O nome da coleção era “Os clássicos mais populares do mundo”, e era composta por doze LPs com gatinhos nas capas. Como o próprio nome dizia, as músicas apresentadas eram aquelas que a maioria das pessoas reconhece como “música clássica”. O início da Quinta Sinfonia de Beethoven. Um trecho de “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovski. Algumas coisas de Chopin.
Quem comprou a coleção lá em casa não sei, até hoje, quem foi – imagino que tenha sido a minha mãe. Sei que não lembro de nenhum dia da minha infância sem aqueles doze (ou seriam dez?) discos por perto.
“Os clássicos mais populares do mundo” foi provavelmente a maior contribuição para o meu gosto musical, desde que nasci até hoje. Eu ouvia aqueles discos diariamente e, com o tempo, fui percebendo que, fora uma ou outra coisa – tenho que citar a ária “Ombra mai fu”, da ópera Xerxes, de Händel, uma das músicas mais bonitas que já ouvi -, eu gostava mesmo era de Johann Sebastian Bach. A Ária na Corda Sol. A Tocata e Fuga em Ré Menor. Alguns trechos dos Concertos de Brandemburgo. Algumas árias de cantatas.
Este meu interesse por Bach acabou ficando tão intenso que acabei começando a comprar discos do compositor. Os concertos de Brandemburgo e peças para órgão, em dois maravilhosos exemplares da coleção “Mestres da Música”, da Editora Abril (que descreviam com grande minúcia a vida e a obra de Bach nos fascículos que acompanhavam os LPs). Os discos de João Carlos Martins, com peças completas de Partitas, Suítes Francesas, Inglesas, e por aí vai. A Arte da Fuga executada no cravo. Uma série de cantatas.
Com o tempo, a obra de Bach, que me impressionava pela beleza arrebatadora de peças como a Ária na Corda Sol, passou a ser para mim uma espécie de monolito respeitável, belíssimo e imponente. Eu me desfiz da minha coleção de LPs há muitos anos já, mas acho que tinha mais de duzentos discos do compositor.
Uns poucos anos atrás, depois de ver um anúncio no Instagram, resolvi baixar um disco simplesmente chamado “Johann Sebastian Bach”, com peças diversas de um pianista islandês chamado Víkingur Ólafsson. O álbum me impressionou tanto pela execução simplesmente inacreditável – suave e expressiva na medida certa – do instrumentista, como pela escolha das peças. O disco é uma compilação com as músicas mais bonitas para teclado de Bach – e mesmo algumas transcrições de peças que não eram originalmente para o instrumento, como a inacreditável “Nun komm der Heiden Heiland”, do Prelúdio Coral para Órgão BWV 659, transcrito por Ferruccio Busoni.
Ouvindo esse disco me senti criança, maravilhado de novo com a capacidade melódica e expressiva de Johann Sebastian Bach.
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