Quando se fala no grande diretor dinamarquês Carl T. Dreyer (1889-1968), os dois primeiros filmes que vêm à cabeça são “Ordet” (A palavra) – uma história profunda e perturbadoramente religiosa – de 1955, e “A paixão de Joana D’Arc”, filme mudo que conta o martírio da santa com closes espetaculares e exasperantes. Os dois filmes foram escolhidos pelo Vaticano em 1995 como estando entre os cinco melhores de todos os tempos no quesito “religião”.
Último filme lançado por Dreyer, “Gertrud” conta a história de uma mulher – a própria Gertrud – que deixa do amante, Gabriel Lidman, poeta célebre, para se casar com um político e advogado eminente, Gustav. Quando o filme começa ela já está casada com este último e se apaixona por um pianista e compositor talentoso e novato, Erland Jansson. Gertrud leva a paixão pelo amor verdadeiro às suas últimas consequências, e o filme, lançado em 1964, pode ser considerado, com alguma boa vontade, um libelo feminista.
Quando lançado no festival de Cannes ele chegou a ser vaiado, e a crítica da época ficou dividida em relação ao filme – hoje considerado uma obra-prima por grande parte dos especialistas.
“Gertrud” tem o mesmo estilo de filmagem de “Ordet”: cenas longuíssimas com a câmera parada, com os atores olhando a maior parte do tempo para a frente, conversando sem olhar uns para os outros. A sensação é estranhíssima – e, mais estranho ainda, revi dia desses “Gertrud” e fiquei fascinado: não sei o segredo de Dreyer para fazer filmes tão esquisitos e tão espetaculares ao mesmo tempo.
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