Vidas de Santos
Religião

Vidas de Santos

15 de maio de 2016 0

Apesar de não haver certeza sobre o verdadeiro autor, não há dúvida de que “Legenda dos Três Companheiros” é uma das fontes mais antigas sobre a vida de São Francisco: segundo os estudiosos, o livro não é posterior a 1247 (enquanto que o santo faleceu em 1226). A tradição indica que a obra foi escrita por três dos mais próximos amigos do santo, os Freis Rufino, Ângelo e Leão. Na introdução do livro, os supostos autores contam que foram instados a escrever a obra por decisão do Capítulo Geral e do Ministro Geral Frei Crescêncio, “para comunicar (…) as ações mais notáveis e os prodígios do Bem-aventurado Francisco que pudessem ter visto ou chegado a conhecer”. Ainda na introdução, os autores comentam que

A nossa narração não pretende ser uma legenda, porque já foram escritas várias sobre a vida do Santo e sobre os milagres que Deus operou por ele. (…) O nosso modesto relato poderá ser inserido nessas legendas já escritas, se a vossa discrição o julgar conveniente. Estamos, com efeito, convencidos de que, se os veneráveis biógrafos tivessem conhecido estas nossas informações, não as teriam desprezado; antes, pelo menos em parte, tê-las-iam ornado com o seu belo estilo e assim as confiariam à memória da posteridade.

De fato, “Legenda do Três Companheiros” se destaca pela sobriedade com que é escrita, e é fascinante para o leitor de hoje imaginar que quem escreveu o livro realmente viu grande parte do que ali é descrito.

Publicado inicialmente em 1993, a biografia “Vida de Catarina de Sena”, escrita pelo Frei João Alves Basílio, também se destaca pela sobriedade. Como o próprio autor comenta na introdução, “o leitor compreenderá desde logo que esta singela biografia não tem grandes pretensões. Este estudo de síntese apenas quer abrir, ao leitor brasileiro, portanto, o portal deste grande tesouro”: a vida, a obra, os escritos dessa grande apóstola e mística dominicana, declarada Doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI em 1970.

A vida de Santa Catarina de Sena, que nasceu em Sena em 1347 e faleceu em Roma em 1380, é fascinante em todos os sentidos. Apesar de leiga (foi a primeira leiga a receber o título de Doutora da Igreja, aliás) e mulher (não se pode esquecer que o papel da mulher na sociedade da época era secundário, para dizer o mínimo), tinha uma religiosidade e uma facilidade de comunicação tão intensas que sua opinião era levada a sério por papas, reis, príncipes e famílias poderosas. Ela viveu numa época turbulenta, em que pequenos reinos ou repúblicas estavam em permanente conflito uns com os outros e também contra os Estados do Papa. O próprio papado era uma bagunça só, e foi com grande tristeza que Santa Catarina de Sena viu o Papa em Roma ser desafiado por um Antipapa estabelecido em Avinhão, na França. No meio de toda esta turbulência a santa era chamada a interceder, pessoalmente ou por meio de cartas, em lutas da Igreja contra reinados hostis, em brigas políticas e em disputas entre famílias poderosas.

A conclusão do livro do Frei João Alves Basílio dá uma ideia precisa das dificuldades e da obstinação de Santa Catarina de Sena:

Trabalhou muito e nenhum fruto colheu: viveu entre ricos e poderosos, mas foi sempre paupérrima; trabalhou entre os pobres e nunca desejou a riqueza; o mosteiro que fundou não foi adiante; a cruzada, pela qual tanto rezou, falou e escreveu, não aconteceu; a união dos cristãos continuou sendo um problema, mesmo depois de sua morte; a reforma da Igreja, nos moldes que ela propunha, continua e continuará sendo uma santa aspiração. Mas em tudo isto Catarina deixou um grande exemplo: o exemplo de sua dedicação total, do seu total amor.

 

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