Renato Russo, o vocalista da banda Legião Urbana, provavelmente gostava muito de “Baader-Meinhof Blues”. A música foi lançada em seu álbum homônimo de estreia (1985), no disco ao vivo “Música p/Acampamentos” (1992) e no “Acústico MTV” (gravado em 1992, lançado em 1999). Julliany Mucury, autora do livro “Renato, o Russo”, considera “Baader-Meinhof Blues” a sua música preferida da banda. Além disso, o Charlie Brown Jr. gravou uma versão da música no seu álbum “Bocas Ordinárias”, de 2002.
A canção tem algumas frases de efeito que, compreensivelmente, são marcantes para os fãs: “A violência é tão fascinante / E nossas vidas são tão normais”, “Não estatize meus sentimentos / Pra seu governo, o meu estado / É independente” e “Já estou cheio de me sentir vazio / Meu corpo é quente e estou sentindo frio / Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber / Afinal, amar ao próximo é tão démodé”. Não há nenhuma menção direta ao grupo terrorista alemão na letra, mas frases como “a violência é tão fascinante” e “amar ao próximo é tão démodé” são claramente relacionadas ao Baader-Meinhof.
Segundo Julliany Mucury, a banda teve que se explicar bastante em relação ao título da música: “vocês imaginam, numa pós-ditadura, você lançar uma canção com esse título?”. Contudo, parece claro que a canção não era uma apologia ao terror.
O próprio Renato Russo explica o significado de “Baader-Meinhof Blues” num áudio encontrado no YouTube, no qual ele declara que a canção “diz exatamente a mesma coisa que ‘Geração Coca-Cola’”. O nome foi escolhido porque se alguém do Grupo Baader-Meinhof passasse por uma situação parecida com a descrita naquela canção, sentiria o mesmo tipo de blues (melancolia/vazio): “a violência é tão fascinante, as nossas vidas são tão normais”.
No mesmo áudio, ele explicou que o final da música, que usa o termo de estado e governo, foi uma escolha intencional para ser um final inteligente e que “pegasse” com o público, mesmo que o significado fosse, na verdade, muito mais abstrato e pessoal.
Em outras palavras, em “Baader-Meinhof Blues”, Renato Russo projetou nos terroristas alemães de uma década antes do lançamento da música as mesmas sensações de tédio, vazio e falta de sentido de boa parte da juventude brasileira no final do período da Ditadura Militar, bem descritas em suas canções, como as duas citadas acima e seu grande sucesso “Será”.
Mas, se me permitem uma opinião, Andreas Baader e Gudrun Ensslin, os líderes do Baader-Meinhof, com sua coragem e radicalismo, não tinham absolutamente nada a ver com as preocupações de Renato Russo.
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Imagem acima obtida no Google Gemini.
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