A ideia de Gabriel García Márquez (1927-2014) era publicar cinco contos independentes com uma protagonista latina (acho que colombiana) com o mesmo nome da mulher de Johan Sebastian Bach, Anna Magdalena Bach. Só conseguiu terminar o primeiro conto, já que começou a ter problemas de memória no final da vida, que é este “Em agosto nos vemos” (Record, 130 páginas, tradução de Eric Nepomuceno, publicado originalmente em 2024).
A protagonista vai, uma vez por ano, até uma ilha em que sua mãe está enterrada, para “conversar” com sua mãe morta no cemitério. Em uma destas viagens até à ilha ela se encanta com um homem, faz sexo com ele e volta meio perturbada – ela nunca tinha traído o marido, músico clássico de sucesso.
Anna Magdalena Bach não sabe nem o nome do amante, e tem esperança de encontrá-lo na visita seguinte à ilha, e não o acha – mas acaba fazendo sexo com outro desconhecido. E assim a história de “Em agosto nos vemos” vai indo, e não dá para contar mais nada para não estragar a surpresa.
Gabriel García Márquez reescreveu de maneira obcecada esta novela, e acabou concluindo que não valia a publicação. Seus filhos o “traíram” quando resolveram publicá-la.
Sorte nossa: o livro é tão bom quanto qualquer outra coisa que o gênio García Márquez publicou em vida.
E, como nota final, a novela se basta a si mesma: ficamos sem saber o que o Prêmio Nobel de 1982 tinha em mente para suas outras quatro novelas com Anna Magdalena Bach, mas isso não importa tanto. Só fico chateado de não saber o que aconteceu com a filha da personagem, Micaela, que tinha uma vida sexual ativa mas que, mesmo assim, estava próxima de se tornar uma Carmelita Descalça.
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