“En toutes lettres”, de Françoise Rey e Marco Forlani
Literatura

“En toutes lettres”, de Françoise Rey e Marco Forlani

26 de abril de 2016 0

O livro “En toutes lettres” (Editora La Musardine, Paris) nasceu de uma ideia do seu editor: juntar dois escritores – uma mulher e um homem – para que criassem um romance epistolar sem que se conhecessem pessoalmente. A troca de cartas seria feita por intermédio do editor e, obviamente, cada nova carta seria escrita em resposta à anterior e o romance seria a própria correspondência. Os escritores escolhidos para a empreitada foram a autora de livros eróticos francesa Françoise Rey e o escritor, roteirista, dramaturgo e crítico de cinema Marco Forlani, também francês.

“En toutes lettres” (trocadilho intraduzível, já que a expressão pode significar tanto “na totalidade” como “em todas as cartas”) começa com uma carta bem grosseira do personagem masculino (que assina simplesmente como P.) dizendo que a escritora não é bem o tipo dele, e que ela deve ser meio vagabunda.[1] Ela (que assina F.) responde num tom entre ofendido e provocativo, e termina sua carta assim:

Quanto ao senhor, eu o imagino deitado no chão, reduzido à impotência (!) e eu coloco sobre seu estômago um dos meus sapatos de puta, levantando alto meu joelho, para que o senhor veja bem o que perdeu!

O relacionamento epistolar entre os dois vai assumindo um tom mais amigável: ao mesmo tempo que contam um ao outro suas aventuras sexuais, notadamente extraconjugais (os dois são casados), uma atração mútua acaba surgindo e os dois resolvem se conhecer pessoalmente. Depois de uma estranheza inicial, eles acabam indo para a cama. Não muito tempo depois a coisa desanda: ele se apaixona por ela, mas seu amor é pouquíssimo convincente. É pena, pois o livro, que era de leitura divertida e excitante (principalmente na parte a cargo de Françoise Rey), passa a assumir um tom pesado e inverossímil. Ou seja, Marco Forlani pesou tanto a mão que não tinha mesmo como Françoise Rey consertar.


[1] A coisa é tão pesada, aliás, que a própria escritora reclama neste vídeo, produzido para promover o livro quando de sua publicação em 1992, da grosseria de algumas das cartas de Marco Forlani.

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