Cinema

Fernanda Torres escritora
Cinema, Literatura
Fernanda Torres escritora
6 de janeiro de 2025 at 23:19 0
A vencedora do Globo de Ouro de 2025 de melhor atriz de filme (drama) é também uma excelente escritora. Seguem abaixo os dois textos que escrevi sobre os romances de Fernanda Torres. Aproveitando a vitória dela, acabei de comprar seu livro de crônicas, "Sete anos", sobre o qual logo comento por aqui. ***

“O Fim”

27 de julho de 2015
O início de cada um dos capítulo de O Fim, de Fernanda Torres, é um monólogo interior com os últimos momentos da vida de cada um dos cinco personagens principais da história – na continuação, os capítulos são escritos em terceira pessoa, contando as histórias inter-relacionadas de Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro. Os cinco amigos viveram a grande liberdade de sexo e drogas no Rio de Janeiro entre os anos 50 a 70 e terminam a vida – a partir do início dos anos 90 – deprimidos, solitários e, quase sempre, abandonados pelos familiares mais próximos – a quem haviam negligenciado durante toda a vida.
Fernanda Torres parece querer mostrar, de forma cínica e amarga, que a grande liberdade de costumes daqueles anos loucos pôde transformar quem os viveu em monstros egoístas, autoindulgentes, capazes de trocar qualquer valor moral por um naco de prazer. Quem conhece aquela atriz meio amalucada de Os Normais e das suas, muitas vezes, destrambelhadas entrevistas, não consegue imaginar que seu primeiro romance seria tão sério e, porque não dizer, profundo – mesmo que muitas vezes bem humorado. Pelo menos, não me surpreendi com a qualidade indiscutível de sua prosa: as colunas mensais que ela escreve na Folha já me mostravam que ali estava alguém com um grande talento literário. Fico na expectativa de seus próximos livros. ***

“A glória e seu cortejo de horrores”

22 de abril de 2018
Eu tinha escrito o seguinte sobre o romance anterior de Fernanda Torres, “O Fim”, lançado em 2013: “Quem conhece aquela atriz meio amalucada de Os Normais e das suas, muitas vezes, destrambelhadas entrevistas, não consegue imaginar que seu primeiro romance seria tão sério e, porque não dizer, profundo – mesmo que muitas vezes bem-humorado. Pelo menos, não me surpreendi com a qualidade indiscutível de sua prosa: as colunas mensais que ela escreve na Folha já me mostravam que ali estava alguém com um grande talento literário. Fico na expectativa de seus próximos livros. ” Baseado nisso, quando descobri que Fernanda Torres tinha lançado um segundo romance, “A glória e seu cortejo de horrores” (Companhia das Letras, 215 páginas), comprei-o assim que pude, e o livro é o objeto do presente texto (ela também lançou em 2014 um livro de crônicas, “Sete Anos”, que ainda não li). “A glória e seu cortejo de horrores” conta a história do ator Mario Cardoso, personagem fictício que é uma espécie de exemplar de toda uma geração: ainda jovem, nos anos 60, foi fazer uma espécie de teatro de guerrilha no sertão nordestino; depois, já no Rio de Janeiro, ingressa na produção de “Hair”, exemplar mais famoso do desbunde hipppie; acaba sendo descoberto mais tarde em duas produções de vanguarda, “Tio Vânia”, de Tchekhóv, e “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos. O enorme sucesso destas duas montagens acaba por levá-lo à TV, onde faz novelas e fica rico e famoso no país inteiro. Anos depois, abandona a TV e cria uma montagem totalmente fracassada de “Rei Lear”, de Shakespeare – e é com este fracasso que “A glória e seu cortejo de horrores” se inicia: a vida pregressa de Mario Cardoso é contada por meio de suas reminiscências. Confesso que eu achava irritantes boa parte das entrevistas do extinto programa de entrevistas do Jô Soares com atores, frequentemente se auto elogiando, falando maravilhas de seus próprios trabalhos: a acreditar em boa parte de que eles falavam de si mesmos no programa do Jô, o teatro é uma arte espetacular, os atores são pessoas especiais, participar de peças é sempre recompensador e especial. Em “A glória e seu cortejo de horrores” há muito pouco deste discurso cansativo: é ressaltada, claro, a importância do teatro e da arte, mas o próprio Mario Cardoso não cansa de repetir que a maior característica dele é a vaidade, o amor por si mesmo. É claro que no romance as coisas não são assim tão esquemáticas: afinal de contas, mais do que uma ótima atriz, tenho a impressão de que Fernanda Torres é, mesmo, uma grande escritora, que escreveu mais um grande livro. E grandes livros têm mais de uma leitura possível. *** (Foto que acompanha o texto obtida no Gshow)
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Auschwitz por dentro e por fora
Cinema, História
Auschwitz por dentro e por fora
5 de janeiro de 2025 at 19:09 0
O filme começa em um cenário idílico, numa beira de rio: alguns jovens, crianças e casais se divertem e relaxam numa bela paisagem com um linda vegetação. As pessoas têm uma tonalidade de pele muito clara, uns são loiros, alguns rapazes estão sem camisa. Eles voltam por um bonito caminho no meio do mato. A casa de um casal do grupo citado acima é grande, bonita, com belos jardins perfeitamente cuidados - lembra um pouco a perfeição dos jardins de "Playtime - tempo de diversão", clássico de Jacques Tati de 1967. As cenas de lugares bonitos com uma linda vegetação também lembram a cidade onde vivem os personagens principais da primeira temporada da série "O conto da aia", baseada no romance homônimo de Margaret Atwood. O filme em que questão é "Zona de interesse" (direção de Jonathan Glazer, Estados Unidos, Reino Unido e Polônia, 2023, 105 minutos, disponível no Prime Video), e não é nenhuma comédia que debocha da modernidade do final dos anos 1960, como "Playtime", e nem uma história fictícia que ocorre num futuro distópico, como "O conto da aia". O casal que mora na linda e bela casa é formado por Rudolf Höss (vivido por Christian Friedel), que foi o comandante do campo de extermínio de Auschwitz e é considerado por muitos o maior assassino em massa da história, e sua esposa Hedwig Höss (vivida por Sandra Hüller). "Zona de interesse" é baseado numa história tragicamente real. O principal acontecimento do filme é a tentativa dos superiores de Höss de tirá-lo do cargo de comandante do campo de extermínio, e o desespero dele e da sua mulher, que lutam para a sua permanência no posto. O horror do lugar é lembrado só de vez em quando, como quando se ouve o grito de alguns prisioneiros, ou quando se percebe que o comportamento das empregadas de  Hedwig Höss é estranhíssimo: elas são judias e basicamente não falam e nem olham para cima. Na maior parte do filme tudo é limpo, organizado, bonito e funcional. É assustador. Não à toa Steven Spielberg acha que "Zona de interesse" é o melhor filme sobre o Holocausto já feito. Se tudo é assustadoramente limpo e organizado em "Zona de interesse", em "O filho de Saul" (dirigido por László Nemes, Hungria, 2015, 107 minutos) tudo é exatamente o seu contrário: o filme conta a história de Saul Ausländer (Géza Röhrig), um prisioneiro de Auschwitz que trabalha jogando os cadáveres assassinados nas câmaras de gás num crematório, num ritmo de trabalho inumano. Lá pelas tantas Saul acha que um menino que sobreviveu ao gás e foi posteriormente assassinado por um guarda nazista é seu filho, e ele tenta dar um enterro digno e religioso para o garoto. Não vou contar mais para não dar spoiler. A câmera, em close-up, fica grande parte do tempo filmando a frente e as costas de Saul Ausländer, deixando quase todo o resto fora de foco. Isso acaba deixando uma sensação de permanente desconforto no espectador, como se toda a violência que os prisioneiros vivem não fosse o suficiente. Em "O filho de Saul" basicamente não há nenhum momento de trégua, e provavelmente este filme consegue dar uma ideia bastante verossímil do inferno que era ser prisioneiro em Auschwitz - bastante diferente, aliás, da visão paradisíaca que Rudolf Höss e Hedwig Höss tinham da vida a um muro de distância. (Agradeço especialmente ao crítico André Barcinski, por me chamar a atenção num vídeo no YouTube sobre "Zona de interesse", e a meu grande amigo Antonio Carlos Sandoval Pedro, o Nash, que é especialista em cinema e comentou "O filho de Saul" em uma apresentação com debate na UFPR alguns anos atrás. A imagem que acompanha o texto, de "O filho de Saul", foi obtida no site "O plano crítico".)
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Revendo filmes
Cinema
Revendo filmes
17 de novembro de 2024 at 15:23 0
Acho que foi no Cine Groff, na extinta Galeria Schaffer, no centro de Curitiba, que assisti a "Stalker" (1979, 2h43min, Alemanha/União Soviética), de Andrei Tarkovski. Um filme longo e lento, com algumas cenas coloridas e outras numa espécie de preto-e-branco em sépia, em cenários de construções decadentes ou abandonadas, onde a floresta e a extrema umidade começam a tomar conta de tudo e com uma história misteriosa - e meio incompreensível para o adolescente metido a intelectual que eu era nos anos 1980. Sempre quis rever este filme, o que só fui fazer dia desses. A história não era tão difícil de entender assim. Basicamente um guia (o "Stalker") tenta levar duas pessoas a uma "Zona" no meio de uma região abandonada, onde os desejos de cada um são satisfeitos. A sua mulher tenta de todas as maneiras que o guia não faça mais uma expedição, mas o "Stalker" não a obedece. O filme - que merece o status de cult que tem até hoje - conta uma história profunda de fé e crença, e me lembrou demais a de "Ordet" (1955), obra-prima de Carl Dreyer. *** Eu já era casado quando resolvi assistir a "Encontros e desencontros" (2003, Lost in translation, Sofia Coppola, 2003, 1h41min, Estados Unidos/Japão), mas não lembro quando foi. Certamente assisti ao filme em casa e não no cinema, e devo ter lido alguma crítica favorável que dizia que o filme era "leve e bom", ou coisa assim. Lembro que gostei bastante do filme mas, para mim, era isso mesmo: "leve e bom". Revi dia desses. Bill Murray faz Bob Harris, um ator de seus cinquenta anos que está em Tóquio para algumas sessões de publicidade, não entende nada de japonês, e muitas cenas melancolicamente engraçadas são criadas a partir deste fato - aliás, a incompreensão da linguagem é um dos motivos para o título original, em tradução livre, se chamar "perdido na tradução". Bob Harris se encontra no hotel com Charlotte (Scarlett Johansson), a esposa de um fotógrafo que trabalha virtualmente o dia inteiro e a deixa sozinha no hotel. Ambos se sentem meio perdidos e solitários em Tóquio, e eu não lembro de ter visto um filme onde tantos diálogos sem palavras são trocados entre dois personagens: Bob Harris, bem mais velho que a jovem Charlotte, parece saber tudo o que se passa na cabeça da moça apenas olhando para ela, e o inverso também vale. A interpretação sublime de Bill Murray e Scarlett Johansson faz com que "Encontros e desencontros" seja muito mais do que apenas um filme "leve e bom". *** Eu estava trocando de canal na TV a cabo muitos anos atrás quando assisti a uma cena chocante de guerra (não vou entrar em detalhes para não dar spoiler) em que participavam, no meio de vários soldados, os atores Liv Ullmann e Max von Sydow. Pela crueza da cena e pelos atores, logo pensei que era um filme de Ingmar Bergman, e eu estava certo. Poucos diretores são tão diretos - e mesmo chocantes - para tratar de algum tema importante quanto ele, e posso citar vários exemplos: a psicopatia ("Persona"), a sexualidade ("O Silêncio"), a idade média ("O Sétimo Selo"), a perda da fé ("Através de um espelho"), a dor ("Gritos e sussurros"). Apenas por um trecho eu vi que ele tratava a guerra da mesma maneira crua com que tratava outros assuntos. O nome do filme em que aparecia a cena supracitada se chama "Vergonha" (1968, Skammen, 103 min). No filme, Jan e Evan Rosenberg (Max von Sydow e Liv Ullmann, citados acima) são dois músicos que vão viver em uma ilha para fugir da guerra civil que assola seu país. Assisti ao filme poucos meses depois de ter assistido àquela cena na TV a cabo, e o revi dia desses. Na revisão o filme me pareceu ainda melhor e mais chocante do que da outra vez. (foto que acompanha o texto, de "Stalker", obtida na Far Out Magazine)
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Alain Delon (1935-2024)
Cinema
Alain Delon (1935-2024)
18 de agosto de 2024 at 18:31 0
Jean Gabin, Lino Ventura e Alain Delon eram os grandes nomes do chamado "filme polar", a resposta francesa ao "filme noir". A foto que acompanha este texto é uma reprodução do cartaz de "Os Sicilianos" (1969), no qual os três atuaram juntos. Lino Ventura era o ator que parecia ser um sujeito confiável e afetivo; Jean Gabin era classudo, imponente, carismático; e, com seus olhos claríssimos e pinta de galã, Alain Delon era frio e enigmático - e era realmente assustador quando atuava como vilão. Os meus filmes polar preferidos com Alain Delon, além do já citado "Os Sicilianos", são "Borsalino", em que faz um gângster em parceria com Jean-Paul Belmondo, e "Gângsters de casaca"  (1963), em que seu colega no mundo do crime é vivido por Jean Gabin. Assisti também com Alain Delon, muitos anos atrás, dois clássicos da cinematografia mundial, ambos dirigidos pelo grande Luchino Visconti: "O Leopardo", de 1963 (baseado no romance de Lampedusa que inspirou meu próprio nome), e "Rocco e seus irmãos", de 1960. Nos últimos anos, devido a graves problemas de saúde, Alain Delon queria morrer por suicídio assistido. Hoje (18 de agosto de 2024) ele faleceu, provavelmente de causas naturais, e o mundo do cinema fica mais triste.
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“Era uma vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino (o livro)
Cinema, Literatura
“Era uma vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino (o livro)
28 de janeiro de 2023 at 15:46 0
Não é com orgulho que eu digo que o último filme a que assisti de Quentin Tarantino foi “Pulp Fiction” - a primeira vez que o vi foi no cinema, na época do seu lançamento, aí por 1994. A verdade é que amei o filme, um dos melhores a que já assisti, e que revi umas três vezes depois.  Depois, não me animei muito com as resenhas que li e com a duração (duas partes lançadas respectivamente em 2003 e 2004) do filme subsequente do diretor, “Kill Bill”. E assim a preguiça e o receio de que os filmes subsequentes de Tarantino não fossem tão bons quanto “Pulp Fiction” acabaram me impedindo de assistir aos outros filmes dele. Num podcast visto há algum tempo acabei sabendo de passagem que o diretor tinha escrito um livro - mas essa informação não me marcou muito. Até que, mais ou menos dois meses, atrás vi na Livraria da Vila “o novo livro baseado no filme”, um romance chamado “Era uma vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino. O formato inusual (17 x 11,8 x 3,8 cm segundo a Amazon, menor do que o padrão dos livros vendidos no Brasil), já me chamou a atenção. As letras e o espaçamento faziam com que a leitura fosse agradável. O preço era acessível (não paguei tão pouco, mas está R$ 19,90 na Amazon agora!). Numa rápida folheada, gostei de todos os trechos que li. Resolvi comprar o romance “no sentimento”, coisa que raramente faço. Excelente investimento! O livro (intrínseca, 560 páginas, tradução de André Czarnobai, lançado originalmente em 2021) conta basicamente a história de dois personagens fictícios  -  Rick Dalton, um ator que costuma fazer vilões em séries de faroeste na TV, e seu dublê, amigo e chofer, Cliff Booth. Além dos dois, uma série de personagens reais aparecem - com mais ou menos profundidade - no romance, como o diretor Roman Polanski, sua esposa, a atriz Sharon Tate, e o responsável pelo assassinato dela, Charles Manson.  Além de personagens muito bem construídos, “Era uma vez em Hollywood” mostra um brilhante painel da meca do cinema americano no final dos anos 60 e início dos 70, quando muitos atores de séries de faroeste foram tentar a sorte na Europa como astros do chamado “western spaghetti”. Além dos apresentados acima, um grande número de personagens aparece no livro, e muitos filmes e séries são citados - só que eu mesmo, em geral, não sabia quem era real e quem era ficcional no romance! “Era uma vez em Hollywood” é um livro que prende a atenção da primeira à última página, com uma escrita ágil e leve, e mostra o grande amor de Tarantino pelo cinema em geral e por Hollywood em particular. Excelente pedida mesmo para os que, como eu, não costumam assistir aos filmes do diretor. Agora, eu que deixe de ser vagabundo e dê um jeito de ver “Era uma Vez em... Hollywood”, né?
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Gertrud, de Carl T. Dreyer
Cinema
Gertrud, de Carl T. Dreyer
29 de maio de 2022 at 19:13 0
Quando se fala no grande diretor dinamarquês Carl T. Dreyer (1889-1968), os dois primeiros filmes que vêm à cabeça são “Ordet” (A palavra) - uma história profunda e perturbadoramente religiosa - de 1955, e “A paixão de Joana D’Arc”, filme mudo que conta o martírio da santa com closes espetaculares e exasperantes. Os dois filmes foram escolhidos pelo Vaticano em 1995 como estando entre os cinco melhores de todos os tempos no quesito “religião”. Último filme lançado por Dreyer, “Gertrud” conta a história de uma mulher - a própria Gertrud - que deixa do amante, Gabriel Lidman, poeta célebre, para se casar com um político e advogado eminente, Gustav. Quando o filme começa ela já está casada com este último e se apaixona por um pianista e compositor talentoso e novato, Erland Jansson. Gertrud leva a paixão pelo amor verdadeiro às suas últimas consequências, e o filme, lançado em 1964, pode ser considerado, com alguma boa vontade, um libelo feminista. Quando lançado no festival de Cannes ele chegou a ser vaiado, e a crítica da época ficou dividida em relação ao filme - hoje considerado uma obra-prima por grande parte dos especialistas. “Gertrud” tem o mesmo estilo de filmagem de “Ordet”: cenas longuíssimas com a câmera parada, com os atores olhando a maior parte do tempo para a frente, conversando sem olhar uns para os outros. A sensação é estranhíssima - e, mais estranho ainda, revi dia desses “Gertrud” e fiquei fascinado: não sei o segredo de Dreyer para fazer filmes tão esquisitos e tão espetaculares ao mesmo tempo.
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Os filmes noir e polar a que mais gostei de ter assistido em 2021
Cinema
Os filmes noir e polar a que mais gostei de ter assistido em 2021
7 de janeiro de 2022 at 21:32 0
Comentei aqui no final de 2020 que “filmes noir são filmes policiais americanos lançados nas décadas de 1940 e 1950, com fotografia expressionista. O gênero polar, às vezes chamado de noir francês, é um estilo que começou baseado no similar americano e que continuou com grande sucesso até os anos 1980 – aliás, é interessante acrescentar que existem filmes polar coloridos, ao contrário dos noir americanos, sempre em preto e branco.” Bem essa última informação está errada: alguns filmes noir, como “Um sábado violento”, de Richard Fleischer, de 1955, são coloridos. Para um fã do estilo, é estranho saber como eram as cores na época. Feita a correção, segue a lista dos filmes noir e polar a que mais gostei de ter assistido em 2021, juntamente com o volume da coleção da Versátil em que cada um aparece:
  1. “Curva do destino” (Detour, 1945, 69 min, de Edgar G. Ulmer): um pianista dá carona para uma moça e tudo começa a dar errado. Uma história impressionante, um roteiro excepcionalmente bem amarrado. Coleção Filme Noir vol. 13.
  2. “O caso da Rua Montmartre” (125 rue Montmartre, 1959, 87 min, de Gilles Grangier): mais um filme com coisas que dão errado: neste caso quem se dá mal é o vendedor de jornais Pascal, vivido pelo extraordinário Lino Ventura. Coleção Filme Noir Francês vol. 5.
  3. “O paxá” (Le pacha, 1968, 90 min, de Georges Lautner): um policial quer se vingar do assassinato de um amigo. Eu costumo até preferir os filmes noir, pelo ambiente, do que os polar, mas os atores franceses de filmes policiais, como o grande Jean Gabin neste caso - que faz o homem à procura de vingança - em geral são melhores que os correspondentes do outro lado do Atlântico. E este filme ainda tem a participação especial do grande Serge Gainsbourg, cantando. Coleção Filme Noir Francês vol. 5.
  4. “O sádico selvagem” (The Lineup, 1958, 86 min, de Don Siegel): um psicopata está atrás de uma família que trouxe heroína numa viagem de navio sem saber. Assustador. Coleção Filme Noir vol. 13.
  5. “Um sábado violento” (Violent Saturday, 1955, 90 min, de Richard Fleischer): citado acima, este filme noir colorido, que conta um assalto e suas consequências, é assustador e claustrofóbico como o citado logo acima. Coleção Filme Noir vol. 17.
  6. “O ódio é cego” (No Way Out, 1950, 106 min, de Joseph L. Mankiewicz): um médico negro é perseguido pelo irmão de um paciente branco que ele tentou salvar. Bem-feito para mim, que falei dos atores franceses: neste filme o médico negro é ninguém menos que Sidney Poitier, em sua estreia no cinema, e o homem que o persegue é o grande Richard Widmark. Descanse em paz, Sidney Poitier. Coleção Filme Noir vol. 12.
  7. “Por uma mulher má” (The Man Who Cheated Himself, 1950, 82 min, de Felix E. Feist): dois irmãos policiais: o mais velho tem uma amante envolvida num assassinato, e o mais novo investiga o caso sem saber do envolvimento do irmão. Um grande filme que apresenta grandes questões. Coleção Filme Noir vol. 13.
  8. “Adeus, bruto” (Adieu, Poulet, 1975, 91 min, de Pierre Granier-Deferre): Lino Ventura e Patrick Dewaere estão excepcionais como investigadores de crimes políticos. É, os atores franceses de filmes polar valem, e muito, o ingresso. Coleção Filme Noir Francês vol. 3.
  9. “Os sicilianos” (Le clan des Siciliens, 1969, 125 min, de Henri Verneuil): com Jean Gabin e Alain Delon como gângsters e Lino Ventura como investigador, não precisa falar mais nada. Coleção Filme Noir Francês vol. 3.
  10. "Borsalino" (Idem, 1970, 125 min, de Jacques Deray): aqui temos Alain Delon e Jean-Paul Belmondo em seu crescimento no mundo do crime. É, acho que mantenho o que comentei ali no item 3. Coleção Filme Noir Francês vol. 5.
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Os filmes não policiais a que eu mais gostei de ter assistido em 2021
Cinema
Os filmes não policiais a que eu mais gostei de ter assistido em 2021
19 de dezembro de 2021 at 19:57 0
Os filmes não policiais que eu mais gostei de ter assistido esse ano seguem abaixo. Logo lanço a lista dos noir e polar, como tenho feito há uns poucos anos. Quando for o caso, clicando no título você pode ir para meu comentário original sobre o filme.
  1. “Anjos caídos”, de Wong Kar-Wai (1995): esse filme tem um matador de aluguel com uma parceira misteriosa, um surdo-mudo muito doido, e algum amor envolvido. Os filmes de Wong Kar-Wai são lindos e esquisitos, e eu amo.
  1. The wedding march”, de Erich von Stroheim (1928): meu filme preferido de um dos meus diretores preferidos.
  1. À meia-noite levarei sua alma”, de Zé do Caixão (1964): o filme de estreia do Zé do Caixão tem uma qualidade artística que independente do baixo orçamento.
  1. “Crepúsculo dos deuses”, de Billy Wilder (1950): a decadência dos grandes artistas do cinema mudo em Hollywood depois do advento do cinema falado nunca foi mostrada de maneira tão cruel quanto neste clássico absoluto.
  1. “A grande ilusão”, de Jean Renoir (1949): este filme, cuja história se passa na Primeira Guerra Mundial mas que foi lançado poucos anos antes do início da Segunda, mostra o cavalheirismo - que as grandes guerras sepultaram para sempre - entre nobres de países inimigos.
  1. “Império dos sonhos”, de David Lynch (2006): por que eu gosto tanto desse filme maluco de duas horas e cinquenta e dois minutos de duração? Não sei, mas revi essa coisa doida esse ano e quero rever muitas vezes ainda.
  1. “Amores expressos”, de Wong Kar-Wai (1994): uma história de sessão da tarde filmada por um maníaco.
  1. “Ordet”, de Carl Theodor Dreyer (1955): uma história e um filme milagrosos. Literalmente.
  1. Twin Peaks: os últimos dias de Laura Palmer”, de David Lynch (1992): muito mais assustador que a famosa série na qual o filme foi baseado. Muito mais mesmo.
  1. “Deus e o diabo na terra do sol”, de Glauber Rocha (1964): uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.
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