Baader Meinhof

O grupo terrorista Baader-Meinhof: 1. Introdução
História
O grupo terrorista Baader-Meinhof: 1. Introdução
15 de novembro de 2025 at 12:23 0

Para uma criança que acompanhava o noticiário nos anos 1970, o nome Baader-Meinhof tinha algo de assustador e algo de charmoso. Assustador porque era um grupo terrorista alemão de extrema-esquerda, e charmoso porque, pelo menos para mim, remetia a um país desenvolvido, a Alemanha — de onde veio, aliás, meu sobrenome (tão popular por lá quanto Silva por aqui). Embora eu tenha acompanhado o sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas, a força do Baader-Meinhof estava numa certa violência e ameaça difusa, já que seus atos terroristas – pelo menos para a criança que eu era – eram muito menos claros do que o ocorrido na Itália.

Um aspecto irônico desta história é que “Baader-Meinhof” não era o nome que o grupo terrorista aplicava a si mesmo, mas foi dado pela imprensa, depois de uma fuga espetacular ocorrida em 14 de maio de 1970. Naquela ocasião, o líder do grupo, Andreas Baader, foi resgatado da custódia policial na biblioteca de um instituto em Berlim, pulando pela janela junto com outros ativistas e a jornalista Ulrike Meinhof — que havia usado o pretexto de uma entrevista para facilitar o resgate, executado por cúmplices armados. Se fosse batizar o grupo pelo nome de seus líderes, ele deveria se chamar “Baader-Ensslin” — e me refiro aqui à namorada de Andreas Baader, Gudrun Ensslin, que era praticamente tão importante nas decisões quanto ele. De todo modo, o grupo se autodenominava RAF (Rote Armee Fraktion, ou seja, Fração do Exército Vermelho), uma provável provocação com o nome da Real Força Aérea Britânica, que tem o mesmo acrônimo (Royal Air Force).

O Baader-Meinhof fez uma série de incêndios e explosões em prédios privados e públicos, roubos a banco e sequestros, e eram considerados tão perigosos – já que normalmente recebiam a tiros os policiais que tentavam prendê-los – que foi construído um prédio novo dentro da Prisão de Stammheim com um tribunal no andar térreo e uma unidade de detenção de alta segurança (células) nos andares superiores, apenas para o julgamento dos terroristas.

O grupo foi tão comentado pelo mundo todo que até um viés cognitivo – a ilusão de frequência – no qual uma pessoa percebe um conceito, palavra ou produto específico com mais frequência após ter tomado conhecimento dele recentemente, é chamado de “Fenômeno Baader-Meinhof”. O termo foi cunhado em 1994 por um leitor de um jornal em St. Paul, Minnesota (EUA), que escreveu uma carta dizendo que havia lido sobre o Grupo Baader-Meinhof e, logo em seguida, o viu mencionado em outro lugar. Outros leitores compartilharam experiências semelhantes, e o nome “pegou” para descrever a Ilusão de Frequência. Mesmo a banda Legião Urbana tem uma música chamada “Baader-Meinhof Blues”, o que ajuda a mostrar como o nome do grupo ficou gravado no inconsciente coletivo. *** O Baader-Meinhof, assim como o povo etrusco, o Império Wari, o Período Permiano, os Papas de Avignon e São Luís de Tolosa, é um dos meus interesses estranhos. Pretendo escrever aqui ainda alguns textos sobre o grupo terrorista alemão – o próximo, já engatilhado, é sobre a supracitada música “Baader-Meinhof Blues”. ***

(Foto que acompanha o texto: Andreas Baader e Gudrun Ensslin. Crédito da foto: 31.out.1968/Associated Press, obtida na Folha de São Paulo. Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)

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A minha ideia de escrever sobre livros na internet surgiu no início dos anos 2000, mais como um auxílio à minha própria memória. Como leio muito, tinha receio de esquecer se já havia lido ou não determinado livro. Com exceção de um curto período, sempre li o que quis, sem compromisso com prazos, lançamentos ou qualquer outra obrigação.

Além desse desejo, sempre achei que, ao publicar meus comentários, poderia ajudar outras pessoas a descobrir uma obra. Por isso, me sinto um pouco frustrado quando leio algo decepcionante, mas, por uma espécie de dever “profissional”, sinto a necessidade de comentar todos os livros que leio — exceto os de engenharia.

O texto de hoje, aliás, fala sobre três livros que foram bastante decepcionantes, mas, mesmo assim, vale a pena comentá-los, né?


Foe, de J. M. Coetzee

Publicado originalmente em 1986, Foe, de J. M. Coetzee, é uma obra de 157 páginas editada pela Penguin Books. A edição brasileira, traduzida por José Geraldo Couto, foi publicada pela Companhia das Letras. O romance reconta a história de Robinson Crusoé a partir de uma perspectiva feminina. A naufragada Susan Barton, que morou no Brasil colonial e procurava a filha desaparecida, encontra Crusoé (chamado de “Cruso” no livro) e Sexta-feira em uma ilha deserta. Ao ser resgatada e retornar à Inglaterra, ela procura o autor Daniel Foe (o nome original de Daniel Defoe) para que ele escreva sua aventura. No entanto, o relato de Susan foca na ausência da língua de Sexta-feira e na recusa de Cruso em valorizar essa questão, o que levanta discussões sobre colonialismo, identidade e autoria. É difícil expressar o quanto amo as obras de J. M. Coetzee, mas esta, apesar de ser interessante em alguns momentos no início, tem um final tão confuso e sem sentido que se torna uma decepção completa. Quem sabe eu passe a gostar dela no futuro, como aconteceu com a trilogia sobre Jesus, mas acho difícil.

Sete anos, de Fernanda Torres

Sete anos, de Fernanda Torres, com 168 páginas, é uma coletânea de crônicas publicada em 2024 pela Companhia das Letras. Eu gostei bastante dos dois romances da grande atriz Fernanda Torres e de suas crônicas na Folha de São Paulo. Isso, mais o fato de a primeira crônica de “Sete Anos”, a longa “Kuarup” (quase 20 páginas), sobre as filmagens do filme de mesmo nome, dirigido por Ruy Guerra em 1989, ser bastante interessante, acabou me animando em relação ao que viria depois no livro. Que decepção! Fernanda Torres passeia por vários temas e faz inúmeras relações, fala muito sobre política, mas quase tudo me deixou profundamente entediado. Foi uma dificuldade terminar de ler o livro, que ficou datado além da conta.

Televisionários. A História da Facção Exército Vermelho, Mais Conhecida por Engano Como Grupo Baader Meinhof, de Tom Vague

Publicado originalmente em 1992, Televisionários, de Tom Vague, é uma obra de 208 páginas. A edição em português foi traduzida por Celso Grubisic e publicada em 1999 pela editora Conrad. O grupo terrorista alemão Baader-Meinhof é um dos meus interesses estranhos, assim como os Wari, os etruscos, os papas de Avignon e o período Permiano. Comprei este livro na esperança de saber mais sobre o grupo, mas o texto, que não passa de uma longa cronologia, não aprofunda basicamente nada sobre as motivações do grupo nem sobre seus integrantes. Terei que encontrar outro livro sobre eles.

(Imagem que acompanha o texto obtida com o Google Gemini.)

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