Roberto Bolaño, em seu monumental “2666”, escreveu algo (cito de memória) no sentido de que um conto pode ser perfeito, mas um grande romance deve ter, por definição, imperfeições e exageros – já que a vida não é perfeita mesmo.
É interessante pensar nisso: algumas raras vezes eu termino de ler uma história de ficção e penso comigo: “isso aqui foi perfeito”. Um ou outro conto de
Cortázar e
Alice Munro, quase todo Kafka e mesmo um romance –
“As irmãs Makioka”, de Junichiro Tanizaki – me passaram essa sensação de perfeição. E, como Bolaño mesmo dá a entender, achar que uma obra é perfeita não quer dizer necessariamente que ela seja melhor que outras, “imperfeitas” e impactantes. Pensando nisso tudo, comecei a brincar comigo procurando defeitos nos meus livros preferidos, e foi mais ou menos simples: vá lá, “Ada ou Ardor”, de
Nabokov, o já citado
“2666”, de Roberto Bolaño, “Em busca do tempo perdido”, de
Marcel Proust, a série “Minha luta”, de
Karl Ove Knausgard ou mesmo a poesia de
Georg Trakl têm lá seus trechos chatos, normalmente ausentes das obras “perfeitas”.
Enfim, tudo isso para falar que “A maçã envenenada”, do gaúcho Michel Laub (Companhia das Letras, 120 páginas, publicado originalmente em 2013), que conta basicamente a história do relacionamento atormentado entre o narrador da história e sua primeira namorada, sobre o qual o show do Nirvana em São Paulo em 1993 teve papel importante, é basicamente uma rara história “perfeita” - e que li de uma sentada.
Lindo demais.
(foto de Michel Laub obtida no site da Companhia das Letras)
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