Qual o meu filme preferido dirigido por Erich von Stroheim? Desde que escrevi o primeiro texto sobre ele por aqui fico me perguntando isso. Os dois primeiros que chegaram até nós, “Blind Husbands” e “Foolish Wives”, respectivamente de 1919 e 1922, mostram um diretor – e ator principal – totalmente seguro de si, confiante, e são brilhantes em todos os aspectos. “Greed”, de 1924, considerado pela maioria dos críticos sua obra-prima, tem uma temática diferente dos demais e por isso creio que ele seja um pouco menos representativo de sua obra como um todo. Pela história totalmente provocativa, eu tenderia a escolher “Queen Kelly”, com Gloria Swanson e de 1932, mas ele está inacabado e a versão existente hoje, com apenas fotogramas e trechos escritos do roteiro na parte final, acaba sendo complicado como escolha. Fico então com “The Wedding March”, de 1928, sobre o qual contei aqui a minha frustração de não o ter assistido inteiro restaurado no Telecine Cult, e cujo impressionante final (a única parte que vi na ocasião) ficou na minha memória por anos.
O filme conta a história do Príncipe Nicki, vivido pelo próprio Stroheim, que é um nobre com pouco dinheiro e que é convencido a se casar com Cecelia, filha de um rico fazendeiro (o tema do nobre decadente que se casa com uma burguesa rica é tema de obras-primas como o romance “O Leopardo”, de Lampedusa, no qual foi baseado aliás um filme espetacular de Luchino Visconti). Nicki está noivo e de casamento marcado com Cecelia quando, numa parada militar, se apaixona por uma moça pobre, Mitzi, que também está prometida em casamento, nesse caso com um açougueiro grosseiro chamado Schani. Enfim, Mitzi e o Príncipe Nicki começam um relacionamento contra tudo e contra todos, e não vou contar mais para não estragar a surpresa – quem quiser assistir a essa obra-prima, pode assisti-la de graça no YouTube, aliás.
“The Wedding March” tem as obsessões presentes em quase todas as obras de Stroheim, como o naturalismo exacerbado, a qualidade e o detalhismo dos cenários, a pulsão sexual, a descrição chocante – e mesmo divertida – de defeitos humanos como a ganância e a falta de escrúpulos. Mas, como diz Arthur Lenning em sua monumental biografia do diretor, o filme apresenta personagens ainda mais complexos e profundos que aqueles dos seus demais filmes, no que eu concordo com ele.
“The Wedding March” teve uma continuação, chamada “The Honeymoon”, cuja última cópia se perdeu num incêndio na Cinemateca Francesa em 1957, e só podemos lamentar não podermos mais assisti-la.
(fonte da foto: Wikipedia)
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