O que Acontece Quando Você Lembra da sua Vida Passada? – Um conto sobre reencarnação, solidão e o conforto de um passado presente.
Obra Literária

O que Acontece Quando Você Lembra da sua Vida Passada? – Um conto sobre reencarnação, solidão e o conforto de um passado presente.

14 de setembro de 2025 0

Não tenho muitas certezas na vida. De todo modo, uma delas é que, desde criança, sempre soube que fui a última mulher de César, Calpúrnia, em uma encarnação anterior.

Lembro-me de acontecimentos daquela vida como se fossem meus. É similar a alguém que disputou uma competição de natação trinta anos atrás: pode até se lembrar que nadou e da marca que atingiu, mas dificilmente recordará os adversários nas raias ao lado ou a data exata da prova. Comigo, em minha vida como Calpúrnia, acontece o mesmo: recordo detalhes importantes da época — meu casamento com César, meu famoso pânico antes de sua morte, minha solidão — mas não me lembro de muitos pormenores. Por exemplo, nomes de conhecidos ou de escravos menos importantes da casa de meu então marido, assim como qualquer pessoa na faixa dos cinquenta anos que possa ter esquecido detalhes de sua juventude.

Nasci em 1969 e sou curitibana. Há quase oito anos, mudei para Londrina porque meu filho, Paulo, foi aprovado em medicina na UEL, e aproveitei para trazer também minha filha mais nova, Mariana, para cuidar melhor dos dois. Meu marido não pôde se transferir, pois é dono de uma grande empresa na Cidade Industrial de Curitiba.

Sou dona de casa desde que me casei, embora seja formada em enfermagem. Passo meus dias basicamente sozinha aqui, enquanto meus filhos têm suas atividades: Paulo já se formou em medicina, conseguiu um emprego e logo se casará com uma ótima moça da cidade. Mariana está se formando em engenharia e estagia em uma empresa de projetos onde, provavelmente, continuará após a formatura. Se ela conseguir esse emprego, é provável que eu permaneça aqui enquanto ela desejar.

(…)

Enfim, minha personalidade não mudou em absoluto de “Calpúrnia” para “Gabriela”, e meu gosto por ficar sozinha em casa é o mesmo desde então. Tive a sorte de permanecer bem assistida por empregados confiáveis, que sempre resolveram — e resolvem — todos os meus problemas do dia a dia, assim como os escravos na Antiga Roma. Gosto de comer frugalmente, algo que é bem-visto hoje, mas que era malvisto quando eu era Calpúrnia. Por isso, não há como eu ser mais feliz do que sou.

Por outro lado, alguns acontecimentos de alguns anos atrás perturbaram minha tranquilidade por um tempo — e são esses os acontecimentos que vou descrever agora.

(Trecho inicial de “A mulher de César”, conto que dá título à coletânea de mesmo nome, a ser publicada ainda neste ano.

Imagem que acompanha o texto obtida com o Gemini.

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