus Cristo era ariano. É isso. Na minha opinião, isso é tão estranho e idiota que eu poderia terminar o texto aqui. Mas vou comentar um pouco mais. O grande historiador brasileiro André Chevitarese, o maior especialista brasileiro no Jesus Histórico, escreveu com Daniel Brasil Justi um artigo, chamado “O Jesus Ariano. O imaginário e as concepções historiográficas do Jesus Histórico na Alemanha Nazista” (*), no qual detalha como teólogos alemães, alinhados ao nazismo, ativamente promoveram e popularizaram a imagem de um "Jesus Ariano" para desvincular o cristianismo de suas raízes judaicas e justificar o antissemitismo, culminando na colaboração com o Holocausto. Segundo os autores, por mais que o Nazismo tenha promovido o tal “Cristianismo Positivo”, estas teorias já eram anteriores à década de 1930, sempre no bojo de um antissemitismo feroz. Em seu artigo, Chevitarese e Justi citam alguns textos antigos alemães que sugeriam tirar o Velho Testamento da Bíblia:
“Conforme observou Richard Steigmann-Gall (2004, p. 39, 48), não apenas Artur Dinter, em 1921, no seu romance O Pecado contra o Espírito (...), reivindicava a necessidade de remoção desse material judaico da bíblia cristã, pois ele constituiria um monumento ao ‘pensamento religioso dos judeus, que se baseia em mentiras e traição, negócios e lucro’, como também o próprio Mestre Eckart, a quem Hitler fez um tributo em Mein Kampf, ao escrever no poema intitulado ‘O Enigma’: ‘O Novo Testamento afastou-se do Velho / como tu te libertaste do mundo / E assim como estás livre das tuas ilusões passadas / também Jesus Cristo rejeitou a sua condição de judeu’.”
Cristo, no Cristianismo Positivo, era equivalente, e muitas vezes inferior, a Hitler:
“Quanto à crença na redenção cristã entre muitos alemães durante o período nazista, percebe-se que ela era composta de duas metades, como se formassem uma perfeita simbiose (STEIGMANN-GALL, 2004, p. 46). A primeira delas era formada pela figura de Hitler como salvador. Sua missão era aquela mesma de Cristo, qual seja, a de combater sem medo e sem trégua o judaísmo. A segunda metade dizia respeito às instituições religiosas, muitas delas destacando a ideia de redenção através da cruz. Neste sentido, essa redenção só poderia ser realizada na sua plenitude pela purificação de Jesus de toda e qualquer relação com o judaísmo, reconstruindo-o como ele pretensamente teria sido, isto é, como um ariano, e não como um judeu.”
Finalmente, Chevitarese e Justi citam a (tenebrosa) ideia de um Jesus musculoso:
“A fim de superar, do ponto de vista estético, aquilo que poderia parecer um sinal de derrota frente às maquinações judaicas, outras representações de Jesus foram desenvolvidas nos anos trinta no interior da Alemanha. Por meio delas, buscou-se reforçar a vitória da cruz sobre os judeus. Jesus, firme como uma rocha, tem um corpo musculoso e reluzente, cabeça erguida e olhos fixos no horizonte, como que transcendendo à dor, à violência e à derrota. Vê-se aqui, do ponto de vista estético, a sistematização de um olhar historiográfico levado ao seu ápice pelos teólogos e religiosos nazistas: o Jesus ariano.”
Em um vídeo no Instagram, André Chevitarese comenta que centenas de igrejas foram construídas no período nazista, levando em conta as ideias absurdas do Cristianismo Positivo, mas apenas uma, a Martin-Luther-Gedächtniskirche (Igreja Memorial Martin Lutero), em Berlim, construída em 1935, sobreviveu. A imagem de um Jesus musculoso e vitorioso, que está nesta igreja, é apresentada na imagem que acompanha o texto. O artigo de Chevitarese e Justi apresenta várias outras imagens do Cristianismo Positivo, como altares luteranos cheios de suásticas e outra foto da igreja Martin-Luther-Gedächtniskirche, em que Jesus aparece seguido por apóstolos e um soldado alemão (!). Enfim, eu nem precisaria reforçar, acho, mas não custa nada: ideia de um "Jesus Ariano" é categoricamente rejeitada pela esmagadora maioria das denominações cristãs em todo o mundo. O cristianismo, em sua essência, reconhece Jesus como judeu, nascido em Belém, na Judeia, e pertencente à linhagem de Davi. Negar sua identidade judaica é negar a própria base histórica e teológica do cristianismo, que se enraíza nas tradições e escrituras judaicas. A existência do "Jesus Ariano" é um testemunho da capacidade de ideologias totalitárias de distorcer e manipular até mesmo as crenças mais sagradas para seus próprios fins perversos. Ele permanece como um exemplo sombrio da corrupção da fé para justificar o ódio e a violência. *** Quem tiver interesse em receber este e outros textos meus semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail. *** (*) CHEVITARESE, André Leonardo; JUSTI, Daniel Brasil. O Jesus Ariano: o imaginário e as concepções historiográficas do Jesus Histórico na Alemanha Nazista. Horizonte, Belo Horizonte, v. 15, n. 45, p. 188-205, jan./mar. 2017.
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Auschwitz por dentro e por fora
5 de janeiro de 2025 at 19:09 0
O filme começa em um cenário idílico, numa beira de rio: alguns jovens, crianças e casais se divertem e relaxam numa bela paisagem com um linda vegetação. As pessoas têm uma tonalidade de pele muito clara, uns são loiros, alguns rapazes estão sem camisa. Eles voltam por um bonito caminho no meio do mato. A casa de um casal do grupo citado acima é grande, bonita, com belos jardins perfeitamente cuidados - lembra um pouco a perfeição dos jardins de "Playtime - tempo de diversão", clássico de Jacques Tati de 1967. As cenas de lugares bonitos com uma linda vegetação também lembram a cidade onde vivem os personagens principais da primeira temporada da série "O conto da aia", baseada no romance homônimo de Margaret Atwood. O filme em que questão é "Zona de interesse" (direção de Jonathan Glazer, Estados Unidos, Reino Unido e Polônia, 2023, 105 minutos, disponível no Prime Video), e não é nenhuma comédia que debocha da modernidade do final dos anos 1960, como "Playtime", e nem uma história fictícia que ocorre num futuro distópico, como "O conto da aia". O casal que mora na linda e bela casa é formado por Rudolf Höss (vivido por Christian Friedel), que foi o comandante do campo de extermínio de Auschwitz e é considerado por muitos o maior assassino em massa da história, e sua esposa Hedwig Höss (vivida por Sandra Hüller). "Zona de interesse" é baseado numa história tragicamente real. O principal acontecimento do filme é a tentativa dos superiores de Höss de tirá-lo do cargo de comandante do campo de extermínio, e o desespero dele e da sua mulher, que lutam para a sua permanência no posto. O horror do lugar é lembrado só de vez em quando, como quando se ouve o grito de alguns prisioneiros, ou quando se percebe que o comportamento das empregadas de  Hedwig Höss é estranhíssimo: elas são judias e basicamente não falam e nem olham para cima. Na maior parte do filme tudo é limpo, organizado, bonito e funcional. É assustador. Não à toa Steven Spielberg acha que "Zona de interesse" é o melhor filme sobre o Holocausto já feito. Se tudo é assustadoramente limpo e organizado em "Zona de interesse", em "O filho de Saul" (dirigido por László Nemes, Hungria, 2015, 107 minutos) tudo é exatamente o seu contrário: o filme conta a história de Saul Ausländer (Géza Röhrig), um prisioneiro de Auschwitz que trabalha jogando os cadáveres assassinados nas câmaras de gás num crematório, num ritmo de trabalho inumano. Lá pelas tantas Saul acha que um menino que sobreviveu ao gás e foi posteriormente assassinado por um guarda nazista é seu filho, e ele tenta dar um enterro digno e religioso para o garoto. Não vou contar mais para não dar spoiler. A câmera, em close-up, fica grande parte do tempo filmando a frente e as costas de Saul Ausländer, deixando quase todo o resto fora de foco. Isso acaba deixando uma sensação de permanente desconforto no espectador, como se toda a violência que os prisioneiros vivem não fosse o suficiente. Em "O filho de Saul" basicamente não há nenhum momento de trégua, e provavelmente este filme consegue dar uma ideia bastante verossímil do inferno que era ser prisioneiro em Auschwitz - bastante diferente, aliás, da visão paradisíaca que Rudolf Höss e Hedwig Höss tinham da vida a um muro de distância. (Agradeço especialmente ao crítico André Barcinski, por me chamar a atenção num vídeo no YouTube sobre "Zona de interesse", e a meu grande amigo Antonio Carlos Sandoval Pedro, o Nash, que é especialista em cinema e comentou "O filho de Saul" em uma apresentação com debate na UFPR alguns anos atrás. A imagem que acompanha o texto, de "O filho de Saul", foi obtida no site "O plano crítico".)
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História, Literatura, Religião
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28 de dezembro de 2024 at 18:10 0
"Nação tomada pelo medo", de Thom Yorke & Stanley Donwood (Darkside, tradução de João Paulo Cuenca, 168 páginas, publicado originalmente em 2021): a poesia de Thom Yorke, vocalista da grande banda britânica Radiohead, é claustrofóbica, estranha e de forte crítica social. Os desenhos deste lindo livro em capa dura, a cargo de Stanley Donwood, são tão impressionantes quanto. Foi bom ter tatuado o símbolo da banda no braço, ele aparece em grande parte dos desenhos de "Nação tomada pelo medo". *** "O livro dos espíritos", de Alan Kardec (FEB, tradução de Guillon Ribeiro, 367 páginas, publicado originalmente em 1857): o cemitério de Père Lachaise, em Paris, é famoso por ser o descanso final de gente muito famosa, como Oscar Wilde, Marcel Proust e Jim Morrison, vocalista da banda americana The Doors - mas o túmulo mais visitado é o do criador do espiritismo, Alan Kardec, graças aos espíritas brasileiros que vão até lá render homenagens ao fundador desta religião extremamente popular por aqui, mas basicamente esquecida no resto do mundo (obtive boa parte dessas informações num documentário da TV francesa). "O livro dos espíritos" é escrito em forma de perguntas e respostas, e é o primeiro livro que os interessados nesta religião normalmente devem ler. *** "A revolução dos bichos", de George Orwell (Companhia das Letras, tradução de Heitor Aquino Ferreira e posfácio de Christopher Hitchens, 147 páginas, publicado originalmente em 1945): eu era pré-adolescente quando li esta obra-prima pela primeira vez. Ainda tinha ilusões socialistas, e foi um choque para mim. Além disso, não sabia da relação de "A revolução dos bichos" com Stálin e Trótski. A releitura me confirmou que George Orwell sabia das coisas. *** "Maigret sai em viagem", de Georges Simenon (L&PM Pocket, tradução de Alessandro Zir, 164 páginas, publicado originalmente em 1958): neste livro o famoso Inspetor Maigret investiga um crime na alta sociedade. Simenon é sempre muito bom, mas não gostei muito da solução do crime neste romance. *** "Mistérios de Curitiba", de Dalton Trevisan (Record, 141 páginas, publicado originalmente em 1968): "A palavra do Senhor contra a cidade de Curitiba no dia de sua visitação: / Suave foi o jugo de Nabucodonosor, rei de Babilônia, diante de Curitiba escarmentada sob a pata dos anjos do Senhor como laranja azeda que não se pode comer de azeda que é. / Gemerei por Curitiba: sim, apregoarei por toda a Curitiba a nuvem que vem pelo céu, o grito dos infantes a anuncia; porque o Senhor o disse." E assim por diante. *** "O queijo e os vermes - o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição", de Carlo Ginzburg (Companhia de Bolso, tradução de Maria Betânia Amoroso, 256 páginas, publicado originalmente em 1976): Domenico Scandella, conhecido por Menocchio, era um moleiro da região do Friuli, na Itália, e que nasceu em 1532. Ele não só sabia ler e escrever, numa época em que pessoas de sua classe social eram quase sempre analfabetas, como suas leituras o faziam ter ideias sobre a origem do mundo. Segundo Menocchio, a vida e mesmo Deus surgiram de uma massa pastosa inicial, assim como os vermes surgem - conforme a crença da época - do queijo. Sabemos da vida e das ideias de Menocchio porque ele foi longamente interrogado pela Inquisição, com tudo registrado. "O queijo e os vermes" apresenta uma história insólita, tão esquisita e fascinante quanto aquela dos benandanti, descritos em outra obra do mesmo autor, "Os andarilhos do bem", comentado aqui. *** "Da próxima vez, o fogo", de James Baldwin (Companhia das Letras, tradução de Nina Rizzi, 128 páginas, publicado originalmente em 1962): composto por dois textos, o curto "Carta a meu sobrinho em ocasião do centenário da abolição", e "Carta de uma região de minha mente", este livro é, segundo a contracapa, um "clássico incontornável no debate sobre os direitos civis nos Estados Unidos". Nesta obra extraordinária, Baldwin não só discute as raízes e as consequências do racismo norte-americano, como se mostra um tanto impiedoso contra seu próprio passado como pregador protestante. *** "Clímax", de Chuck Palahniuk (LeYa, tradução de Érico Assis, 224 páginas, publicado originalmente em 2014): C. Linus Maxwell (apelidado de ("ClíMax") é um milionário que cria artefatos eróticos para mulheres, mas não quaisquer artefatos: os produtos da sua indústria deixam as usuárias viciadas como se fossem dependentes de heroína ou fentanil - com todos os problemas graves que vêm junto com o uso desenfreado de drogas pesadas. Os romances de Chuck Palahniuk são sempre esquisitos, mas aqui ele pesou a mão na estranheza. E eu, claro, gostei, como sempre. *** "As pessoas parecem flores finalmente", de Charles Bukowski (L&PM Editores, tradução de Claudio Willer, 311 páginas, publicado originalmente em 2007): diz a lenda que o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre chamava Bukowski de "o maior poeta da América", mas parece que isso era uma mentira inventada pelo próprio poeta. Neste, que é o primeiro livro de poesia do autor que já li, os temas são os mesmos de grande parte de sua prosa: bebedeiras, corridas de cavalos, a vida de escritor, sua mulher e sua filha. Mas aqui há uma maior objetividade, e, por que não? - um maior lirismo.
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