Para uma criança que acompanhava o noticiário nos anos 1970, o nome Baader-Meinhof tinha algo de assustador e algo de charmoso. Assustador porque era um grupo terrorista alemão de extrema-esquerda, e charmoso porque, pelo menos para mim, remetia a um país desenvolvido, a Alemanha — de onde veio, aliás, meu sobrenome (tão popular por lá quanto Silva por aqui). Embora eu tenha acompanhado o sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas, a força do Baader-Meinhof estava numa certa violência e ameaça difusa, já que seus atos terroristas – pelo menos para a criança que eu era – eram muito menos claros do que o ocorrido na Itália.
Um aspecto irônico desta história é que “Baader-Meinhof” não era o nome que o grupo terrorista aplicava a si mesmo, mas foi dado pela imprensa, depois de uma fuga espetacular ocorrida em 14 de maio de 1970. Naquela ocasião, o líder do grupo, Andreas Baader, foi resgatado da custódia policial na biblioteca de um instituto em Berlim, pulando pela janela junto com outros ativistas e a jornalista Ulrike Meinhof — que havia usado o pretexto de uma entrevista para facilitar o resgate, executado por cúmplices armados. Se fosse batizar o grupo pelo nome de seus líderes, ele deveria se chamar “Baader-Ensslin” — e me refiro aqui à namorada de Andreas Baader, Gudrun Ensslin, que era praticamente tão importante nas decisões quanto ele. De todo modo, o grupo se autodenominava RAF (Rote Armee Fraktion, ou seja, Fração do Exército Vermelho), uma provável provocação com o nome da Real Força Aérea Britânica, que tem o mesmo acrônimo (Royal Air Force).O Baader-Meinhof fez uma série de incêndios e explosões em prédios privados e públicos, roubos a banco e sequestros, e eram considerados tão perigosos – já que normalmente recebiam a tiros os policiais que tentavam prendê-los – que foi construído um prédio novo dentro da Prisão de Stammheim com um tribunal no andar térreo e uma unidade de detenção de alta segurança (células) nos andares superiores, apenas para o julgamento dos terroristas.
O grupo foi tão comentado pelo mundo todo que até um viés cognitivo – a ilusão de frequência – no qual uma pessoa percebe um conceito, palavra ou produto específico com mais frequência após ter tomado conhecimento dele recentemente, é chamado de “Fenômeno Baader-Meinhof”. O termo foi cunhado em 1994 por um leitor de um jornal em St. Paul, Minnesota (EUA), que escreveu uma carta dizendo que havia lido sobre o Grupo Baader-Meinhof e, logo em seguida, o viu mencionado em outro lugar. Outros leitores compartilharam experiências semelhantes, e o nome “pegou” para descrever a Ilusão de Frequência. Mesmo a banda Legião Urbana tem uma música chamada “Baader-Meinhof Blues”, o que ajuda a mostrar como o nome do grupo ficou gravado no inconsciente coletivo. *** O Baader-Meinhof, assim como o povo etrusco, o Império Wari, o Período Permiano, os Papas de Avignon e São Luís de Tolosa, é um dos meus interesses estranhos. Pretendo escrever aqui ainda alguns textos sobre o grupo terrorista alemão – o próximo, já engatilhado, é sobre a supracitada música “Baader-Meinhof Blues”. ***(Foto que acompanha o texto: Andreas Baader e Gudrun Ensslin. Crédito da foto: 31.out.1968/Associated Press, obtida na Folha de São Paulo. Se você estiver interessado em receber meus textos semanalmente, clique aqui e cadastre seu e-mail.)



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