Cinema

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Quatro filmes noir europeus
2 de fevereiro de 2020 at 18:23 0
Versátil

Como se sabe, filmes noir são filmes policiais americanos lançados nas décadas de 40 e 50, com fotografia expressionista. A Versátil já lançou quatorze caixas, com seis filmes cada uma mais extras, deste gênero fascinante. Algumas produções lançadas nesta coleção são europeias - apesar de o estilo ser basicamente norte-americano -, e quatro filmes noir europeus, três britânicos e um francês, são objeto do presente texto.

Lançado em 1947, “Sempre chove aos domingos” (“It always rain on Sundays”), de Robert Hammer, mostra uma Londres pobre, com pessoas permanentemente irritadas por falta de dinheiro e perspectivas - em muito me lembrou o clássico, amado por Morrissey, “A taste of honey”, de 1961. “Sempre chove aos domingos” é muito bem narrado, mas o excesso de personagens (a madrasta má que, apesar de casada com um marido mais velho e benevolente, ainda ama o velho namorado que é fugitivo da cadeia; suas duas enteadas, uma bem ajustada e com um namorado responsável e carinhoso, e a outra que é amante de um homem casado; o outro enteado, um garoto que só quer saber de tocar gaita de boca; três assaltantes pés-de-chinelo, que pouco têm a ver com os demais personagens; um homem que dá golpes bem sucedidos) faz com que o filme tenha algo de uma novela da Globo.

“Rincão de tormentas” (“Brighton Rock”), lançado em 1947 e com direção de John Boulting, conta a história de quatro gângsteres londrinos de segunda categoria, chamados de Dallow, Spicer, Pinkie e Cubitt - sim, estes nomes são citados no clássico “Now my heart is full”, de Morrissey. O personagem principal é Pinkie, que ordena o assassinato de um rival e tenta fazer com que o crime passe por suicídio. O filme é espetacular, e o contraste entre o rosto suave e quase feminino de Pinkie (vivido magistralmente por Richard Attenborough) e suas atitudes violentas é realmente assustador. Não à toa, a imagem que acompanha este texto mostra Pinkie em “Rincão de tormentas”.

“Rififi” (“Du rififi chez les hommes”), de 1955, dirigido por Jules Dassin, é o único filme francês citado aqui. Segundo o Wikipédia, o filme ficou famoso “pela cena do roubo na joalheria, de quase meia hora de duração sem diálogos ou música e que mostra em detalhes a ação dos bandidos, imitada posteriormente por criminosos de verdade ao redor do mundo”. Mas o filme é muito mais que isso, mostrando com maestria a preparação e as consequências do roubo. Um clássico indiscutível, que faz com que o espectador tenha vontade de assistir a mais policiais franceses - por sorte a coleção da Versátil “Filme Noir Francês” já está no quarto volume.

Finalmente, “Trágico álibi” (“My name is Julia Ross”), de Joseph H. Lewis, lançado em 1945 e com apenas 64 minutos de duração, é uma pequena obra-prima: apesar do pouco destaque na coleção da Versátil (foi lançado como um extra no DVD Filme Noir Vol. 9), é uma assustadora história de uma família londrina que tenta fazer com que uma garota passe por outra mulher.

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“A Trilogia do Silêncio”, de Ingmar Bergman
Cinema
“A Trilogia do Silêncio”, de Ingmar Bergman
9 de novembro de 2018 at 10:18 0
A “Trilogia do Silêncio”, do diretor sueco Ingmar Bergman, é composta por filmes cuja temática, em cada um dos casos, é bastante clara. “Através de um Espelho” (1961) trata da loucura, contando a história de uma moça esquizofrênica que está passando uma temporada de férias numa bela ilha isolada junto com seu irmão, seu pai e seu marido. O tema principal de “Luz de Inverno” (1963) é a falta de fé: o filme trata de um pastor luterano que está perdendo os fiéis, não só por causa da perda de sua própria fé, como por causa de um relacionamento que não é bem visto pela comunidade. Finalmente, “O Silêncio” (1963) é o mais sexual dos filmes de Bergman: uma mulher, Anna, está viajando com seu filho e sua irmã, Ester, e o trem em que estão é obrigado a parar por alguns dias num país desconhecido e turbulento. No hotel em que os três se hospedam, a irmã confessa o desejo incestuoso por Anna, que não só se revolta contra a irmã, como procura sexo com qualquer desconhecido que apareça pela frente – seu filho, Johan, é deixado de lado pela mãe e pela tia. (mais…)
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“Fragmentos”, de Marilyn Monroe
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“Fragmentos”, de Marilyn Monroe
8 de abril de 2018 at 21:31 0
Marilyn Monroe, que praticamente não conseguiu frequentar a escola, tinha uma necessidade enorme de se cultivar. Estava sempre com um livro nas mãos, e gostava de autores difíceis – Joyce, Proust, Flaubert e Steinbeck entre eles. Sua vontade de obter cultura era tão grande que ela chegou a se casar com o grande dramaturgo Arthur Miller. Segundo as palavras de Ruy Castro, ela “enchia cadernos com seus sonhos, ideias e palavras”. “Fragmentos” (Tordesilhas, 269 páginas) é composto destes “sonhos, ideias e palavras” da grande atriz. No livro – uma edição caprichadíssima, com textos transcritos e fac-símiles - Marilyn fala sobre suas sessões de análise, seus planos, suas compras. Alguns pensamentos perdidos aqui e ali, alguns poemas. A sensação que dá ao terminar a leitura é estranha: “Fragmentos” dá a impressão de ser a ponta do enorme iceberg que era a mente de Marilyn, sempre fugidia. Transcrevo aqui dois poemas, para dar uma ideia da coisa:
“Título – Sobre meus poemas   Norman – tão difícil de satisfazer Quando tudo o que quero é tirar lazer...? E daí que rimou? O mundo acabou? Quando ela (nós?) passamos por tudo isso  Após esse tempo na terra”
   
“Deixei minha casa de madeira verde rústica – Um sofá de veludo azul com o qual sonho até agora Um arbusto escuro à esquerda da porta. Pelo caminho clíquete claque enquanto minha boneca em sua carruagem subia sobre as rachaduras – 'Iremos longe.'   Os prados são imensos a terra (será) dura Nas minhas costas. O capim ondeou tocava o azul e nuvens brancas paradas se transformando de um homem velho para um cachorro sorridente com orelhas ao vento   Olha – Os prados estão alcançando – estão tocando o céu Deixamos nossos contornos contra / sobre o capim amassado. Ela morrerá mais cedo porque estávamos lá – algo diferente terá crescido?   Não chore minha boneca não chore seguro você e a balanço até dormir. quieta quieta Eu estou estava apenas fingindo que eu (era) não sou sua mãe que morreu.   Alimentarei você do arbusto escuro brilhante à esquerda da porta.”
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“Marilyn”, de André de Dienes
Cinema
“Marilyn”, de André de Dienes
1 de abril de 2018 at 21:51 0
Em 1945, Norma Jeane recebeu do fotógrafo de origem romena André de Dienes a seguinte proposta: por cem dólares semanais (cerca de mil e quatrocentos dólares no dinheiro de hoje), mais roupas e despesas, os dois viajariam pelos Estados Unidos para que ela posasse para ele. Norma Jeane – a futura Marilyn Monroe - era uma garota de dezenove anos, recém-casada e que queria se estabelecer como modelo e atriz em Hollywood. (mais…)
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Duas biografias de Marilyn
Cinema
Duas biografias de Marilyn
25 de fevereiro de 2018 at 17:34 0
Biografar Marilyn Monroe não é uma atividade fácil. Dois exemplos, retirados de duas biografias do mito que li recentemente, “Os últimos anos de Marilyn Monroe”, de Keith Badman (Benvirá, 464 páginas), e “Marilyn Monroe”, de Anne Plantagenet (L&PM, 224 páginas), dão uma ideia da coisa: (mais…)
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Filmes assistidos recentemente
Cinema
Filmes assistidos recentemente
19 de novembro de 2017 at 13:36 0
Almas desesperadas (Don’t Bother to Knock, EUA, 1952), de Roy Ward Baker: Marilyn Monroe faz Nell, uma moça que vem do interior e é babá por um dia em Nova Iorque, graças à influência do seu tio - e nada dá certo. No seu primeiro papel importante, Marilyn é mais do que convincente no papel de uma moça desequilibrada. Resgate em alta velocidade (Getaway, EUA, 2013), de Courtney Solomon: Brent Magna (Ethan Hawke) está sendo chantageado por um sujeito misterioso (Jon Voight) que sequestrou a sua mulher e o obriga a correr de carro que nem um doido pelas ruas de Budapeste para salvá-la. Kid (Selena Gomez) era a dona do carro que Magna tinha roubado (obrigado pelo sujeito misterioso) e lá pelas tantas tenta recuperá-lo, e acaba virando parceira do chantageado. Divertido, viu? (mais…)
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Asterix – textos de 2006
Cinema, Literatura
Asterix – textos de 2006
11 de setembro de 2017 at 09:13 0
Asterix e os vikings: Criada em 1961 por René Goscinny e Albert Uderzo, as histórias do gaulês Asterix fazem, até hoje, um imenso sucesso no mundo inteiro: além das HQs (traduzidas em mais de 100 idiomas e que já venderam mais de 120 milhões de exemplares) e filmes (de desenho animado e "normais"), até um parque temático nos moldes da Disneyworld foi construído nas imediações de Paris. As histórias da pequena aldeia gaulesa (a Gália se situava onde atualmente é a França) que resiste à dominação romana, pouco antes do início da Era Cristã, graças à poção mágica criada pelo druida Panoramix - que dá uma força sobrenatural a seus habitantes -, continua fascinando crianças, jovens e adultos pelo mundo todo. Entre as maiores qualidades das histórias do baixinho Asterix podem ser citados: o brilhante traço de Uderzo; a esperteza, a coragem e a inteligência do personagem principal; o conseqüente contraste com a obtusidade de seu melhor amigo Obelix (que caiu num caldeirão da poção mágica quando criança e que, por isto, conquistou uma força sobre-humana para o resto da vida); a sabedoria do druida; os engraçados personagens Abracurcix (o chefe da aldeia), Chatotorix (um bardo que canta insuportavelmente mal) e Ordenalfabetix (o vendedor de peixes que vive se pegando com o ferreiro Automatix). Não se pode esquecer também do charme adicional de histórias em que os não-poderosos (os gauleses, neste caso) sempre vencem os poderosos (os romanos). Mas sem dúvida nenhuma a maior responsável pelo imenso sucesso de Asterix são os brilhantes roteiros assinados por René Goscinny, falecido em 1977: a morte deste foi uma perda insuperável para a qualidade das histórias do baixinho gaulês, o que se pode comprovar lendo as fracas histórias recentes de Asterix, roteirizadas pelo desenhista Albert Uderzo. (mais…)
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Machado de Assis, Woody Allen
Cinema, Literatura
Machado de Assis, Woody Allen
4 de setembro de 2016 at 22:42 0
Em algum lugar na minha cabeça confusa, o escritor brasileiro Machado de Assis e o cineasta americano Woody Allen ocupam o mesmo espaço. Explico: os dois fazem obras sofisticadas, de humor fino, com ótimos comentários sobre a existência humana, nas quais os personagens raramente se preocupam com dinheiro – mas que não grudam na memória. Consigo lembrar com detalhes do pobre pai que se sacrifica até à morte pelas duas filhas em “Pai Goriot”, de Balzac, mas não sei direito como descrever direito os gêmeos Esaú e Jacó de Machado de Assis, ou o que mesmo é que aconteceu no ótimo “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen. Duas visitas recentes às obras destes dois gigantes reforçaram esta minha impressão geral. Em “Café Society”, Bobby (Jesse Eisenberg) é um judeu nova-iorquino que vai tentar a sorte com um tio ricaço, o produtor cinematográfico Phil (Steve Carell). Depois de uma estranheza inicial – tio e sobrinho nem se conheciam –, Phil começa a ajudar Bobby, e indica Vonnie (Kristen Stewart) para auxiliá-lo na inserção no mundo hollywoodiano. O rapaz rapidamente se encanta com a garota – mas ela tem um namorado, por quem é apaixonada. Não dá para contar mais para não estragar a surpresa. (mais…)
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