“Senhora”, de José de Alencar
Literatura

“Senhora”, de José de Alencar

23 de fevereiro de 2016 0

Se existe um escritor vilipendiado pelo público na literatura brasileira, este é José de Alencar (1829-1877). Quase todo o mundo já ouviu alguém se queixar de que foi obrigado a ler algum romance dele, achando-o chato por causa da linguagem empolada empregada. Realmente, trechos como

Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor?

são de leitura cansativa.

Não tendo sido jamais “obrigado” a ler alguma obra de José de Alencar, li não muito tempo atrás o romance “A viuvinha”, e gostei muito. Como este não é dos livros mais famosos do cearense, resolvi encarar a clássica “Senhora”, obra da qual foi retirada o trecho acima – bem no seu comecinho.

“Senhora” é a história de uma vingança: Aurélia é uma órfã pobre que tem dois pretendentes, Eduardo Abreu e Fernando Seixas. Ela escolhe o segundo, por quem é apaixonada. O problema é que Seixas é um rapaz de classe média baixa que vive na alta sociedade, muito acima de suas posses. Achando que teria melhor chance de fazer um casamento mais favorável financeiramente com outra moça, Adelaide Amaral, Fernando Seixas desiste de Aurélia, que acaba ficando sem pretendentes.

É quando Aurélia recebe uma herança milionária e, riquíssima, começa a agir maquiavelicamente: com seu dinheiro faz com que seu grande amigo Dr. Torquato Ribeiro consiga casar-se com a pretendente de Seixas, Adelaide. Sabendo que o grande amor de sua vida, Fernando Seixas, está com sérias dificuldades financeiras, ela praticamente “compra” sua mão e se casa com ele.

Inebriado pela alegria de, ao mesmo tempo, casar-se com a belíssima Aurélia e não ter mais problemas financeiros, Fernando Seixas não espera o que vai acontecer a partir de sua noite de núpcias: imbuída de fortíssimo desejo de vingança, Aurélia trata Seixas como se fosse um servo e não lhe permite nenhum tipo de intimidade. O restante não dá para contar para não estragar a surpresa.

Seixas está longe de ser um personagem mal construído, embora algumas de suas decisões no decorrer da obra possam ser mais ou menos discutíveis. Mas a grande força de “Senhora” está mesmo em Aurélia Camargo, uma mulher intensa, capaz de grandes amores e grandes ódios: é evidente o carinho que José de Alencar tem por sua riquíssima personagem e, porque não dizer, pelas mulheres em geral.

Uma inesquecível personagem de um romance – olha aí – inesquecível.

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