Brasil Império

Visitas ao passado
História, Música
Visitas ao passado
29 de outubro de 2023 at 14:37 0
Acho que a maioria das pessoas que gosta de História já se imaginou voltando no tempo e vivendo, por pouco tempo que seja, na sua época preferida do passado. Sim, já imaginei como seria visitar Roma no tempo de Nero, a Itália no ápice do período etrusco (século VI a.C.), o Peru no auge do império pré-Inca Wari (século VIII d.C.), ou o Brasil no tempo do Segundo Império. Seria fascinante visitar Pikillacta, monumental cidade wari que nem se sabe direito para que servia. Ver as construções etruscas no seu auge, que foram em grande parte destruídas porque eram construídas em madeira – o que restou delas foram os túmulos, em parte subterrâneos e em concreto. Quem já viu fotos de Pompeia tem ideia de como deviam ser monumentais as construções romanas do período clássico. O que restou do Segundo Império, infelizmente, está mal preservado em grande parte. Mas é claro que estas épocas podem ser perigosas: não se sabe direito como os wari viviam, os etruscos pareciam gostar de se divertir, mas vai saber, no Segundo Império a escravidão comia solta e os tempos de Nero eram tempos de Nero, não precisa ir muito longe. Acho que o período que mais me daria grande prazer na visita, por um motivo específico, seria o início do século XX no sul dos Estados Unidos. Sim, eu gostaria de ver os grandes bluesmen daquela época ao vivo. Já comentei aqui sobre a minha fascinação com o country blues, ou blues rural. As gravações daquela época normalmente têm uma péssima qualidade para os padrões de hoje, e os grandes músicos têm pouquíssimas fotos, sempre de baixa qualidade – estávamos no início do século XX, não custa reforçar. Então eu fico imaginando como seria ver Robert Johnson tocando ao vivo. Como ele fazia aquelas coisas inacreditáveis com o violão? Será que Blind Willie Johnson era tão arrogante como suas gravações maravilhosas deixam transparecer? Será que Blind Boy Fuller era mesmo muito debochado? E Blind Willie Johnson era tão religioso e sofrido quando parecia? E como seria ver a grande Bessie Smith num teatro de luxo em meados dos anos 1920? Como era o jeitão de Blind Blake? Nunca vou saber, mas não custa imaginar. (foto que acompanha o texto: Bessie Smith, obtida na Wikipédia)
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Exercícios Literários
Se vivêssemos num Império
15 de setembro de 2019 at 18:05 0
fonte: Wikipédia

 “Ai ai Izaura, hoje eu não posso ficar / se eu cair nos teus braços não há despertador que me faça acordar”. Como acontecia frequentemente, Paulo se lembrava dessa música quando Maria lhe pedia para ficar “só mais um pouquinho”. De brincadeira, finalmente, resolveu cantá-la. Maria estrilou:

- Que música idiota.

- Mas é bonitinha, Maria.

- Ah vá.

Era assim. Os dois se acertavam em quase todos os aspectos, menos na música. Amante que era do tal “sertanejo universitário”, Maria se irritava a cada vez que ele colocava no carro algo mais sofisticado, na linha de um John Coltrane ou Miles Davis. Ele meio que se divertia com isso e nunca ligou muito para essa profunda diferença musical, mas uma vez ele teve esperança de que ela fosse abrir um pouco seus horizontes musicais.

Foi assim: literalmente apaixonada pela família imperial, e pelo imperador Pedro Luís de Orléans e Bragança em particular, Paulo um dia contou para Maria que o próprio monarca tinha lhe dito que seu cantor preferido era o jazzista americano Chet Baker. Tinha sido numa reunião de trabalho na capital imperial, Rio de Janeiro - ocasião que tinha deixado Maria praticamente sem dormir durante uma semana. Ela não parava de mandar para o Paulo mensagens no Whatsapp falando da excitação que sentia por saber que ele teria uma reunião com o imperador. Com o imperador! Maria tinha quadros com toda a família imperial pela casa, era um fanatismo que não conhecia limites.

Na verdade, Paulo exagerara um pouco em seu relato para Maria. De fato, depois da reunião de trabalho (uns assuntos sobre o metrô do Rio), ele e o imperador trocaram palavras sobre música. Pedro Luís de Orléans e Bragança falou que amava Bach, que ouvia desde criança e que, agora, com o Spotify, estava muito feliz pela possibilidade de conhecer ainda mais intérpretes e gravações de seu compositor preferido. Paulo, que nunca foi fã de música clássica, resolveu lhe perguntar se gostava de jazz também. O imperador lhe respondeu que não tinha maior interesse pelo estilo, mas tinha visto um show de Chet Baker no YouTube e tinha gostado muito – a história trágica do grande jazzista também tocava o coração do monarca.

De modo que o papo de Chet Baker ser o “cantor preferido” do imperador era só isso – papo, e furado. O mais engraçado tinha sido a reação de Maria:

- Que pena, um imperador tão maravilhoso, com um gosto tão estragado.

(Exercício literário proposto por Robertson Frizero: em Literatura, chamamos de ucronia qualquer narrativa que conte uma versão alternativa da História como a conhecemos. Trata-se da reconstrução de um evento do passado tal como ele poderia ter acontecido. Em Fatherland, romance policial de Robert Harris, por exemplo, o autor imagina um mundo no qual a Alemanha nazista teria vencido a Segunda Guerra Mundial.

 O desafio de hoje é escrever uma narrativa de até 500 palavras que se passa no seguinte cenário ucrônico: Deodoro da Fonseca não proclamou a República e o Brasil seguiu sendo governado por um regime monárquico e pela mesma linhagem dos Orleans e Bragança. Use essa informação apenas como pano de fundo para sua narrativa; não se preocupe em descrever como o movimento republicano falhou, etc.)

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“Senhora”, de José de Alencar
Literatura
“Senhora”, de José de Alencar
23 de fevereiro de 2016 at 23:15 0
Se existe um escritor vilipendiado pelo público na literatura brasileira, este é José de Alencar (1829-1877). Quase todo o mundo já ouviu alguém se queixar de que foi obrigado a ler algum romance dele, achando-o chato por causa da linguagem empolada empregada. Realmente, trechos como
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor?
são de leitura cansativa. (mais…)
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“O Ateneu”, de Raul Pompéia
Literatura
“O Ateneu”, de Raul Pompéia
3 de agosto de 2015 at 03:05 0
Confesso que tenho um problema com a literatura brasileira. Guimarães Rosa e Euclides da Cunha li cedo demais. Machado de Assis escreve maravilhosamente, mas a cada vez que releio Quincas Borba ou Dom Casmurro esqueço de quase tudo logo em seguida. Mesma coisa com os muitos livros lidos de Carlos Heitor Cony. Amei Memórias do cárcere e São Bernardo, de Graciliano Ramos, mas o fato de não ter conseguido terminar de ler nem Infância nem Vidas secas fala algo a respeito. (mais…)
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