Confesso que tenho um problema com a literatura brasileira. Guimarães Rosa e Euclides da Cunha li cedo demais. Machado de Assis escreve maravilhosamente, mas a cada vez que releio Quincas Borba ou Dom Casmurro esqueço de quase tudo logo em seguida. Mesma coisa com os muitos livros lidos de Carlos Heitor Cony. Amei Memórias do cárcere e São Bernardo, de Graciliano Ramos, mas o fato de não ter conseguido terminar de ler nem Infância nem Vidas secas fala algo a respeito. Li um de Milton Hatoum, gostei mas não a ponto de pegar mais um. Detestei os dois de Lima Barreto (Isaías Caminha e Policarpo Quaresma) que consegui terminar, o de Jorge Amado (Capitães da Areia) e Memórias de um sargento de milícias. Dalton Trevisan é bom, mas os contos são muito curtos. E assim por diante. O único autor brasileiro que gosto praticamente sem ressalvas é o gaúcho Daniel Galera, veja só.
Tudo isso pra contar que tinha gostado demais, na adolescência, de O ateneu, de Raul Pompéia. Tentei reler uns anos atrás e não consegui passar da página 20 – o português empolado me cansou.
Mas não desisti, retomei a leitura, a qual terminei hoje. Com um senso de observação agudo e uma profundidade psicológica rara, O ateneu é uma daquelas obras-primas que passam pelas mãos da gente de vez em quando. Está terminando meu problema com a literatura brasileira, acho.
(texto escrito em fevereiro de 2014)
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