Dia desses sonhei que tinha ganhado de presente alguns livros, todos escritos pelo mesmo autor (um deles, inclusive, era uma edição especial com três romances). Durante o sonho eu não sabia direito quem era o escritor (coisas de sonho), mas de manhã me veio o nome do holandês Cees Nooteboom, de quem eu já tinha lido alguns comentários favoráveis aqui e ali. Como gosto de conhecer novos autores, achei que era uma boa oportunidade de arriscar. O único livro em português disponível no site da Amazon era “Paraíso Perdido”: curto, lançado pela Companhia das Letras. Não tinha muito como dar errado. Comprei.
Num exercício de metalinguagem, a introdução do romance se compõe dos pensamentos de um homem de meia-idade (provavelmente o próprio autor) no início de uma viagem de avião, quando olha admirado para uma bela mulher. Ela está sentada numa poltrona próxima e está lendo exatamente “Paraíso Perdido”, de Cees Nooteboom (é estranho, eu sei). A conclusão do livro mostra uma conversa entre os dois.
Mas o principal do livro são as duas partes intermediárias. A primeira conta a história de Alma, uma brasileira de classe alta descendente de alemães e moradora dos Jardins, em São Paulo. Logo no início de “Paraíso Perdido” é apresentada a história do estupro que ela sofreu ao ser abalroada quando dirigia sozinha na favela de Paraisópolis. Meio para tentar superar o trauma, ela com sua melhor amiga Almut (também de ascendência germânica) vão morar na Austrália: desde a infância as duas são obcecadas pelo país, sua natureza e pela cultura aborígene local.
A segunda parte do romance conta a história de Erik Zondag, um crítico literário de meia-idade famoso pela ferocidade de seus textos. Instigado pela namorada bem mais jovem, ele vai passar, meio a contragosto, uma temporada num spa austríaco de luxo. E é lá que ele revê a brasileira Alma. O primeiro encontro dos dois tinha sido num festival de artes e literatura na cidade australiana de Perth, em que várias pessoas eram contratadas para se vestir de anjos e ficar imóveis em diversos pontos da cidade, e Alma era uma delas.
“Paraíso Perdido” é tão bem escrito e tem tantos brilhantes insights filosóficos que eu até que não me incomodei muito com a sensação final de vazio que tive ao terminar a leitura: afinal, não dá para saber direito o que exatamente Cees Nooteboom queria mostrar com o seu romance.
Ou fui eu que não entendi a mensagem do sonho. Vai saber.
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