“Os andarilhos do bem”, de Carlo Ginzburg
História

“Os andarilhos do bem”, de Carlo Ginzburg

2 de maio de 2021 0

Nas quintas-feiras do Quatro Tempos (segundo a Wikipédia, “a semana de santa Lúcia em dezembro, Quarta-Feira de Cinzas, domingo de Pentecostes e no domingo de Exaltação da Santa Cruz em setembro”) os benandanti (ou seja, “andarilhos do bem”) são convocados para a batalha noturna contra as bruxas. Caso aqueles sejam vencedores das lutas, a colheita terá sucesso; em caso contrário, ela será um fracasso e a fome grassará no Friul, região no nordeste da Itália.

Os benandanti são os “empelicados”, ou seja, aqueles que nasceram sem o rompimento do “pelico” – ou bolsa amniótica -, que muitas vezes o carregam consigo pelo restante da vida. Os “andarilhos do bem” batalham apenas em espírito, ou seja, ficam deitados na cama, imóveis, enquanto suas almas vão lutar contra as bruxas pelo bem da colheita e, em última análise, da comunidade – importante ressaltar que eles não podem ser acordados ou mexidos nessas ocasiões porque a alma corre o risco de não voltar para o corpo.

A Inquisição acaba sabendo da existência sobre desses estranhos benandanti e vários processos são instalados com o intuito de descobrir o quanto o procedimento deles é contrário às leis da Igreja. Apesar de um ou outro benandanti ser condenado à fogueira, na grande maioria dos casos os inquisidores, muito mais preocupados contra heresias protestantes, acabam deixando os bruxos do bem em paz.

O que foi descrito acima aconteceu entre o final do século XVI e o início do século XVII, e é descrito com detalhes em “Os andarilhos do bem”, do historiador italiano Carlo Ginzburg (Companhia das Letras, 283 páginas, tradução de Jônatas Batista Neto, publicado pela primeira vez em 1966).

E o livro é tão fascinante quanto parece.

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