Comentário: um dos meus filmes preferidos, sobre o qual já falei aqui.
Comentário: agentes do governo norte-americano caçam uma quadrilha de falsificadores de dinheiro. Grande filme de um dos maiores diretores americanos de todos os tempos.
Comentário: nunca esqueço do verbete da Enciclopédia Abril que dizia que os filmes americanos de Fritz Lang eram muito piores que os alemães, que tinham sido feitos na época do expressionismo. Este filme, que fala sobre corrupção na polícia, prova que a coisa não era bem assim.
Comentário: o astro Humphrey Bogart está excelente no papel de um policial com dificuldade de que as suas testemunhas façam depoimentos contra um mafioso.
Comentário: filme estranho e violento sobre um vendedor casado que se apaixona por uma adolescente obrigada a se prostituir. O único filme colorido desta lista.
Comentário: Joan Crawford está estupenda como uma dramaturga que entra num relacionamento amoroso perigoso. Eu sempre me lembro das cenas finais, impressionantes.
Comentário: homem se apaixona por uma prostituta. De Fritz Lang com Edward G. Robinson, nem precisa falar mais nada.
Comentário: o primeiro grande papel de Kirk Douglas, que faz um boxeador inescrupuloso. Meu filme de boxe preferido.
Comentário: os fãs de Morrissey já ouviram falar sobre os gângsteres londrinos de segunda categoria Dallow, Spicer, Pinkie e Cubitt, que são os personagens principais deste grande filme, sobre o qual já comentei aqui.
Comentário: um velho criminoso quer assaltar um cassino em Cannes com a ajuda de um amigo mais novo. O ator que faz o assaltante idoso é Jean Gabin, e o que faz o jovem é Alain Delon, já basta.
O gênero polar, às vezes chamado de noir francês, é um estilo que começou baseado no filme noir americano[1], e que continuou com grande sucesso até os anos 1980[2]. A Versátil Home Vídeo tem lançado caixas de DVDs de noir francês – já está no volume 5.
Já assisti a um número razoável de filmes deste estilo fascinante, e confesso que tive um motivo de estranhamento com o ator que faz o personagem principal de “Bob le flambêur” (Bob, o jogador), de Jean-Pierre Melville, lançado em 1956. Explico: muitos desses filmes têm atores que aparecem em mais de um deles – casos dos gigantes Jean Gabin e Alain Delon (que coestrelam o sensacional “Gângsteres de casaca”, de 1953, inclusive). Já Roger Duchesne é o ator principal deste “Bob le flambêur”, e é tão expressivo que está na capa do volume 2 da série da Versátil, conforme se pode verificar na foto que acompanha este texto. Depois de assistir ao filme, estranhei mais ainda ele não estrelar outros filmes do gênero, já que a atuação dele também é impressionante. “Bob le flambêur” conta a história de um gângster decadente com pouco mais de cinquenta anos que quer encerrar sua carreira no crime com um assalto espetacular – uma temática semelhante a de outros filmes da época, inclusive.
A resposta está nos extras da coleção da Versátil, num documentário chamado apropriadamente “Diário de um vilão”, de Dominique Maillet. Nele, o roteirista e escritor Thierry Crifo resume a vida de Roger Duchesne – cujo nome verdadeiro era Roger André Charles Jordens -, que faz o Bob do título do filme Jean-Pierre Melville. O ator nasceu em 1906 em Luxeuil-les-Bains em 1906 e faleceu em Mureaux no dia de Natal de 1996 – com noventa anos, portanto -, ou seja, “tanto no início quanto no fim da vida estava próximo de uma roleta”, no dizer de Thierry Crifo.
Depois da Segunda Guerra, Duchesne escreveu cinco romances policiais, mas não fez sucesso. Foi para o interior, então, trabalhar como mecânico – e é até lá que o diretor Jean-Pierre Melville vai para chamá-lo para estrelar “Bob le flambêur”. Por excesso de dívidas, os gângsteres da região do Pigalle, em Paris, não queriam deixar que Duchesne trabalhasse ali, e Melville teve que convencer os bandidos da região do contrário. O filme foi lançado em 1955, e em 1957 o ator trabalha novamente, em “Marchands de filles”, de Maurice Cloche – e é quando termina a carreira no cinema do ator, conhecido até hoje quase que exclusivamente por seu papel magnífico em “Bob le flambêur”.
Mas por que razão um ator deste nível terminou sua carreira cinematográfica cerca de quarenta anos antes de sua morte? A explicação é dada também por Thierry Crifo no documentário “Diário de um vilão”: durante a ocupação francesa, possivelmente por causa de dívidas de jogo, Duchesne foi um colaborador ativo da Carlingue, a Gestapo francesa – pode até ter torturado um membro da resistência. Entre 1933 e 1943 ele tinha participado de mais de trinta filmes, “com papéis secundários em filmes importantes, e papéis principais em filmes de menor orçamento”, ainda segundo Thierry Crifo. Depois da guerra, Duchesne ficou preso alguns meses por suas atividades de colaborador.
A maior ironia desta história trágica é que o diretor Jean-Pierre
Melville, que deu o grande papel da vida de Roger Duchesne, era judeu.
[1] http://www.frenchfilms.org/best-policiers.html
[2] http://www.rueducine.com/cinema-policier-francais-de-1945-a-2015/
O universo do filme noir é tipicamente urbano e contemporâneo: de maneira geral, protagonistas de caráter duvidoso, bandidos, mulheres fatais, policiais, etc., são personagens vivendo em grandes cidades - seja em becos escuros, lanchonetes, palacetes ou residências modestas - nos anos 40 e 50 do século XX (época em que os filmes foram realizados). Porém, alguns filmes no estilo fogem deste padrão. O presente texto trata de quatro filmes cujas histórias transcorrem em locais diferentes - dois em presídios, um na fronteira entre os Estados Unidos e México e outro numa pequena cidade - e outro no século XIX. São uma mostra de uma rara flexibilidade neste estilo cinematográfico fascinante - e um tanto engessado. Todos os filmes citados aqui constam da fascinante coleção de DVDs “Filme Noir”, da Versátil .
“À margem da vida” (“Caged”, 1950, 96 min), de John Cromwell, se passa num presídio feminino, em que uma jovem viúva de 19 anos é presa por cumplicidade num pequeno assalto e, lá, vai ficando cada vez mais amargurada com a falta de perspectivas de melhorar de vida quando estiver livre. O filme é extremamente bem conduzido, concorreu a quatro Oscar e Eleanor Parker - atriz que faz jovem viúva - acabou vencendo o prêmio de melhor atriz.
“Rebelião no presídio” (“Riot in cell block 11”, 1954, 80 min), de Don Siegel, se passa num presídio masculino onde ocorre uma rebelião. O filme é de denúncia contra as péssimas condições dos presos - alguém já ouviu falar nisso? -, mas perdeu muito de sua força.
“Mercado humano” (“Border incident”, 1949, 96 min), de Anthony Mann, conta a história de policiais mexicanos e americanos que vão à fronteira entre os Estados Unidos e México tentar desbaratar uma quadrilha que explora o tráfico de mexicanos. Grande filme, com uma fotografia espetacular de John Alton.
Em “Ao cair da noite” (“Moonrise”, 1948, 90 min), de Frank Borzage, um rapaz de uma cidade do interior que sempre sofreu bullying por ter um pai enforcado por assassinato acaba matando sem intenção, numa briga, o maior dos valentões da cidadezinha. O restante do filme mostra os problemas do assassino com sua consciência - e por isso a Versátil, na contracapa, acaba chamando o filme de “noir psicológico”. O filme definitivamente não consegue criar o clima que queria - será pelo fato de o diretor Frank Borzage não gostar do gênero noir, como mostrado nos extras do volume 11 da coleção da Versátil? Apostaria nisso.
Finalmente, “Conspiração” (“The tall target”, 1951, 77 min), de Anthony Mann, mostra um detetive que embarca num trem para tentar salvar o presidente Abraham Lincoln, que será vítima de um atentado. O melhor dos filmes citados aqui.
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