sete a um
Impressões

sete a um

9 de julho de 2015 0

A primeira lembrança que eu tenho de Copas do Mundo é o choro. Meu próprio choro.

Na verdade, aos seis anos, eu não estava muito ligado no assunto. Lembro de me reunir com a turma da escola na sala de aula (acho que não decretavam feriados em jogos da Seleção) para assistir Brasil 1 x 0 Alemanha Oriental, e festejar muito o gol de falta de Rivelino.

Ao mesmo tempo, lembro de incomodar meus pais durante outra partida (qual seria? Brasil x Escócia?). Eu queria assistir desenho animado na televisão e o restante da família queria assistir ao jogo.

Voltando ao choro: não lembro bem se assisti ao Brasil 0 x Holanda 2 na Copa de 74. A lembrança que eu tenho é, no portão da frente de casa, ver meus pais e uns amigos deles numa tristeza imensa. Só sei o que se passava na minha cabeça: o Brasil perdeu. E isto era muito triste. Muito triste mesmo.

Exatamente um ano atrás, esta cena antiga voltou muito forte na minha cabeça, como se fosse uma fisgada dolorosa. Fomos assistir a Brasil x Alemanha na casa do meu irmão, que atualmente mora na mesma casa em que a família toda morava, no Ahú. Antes do jogo, ao passar na frente do mesmo portão em que eu tinha chorado quarenta anos antes, a lembrança daquele dia longínquo bateu forte (como uma madeleine de Proust estragada). A coisa tinha começado mal.

Eu sabia que o time era ruim – não dava muito para se iludir, né? Mas aquela sucessão assustadora de gols não estava na conta de ninguém. Muito menos na minha. Meu irmão fazia piadas sem parar – todas elas engraçadíssimas, na verdade. Isto desanuviou o ambiente.

No dia seguinte eu, que não bebo, acordei de ressaca. Foi pior o dia seguinte do que na hora da partida.

Meses depois do 8 de julho de 2014, numa madrugada em que estava de férias, tomei coragem e revi, finalmente, os gols daquele jogo pavoroso. A sensação continuava ruim. Hoje, por causa da efeméride, assisti de novo aos gols. A sensação não melhorou muito.

Ainda bem que a vida é muito mais do que um jogo de futebol, e que a dor do sete a um só renasce de vez em quando.

Mas dói, viu?

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