“La verrue” (a verruga), de Françoise Rey, apresenta um romance dentro de outro. O “principal” é uma série de cartas que uma mulher casada manda para seu amante, também casado. No meio delas é enviado um livro que ela está escrevendo, contando a história da “verruga” propriamente dita. Nesta história dentro da história, a própria verruga de uma mulher – instalada desde a infância, ao lado do olho – se queixa da crueldade com que é tratada: devido ao desejo do amante a mulher, que nunca se incomodou com a tal verruga (ou “molusco”, como é chamada às vezes), deseja retirá-la. Com o tom da farsa que tal história requer, Françoise Rey chega a criar um julgamento no livro – com promotoria, discurso de defesa e juiz – para decidir a sorte da verruga.
Num dos muitos aspectos fascinantes do livro, a escritora das cartas debocha para seu amante das queixas do seu “molusco”. Outro aspecto interessante de “A verruga” é a maestria com que Françoise Rey junta, aos poucos e de maneira inesperada, as duas histórias do seu romance. Mas a grande qualidade do livro é a descrição da entrega pessoal da autora das cartas e a beleza inesperada da história de sexo – e de amor, por que não? – que ela e seu amante vivem juntos.
Tudo parece indicar que este ótimo “A verruga” é um livro autobiográfico. Se é o caso, mulher de coragem esta Françoise Rey.
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