Ainda vou comentar sobre a série cult Twin Peaks por aqui, mas este texto é específico sobre o filme “Twin Peaks: os últimos dias de Laura Palmer” (“Twin Peaks: Fire Walk with Me” no original em inglês).
Ao terminar a segunda temporada de Twin Peaks em 1991, o diretor da série, David Lynch, aproveitou a deixa para lançar o filme já em 1992. “Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer” é uma espécie de prequel, já que conta o que aconteceu antes da morte da personagem (e aqui não tem nenhum spoiler, já que o assassinato de Laura Palmer é uma das primeiras coisas que aparecem na série), mas também é uma sequel, já que conta quem a matou – o que só acontece no meio da segunda temporada de Twin Peaks.
Eu lembro que amava a série quando passou na Globo no início dos anos 90, e que ela foi mutilada (como se fosse um filme de Erich von Stroheim da década de 1920), já que a audiência desabou porque a Folha de São Paulo deu o maior spoiler das últimas décadas na imprensa brasileira, contando quem matou Laura Palmer. Eu mesmo, na época, não queria saber o nome do assassino, mas me contaram na faculdade sem eu perguntar. Enfim.
Frustrado com o que fizeram com a série que eu estava gostando tanto, acabei me recusando a assistir “Twin Peaks: os últimos dias de Laura Palmer”, por mais que a fita VHS estivesse dando sopa lá na locadora onde eu ia. Sei lá o que eu achei na época, mas provavelmente eu pensava que tinha que assistir à série inteira – o que não pude fazer, conforme contei acima, porque a Globo resolveu fazer um resumão dela – antes de ver o filme. O fato de a crítica ter detonado o filme – que aparentemente chegou a ter sido vaiado no Festival de Cannes em 1992 – também não ajudou muito.
Enfim, foi bom eu ter visto o filme só agora, depois de finalmente ter assistido às duas primeiras temporadas da série. Se Twin Peaks tem humor e fala dos hábitos desregrados de Laura Palmer de forma relativamente leve – estamos falando de uma série de televisão, afinal –, o filme “Twin Peaks: os últimos dias de Laura Palmer” é um soco no estômago, contando de maneira explícita a espiral de sexo e drogas em que a personagem vivia antes de ser assassinada. É um filme sombrio, violento, sem uma gota de humor. E, apesar de ter sido criado pelo mesmo David Lynch da série, parece ter sido feito por outro diretor, tão diferente é a abordagem nos dois casos – coisa de gênio, eu diria. Não por acaso parte da crítica mudou de opinião, e hoje em dia o filme tem sido mais bem avaliado do que tinha sido quando do seu lançamento.
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