“Tenho andado distraído / Impaciente e indeciso / E ainda estou confuso / Só que agora é diferente / Estou tranquilo e tão contente”: como tantas outras pessoas da minha geração, sei de cor as frases iniciais (e o restante da letra) de “Quase sem querer”, da Legião Urbana. Só que, ao contrário dos inúmeros fãs da banda – um dos maiores sucessos da história do rock brasileiro – estas frases não faziam muito sentido para mim. Praticamente trinta anos depois, estas e muitas outras frases das músicas da Legião Urbana continuam a não fazer muito sentido para mim.

Por que então resolvi ler “Só por hoje e para sempre”, relato escrito pelo vocalista Renato Russo quando de seu internamento na clínica Vila Serena (no Rio de Janeiro), em novembro de 1993? Não sei direito. Quem sabe para saber um pouco mais sobre uma banda que – malgrado meu! – foi importante para mim nos anos 80. Quem sabe porque Renato Russo sempre foi mais culto e articulado do que o normal dos roqueiros. Quem sabe para tentar entender por que alguém com tanto sucesso era ao mesmo tempo tão depressivo.

Em “Só por hoje e para sempre” estão reproduzidos todos os textos que Renato Russo teve que escrever durante seu processo de desintoxicação. No livro se revezam o diário de internação – em que várias vezes me senti lendo suas letras, dada a confusão de sentimentos – e as respostas dele às perguntas que faziam parte do tratamento, quando ele então tinha que relatar acontecimentos desagradáveis do seu passado: aí a coisa pega de verdade; a vida de um viciado em drogas e álcool, para quem vê de fora, parece terrível. “Não tentem fazer isso em casa”, é o que Renato Russo parece querer nos dizer nas entrelinhas de seus depoimentos.

Ou será que, para variar, não entendi direito o que queria nos dizer Renato Russo?