Jo Dunkley

Livros lidos recentemente
Literatura
Livros lidos recentemente
8 de outubro de 2023 at 17:45 0
O primeiro livro comentado neste texto é “Cloro”, de Alexandre Vidal Porto (Companhia das Letras, 127 páginas). Diplomata, o autor escreveu a história, com fortes tintas autobiográficas (segundo o próprio Vidal Porto), de um advogado bem-sucedido que resolve dar uma chance para seu homossexualismo latente desde a infância. O romance que, como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, se inicia com o narrador revelando que já está morto, conta uma história forte e é muito bem escrito. Já “A morte de Jesus (Trilogia de Jesus Livro 3)”, de J.M.Coetzee (Companhia das Letras, 216 páginas, tradução de José Rubens Siqueira) é o final de uma trilogia; eu já tinha feito comentários sobre os dois primeiros livros aqui, mais ou menos nessa linha: “não dá para entender o que o grande J.M. Coetzee (Prêmio Nobel de 2003) quis dizer com esta história (...). David tem alguma coisa a ver com Jesus Cristo? O que exatamente ele tentou mostrar com a ilha distópica do romance, onde as pessoas se esquecem do seu passado? Por que David (...) é tão irritante?” Acho que agora consegui entender o objetivo do autor, e para explicar isso pego emprestado as palavras de Camila von Holdefer em sua ótima crítica sobre a trilogia na Folha de São Paulo: “o que Coetzee sugere é que o leitor se deixe levar, se conseguir superar a própria racionalidade já solidificada, pelo menino”. Outro livro de J.M. Coetzee recentemente lido é “À espera dos bárbaros” (Companhia das Letras, 181 páginas, tradução de José Rubens Siqueira), no qual um magistrado de um império vive numa cidade fronteiriça sempre sob a ameaça do ataque de bárbaros – nem o magistrado, nem o império, nem os bárbaros são nomeados. No início do romance o personagem principal, que também é o narrador em primeira pessoa, mostra todo o seu preconceito contra os bárbaros, mas logo se percebe que ele é mais piedoso que o exército imperial, e as consequência de sua postura são violentas. “À espera dos bárbaros” é espetacular, e discute profundamente muitos assuntos fundamentais: a opressão, a violência, o desconhecimento – e a obliteração – do próximo, nem sempre visto como “próximo”. Finalmente, três livros sobre cosmologia e ciência: “Nosso universo: A história do cosmo e seus mistérios”, de Jo Dunkley (Todavia, 322 páginas, tradução de Alexandre Bruno Tinelli), “A ilha do conhecimento: Os limites da ciência e a busca por sentido” (Record, 364 páginas) e “Criação imperfeita: Cosmo, vida e o código oculto da natureza”, ambos de Marcelo Gleiser (Record, 434 páginas). A cosmologia atual mostra que o Universo é muito louco – para dizer o mínimo -, e muitos dos seus aspectos (como a matéria escura e a energia escura) estão muito além da capacidade de compreensão da ciência atual. No primeiro dos seus dois livros citados, Marcelo Gleiser defende a tese que não se vai conseguir colocar toda a física numa explicação única – simplesmente porque esta explicação pode não pode existir. Na mesma linha, o segundo livro mostra vários dos aspectos da ciência – não só da cosmologia – simplesmente ainda sem explicação. Já a obra de Jo Dunkley é bem menos sombria, e descreve o estado atual da cosmologia num estado de aparente deslumbramento.
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