Foi lendo uma resenha no Estadão que ouvi falar em Maria Rita pela primeira vez. Ela estava acompanhando o show de um violonista – mas quase todo o mundo, pelo visto, estava lá apenas e tão somente para ver a cantora. O tom do resenhista era de um completo deslumbramento – e, claro, havia comentários sobre a mãe de Maria Rita, Elis Regina, considerada por muita, mas muita gente mesmo (não por mim, diga-se de passagem) a maior cantora brasileira de todos os tempos.
Bem, é impossível falar em Maria Rita sem compará-la com a sua mãe. Conforme se percebe em seu CD homônimo, recém-lançado pela Warner, o seu timbre é, em muitos momentos, impressionantemente parecido com o de Elis. O que deixa muitos fãs da mãe emocionados – às lágrimas – nos shows de Maria Rita.
Mas há diferenças: a voz da filha é um pouco mais anasalada que a da mãe. Mais do que isto, Maria Rita é muito mais tranqüila. Elis tinha – na minha modesta e solitária opinião – tal intensidade dramática nas suas interpretações (um engraçadinho poderia falar em agitação), que freqüentemente chegava a irritar. No quesito tranqüilidade, portanto, ponto para a filha.
Vamos ao disco. Por mais que Maria Rita tenha declarado – com sabedoria – que jamais regravará uma música da mãe, o estilo das suas músicas é demasiadamente parecido. Tem um bolero (“Dos Gardênias”), um samba divertido (“Cara Valente”), as músicas de Milton Nascimento (“A Festa” e “Encontros e Despedidas”), as da Rita Lee (“Agora Só Falta Você” e “Pagu”) e as confessionais sob o ponto de vista feminino (“Não Vale A Pena”). Além disso, duas regravações são discutíveis: tanto a versão de Milton Nascimento para “Encontros e Despedidas” quanto a do Los Hermanos para “Veja Bem Meu Bem” são bem superiores às de Maria Rita. E tem as músicas de Rita Lee, claro – péssimas, péssimas.
De todo o modo, é preciso que se diga que Maria Rita está longe de ser um mau disco. “A Festa”, a “música de trabalho”, é deliciosa, assim como a supracitada “Dos Gardênias”. As inéditas do hermano Marcelo Camelo (“Cara Valente” e “Santa Chuva”) também não fazem feio. “Menina da Lua” (de Renato Mota) é emocionante, para dizer o mínimo. Também muito boa é “Lavadeira do Rio” (de Lenine e B. Tavares), com uma levada de ritmos regionais do Nordeste.
O mais espantoso, porém, é que as duas melhores “faixas”, a emocionante “Vero” (de Natan Marques e Murilo Antunes) e a pungente “Estrela, Estrela” (de Vitor Ramil), somente podem ser obtidas quando baixadas da internet em um site secreto – que só pode ser acessado por quem comprar o CD original. Um verdadeiro tesouro secreto…
(Texto publicado no Mondo Bacana em 2003)
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